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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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DOCUMENTÁRIO

Nouvelle vague exibe suas várias faces

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

"O sucesso inicial da nouvelle vague se deveu a um mal-entendido. O fracasso é a sua verdade", declara um ainda jovem Jacques Rivette no documentário "A Nouvelle Vague por Ela Mesma", atração da TV Cultura.
Mais uma pérola da série "Le Cinéma de Notre Temps", uma preciosa iniciativa do crítico André Labarthe e da viúva do grão-mestre da nouvelle vague André Bazin, Janine, o documentário foi filmado em março de 1964, momento em que a nova vaga do cinema francês começava a refluir sob o peso de sucessivos fracassos de público.
Das centenas de jovens cineastas que haviam se lançado na onda do movimento, restaram, poucos anos depois, apenas dez para contar a história. Estes começam, em seu relato, lembrando o breve período em que, havendo certa sincronia entre uma nova idéia do cinema e o desejo de uma geração de se ver devidamente retratada nas telas, os primeiros filmes da geração, realizados na marra, serviram de espelho para o "mal da juventude" francesa do pós-guerra, para aquela nouvelle vague das revistas, reconhecida, antes de tudo, como um fenômeno sociológico. Nascia então, dessa feliz e temporária coincidência, uma nova mitologia dos tempos modernos.
Bomba que estourou em território inimigo, o Festival de Cannes (1959), berço da "tradição de qualidade" do cinema francês, contra a qual se insurgiam os novos diretores, a nouvelle vague do cinema, forjada na Cinemateca do mestre Henri Langlois (com justiça, o primeiro a falar no filme), era um fenômeno de ruptura que se dissociaria, cedo ou tarde, do grande público e daqueles produtores para os quais representou, de início, um lucrativo negócio de risco.
Era também um fenômeno até certo ponto sincrético em seu cineclubismo de base, como nos faz lembrar o depoimento dos cineastas no documentário: há Jacques Demy e o lado neohollywoodiano da nouvelle vague, Rivette e o legado rosselliniano, Agnès Varda e o lado nouveau roman, Jacques Rozier e a leveza e espontaneidade televisivas, Georges Franju e a tendência à pré-elaboração intelectual, Claude Chabrol e o arrivismo pragmático, Godard, sua índole polifônica e desconstrutiva, sua verve lúdico-cinefílica, e Truffaut com uma história de vida que encarna, como poucas, os desígnios de toda uma geração que, tendo-se apartado dos pais, conheceu o mundo e a vida a partir do cinema.


A Nouvelle Vague por Ela Mesma    
Quando: hoje, às 23h30, na TV Cultura.



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