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Quem agüenta ver "Lost" até o fim, em 2010?
Especialistas explicam por que acham que a série, um dos maiores fenômenos da TV, vai segurar (ou não) a audiência
Boninho ("BBB') e Fernando Bonassi ("Carandiru') botam fé no sucesso; para autores como Marçal Aquino e Di Moretti, vai fracassar
SYLVIA COLOMBO
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Até quando vai dar para
agüentar o autoritarismo do
doutor Jack, as ironias espertinhas do malandro Sawyer, as
dissimulações da misteriosa
Kate e as armações do vilão (vilão?) Ben? Mais grave, como os
roteiristas de "Lost" vão conseguir amarrar todas os mistérios
que inventaram para construir
este que é um dos maiores fenômenos da televisão hoje?
Pois não é tão cedo que os
lostmaníacos vão poder dormir
em paz. A rede norte-americana ABC anunciou que o seriado
terá ainda mais 48 episódios,
distribuídos por três temporadas, e que só terminará mesmo
em... 2010. Será que dá para
agüentar até lá?
Muita gente já desencanou.
Esperar mais três anos para saber por que o vôo 815 da Oceanic caiu na ilha misteriosa, ex-sede de um projeto científico
hoje tomada por uma espécie
de seita, parece tempo demais.
Por outro lado, é uma tentação e tanto manter vivas as esperanças do charmoso grupo
de sobreviventes que conquistou audiência cativa no mundo.
Estariam os roteiristas de
"Lost" ousando muito ao buscar uma fórmula de sucesso de
tão longo prazo? Ou seriam eles
os desbravadores de uma nova
forma de construir narrativas?
"Querer esticar uma idéia
original de sucesso é condená-la ao fiasco. A tendência natural
é que ela se dilua. Logo eles terão de inventar "barrigas" [formas de esticar a história], o fôlego vai se perdendo. E é aí que
começam as apelações", diz
Marçal Aquino, de "O Invasor".
Mas será que não há uma arte
nascendo justamente nessa tarefa de inventar "barrigas" bem
argumentadas? Para Fernando
Bonassi ("Carandiru"), "Lost" é
revolucionária. "A série traz
uma libertação para os roteiristas. Qualquer entidade mística,
personagem esquisito, trama
mágica, passa a valer desde que
tenha consistência dramatúrgica", diz o autor, que vê um aspecto "pedagógico" na série.
"Ela pode nos ensinar uma nova forma de contar histórias."
Há quem veja riscos nessa tal
"revolução". "Pode ser bom para o mercado que os roteiristas
tenham mais liberdade e sejam
mais valorizados. Mas é preciso
não esquecer que uma obra
tem de ser algo acabado, com
começo, meio e fim", diz o roteirista Di Moretti ("Latidude
Zero"). Para ele, o desgaste de
"Lost" é fato consumado. "Já
desisti de assistir; a idéia original vai se descaracterizar, e a
tendência é que os personagens
passem a ser pouco críveis."
Aquino acha que a liberdade
dos roteiristas tem um limite, o
da audiência. ""Lost" é o coroamento de um processo que já se
vê na TV em que o público determina o destino da trama e o
autor anda a reboque."
Estratégias
O diretor-geral do "Big Brother Brasil", Boninho, acha que
"Lost" "segura" até 2010, mas
não acredita que vá criar tendências. "Trata-se de um formato único, desenvolvido durante a sua exibição. Dificilmente veremos outro seriado
tão cheio de supostos rumos e
mudanças radicais, sem um determinado fim. É uma grande
brincadeira entre autores e telespectadores que deu certo."
Para Cao Hamburger, diretor
da série "Filhos do Carnaval",
"Lost" não é "tão inovadora".
"A narrativa guarda semelhança com alguns jogos de videogame ou talvez RPG. É mais um
truque ilusionista bem aplicado, e às vezes me parece uma
grande farsa, no bom sentido."
Para o novelista da Record
Marcílio Moraes ("Vidas Opostas"), o que está segurando o
público não é a solução, mas o
problema. "Arrisco dizer que,
enquanto eles conseguirem
propor novos mistérios, a narrativa se sustenta."
Para Moraes, "Lost" joga
com o público de forma semelhante às novelas. "Você trabalha com mistérios. Soluciona
alguns enquanto propõe outros. O segredo do sucesso, numa narrativa assim, é esconder
mais do que mostrar. A solução
do mistério pouco importa."
O crítico de cinema da Folha
Cássio Starling Carlos, autor de
"Em Tempo Real", sobre séries
americanas, acredita que seja
grande o risco de os telespectadores se cansarem até 2010.
"Uma série de enigma, como
"Lost", tende a ter longevidade
menor do que a de histórias focadas em personagens, que pode ser mais desenvolvido em
tramas e subtramas", diz.
Já para a escritora Fernanda
Young, tudo não passa de oportunismo de mercado. "É claro
que dá para enganar o público
até 2010. Dá para enganar o
tempo que se quiser. A alternativa de uma solução mágica faz
com que tudo seja possível. Essa seqüência de invenções para
alimentar mistérios não passa
de uma grande bobajada."
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