|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RELÂMPAGOS
Praça da Alfândega
JOÃO GILBERTO NOLL
Num domingo à tarde fui
receber as cinzas portuguesas de minha mãe. Que morrera em Lisboa, na madrugada do Divino. Atravessei a
praça da Alfândega, centro
de Porto Alegre, todo enregelado por um vento que me
tangia justamente na direção
do cais. Àquela hora, bem
deserto. Não desolado como
hoje. O navio apitava puxado, como se já tivesse pouco
de si para extrair. Entrei por
seus escuros corredores, à
procura da urna que eu deveria enterrar antes de escurecer. Aberta a porta de uma
cabine. A pequena caixa. Exposta sobre a mesa. Um homem ao lado, meio sentinela.
Na caixa pousei a mão. Sobre
a minha veio a dele, fria.
Texto Anterior: Herkenhoff vai para o MoMA Próximo Texto: Televisão: "Linha Direta" não quer repetir episódio do "maníaco do parque" Índice
|