São Paulo, Quinta-feira, 27 de Maio de 1999
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RELÂMPAGOS
Praça da Alfândega

JOÃO GILBERTO NOLL

Num domingo à tarde fui receber as cinzas portuguesas de minha mãe. Que morrera em Lisboa, na madrugada do Divino. Atravessei a praça da Alfândega, centro de Porto Alegre, todo enregelado por um vento que me tangia justamente na direção do cais. Àquela hora, bem deserto. Não desolado como hoje. O navio apitava puxado, como se já tivesse pouco de si para extrair. Entrei por seus escuros corredores, à procura da urna que eu deveria enterrar antes de escurecer. Aberta a porta de uma cabine. A pequena caixa. Exposta sobre a mesa. Um homem ao lado, meio sentinela. Na caixa pousei a mão. Sobre a minha veio a dele, fria.


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