São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 2011

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cinema

CRÍTICA COMÉDIA

País idílico contamina filme sobre amizade improvável

"Minhas Tardes com Margueritte" ignora problemas sociais da França atual

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Com "Minhas Tardes com Margueritte", Jean Becker produz uma visão ao mesmo tempo idealizada e real da França.
Idealizada porque existe ali esse tipo de doçura que sempre queremos atribuir a esse país, essa "douce France" a que se refere uma clássica canção. E real porque de algum modo essa idealização não acontece assim à toa.
Ali, Germain (Gérard Depardieu), homem grosseiro, encontra numa praça Margueritte (Gisèle Casadesus), bem mais velha que ele.
Margueritte começa a ler trechos de um livro ("A Náusea", de Camus). Germain, que desde a infância tem dificuldade para a leitura, de imediato compreende o texto. O mundo dos livros abre-se para Germain.
A senhora, que vive em uma casa de repouso para idosos, passa a ler regularmente para o homem.
Ele, por sua vez, começa a usar algumas palavras que seu círculo de amigos está longe de conhecer. Eis aí para a apologia da literatura: ela aproxima as pessoas, produz conhecimento dos objetos e dos sentimentos.
A leitura é, de certo modo, o orgulho da França -e aqui se encontra plenamente justificada: ela é, no mais, algo que aproxima as pessoas independentemente de sua história, de suas origens, de suas limitações.
No mais, esse encontro pode comover, justamente por aproximar pessoas muito distantes entre si. Algo como uma versão francesa de "Pão e Tulipas": promessa de um êxito sentimental junto a um público pequeno, mas certo.

O PASSADO
No entanto, essa França que Becker nos apresenta, pode-se questionar, será a mesma de "Entre os Muros da Escola", por exemplo?
Aqui, Germain é, na infância apresentada em flashbacks, um garoto gordinho e incapaz de ler corretamente, castigado e humilhado pelo tirânico professor.
Esse mundo, que talvez já tenha existido, não é o de hoje. Os problemas que se apresentam são de bem outra natureza, no campo da leitura inclusive.
As relações idílicas entre os personagens, de que nos falam, a rigor? Imigrantes e franceses privam do mesmo bar, das mesmas diversões e ideias, como irmãos. Não é bem o que nos diz a popularidade do Front National, o partido de extrema-direita.
Talvez seja o desejo de Jean Becker que, aqui, impõe-se sobre esse dado de realidade. Mas o desejo pode muito bem exprimir uma realidade profunda. A ver os próximos capítulos.

MINHAS TARDES COM MARGUERITTE

DIREÇÃO Jean Becker
PRODUÇÃO França, 2010
COM Gérard Depardieu e Casadesus Gisèle
ONDE nos cines Sabesp, Espaço Unibanco Augusta, Reserva Cultural e circuito
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular


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