São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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"Amélie Poulain" retorna como golpista

Francesa Audrey Tautou troca a candura de personagem que a consagrou por arrivismo na comédia "Amar...Não Tem Preço'

Atriz mais bem paga da França diz estar aberta a Hollywood e se prepara para incorporar a estilista Coco Chanel em cinebiografia

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Amélie Poulain se cansou de desfilar sua candura pelas ruelas do bairro parisiense de Montmartre. Deixou o cabelo crescer, tirou do armário caras, bocas e poses de mulher fatal e mandou-se para a ensolarada Côte d'Azur (sudeste francês) atrás de algum ricaço disposto a lhe cobrir de mimos de seis ou sete dígitos.
Quem teve de se haver com a mudança de ares foi a atriz Audrey Tautou, 31. Projetada internacionalmente em 2001 no papel da altruísta Amélie, ela encarna, na comédia romântica "Amar...Não Tem Preço", Irène, uma, digamos, "maria-suíte presidencial" -que dá plantão em lobbies e piano-bares de hotéis cinco estrelas à espera de milionários desavisados. Lançado na França em 2006, o filme estréia por aqui hoje.
Na história, Irène acredita que o barman Jean (Gad Elmaleh) é um endinheirado e dá o bote. Apaixonado, o rapaz adere à mise-en-scène. Mas o radar da companheira logo acusa que se trata de um pé-rapado.
Em entrevista por telefone à Folha, de Paris, Tautou relativizou a vilania de Irène:
"Compreendo a personagem. É claro que os métodos que utiliza para dar conta da fascinação por luxo não são dos mais honestos e fazem dela uma mentirosa e manipuladora profissional. Mas, ao mesmo tempo, seu desejo de viver nesse universo é puro, sincero. Ela não é má, não vai matar ninguém para herdar a fortuna. Tampouco é uma prostituta. O que deseja é evoluir nesse mundo de dinheiro, no qual tem a impressão de ser única e de que poderá realizar seu sonho de princesa, ainda que o príncipe não seja tão charmoso quanto o dos contos de fada".
Atriz mais bem paga do cinema francês, segundo o jornal "Le Figaro" (cachê de 1 milhão por filme, cerca de R$ 2,5 milhões), Tautou preferiu não surfar na onda do sucesso de "Amélie". De 2004 para cá, em média, tem atuado num só título por ano.
"Não sou uma workaholic. Precisava recuperar as forças, me reencontrar com minha vida, minha família, meus amigos. Há muita coisa fora dessa profissão que me interessa. Seria muito infeliz se tivesse de enfileirar trabalhos. Para mim, é muito importante me dar o tempo que não tenho durante uma filmagem", diz Tautou.

Coco Chanel
No fim do verão europeu, a atriz deve regressar aos sets para protagonizar uma cinebiografia da estilista Coco Chanel (1883-1971). Na pele de outra figura proeminente da cultura francesa do século 20, a cantora Édith Piaf (1915-1963), sua compatriota Marion Cotillard recebeu neste ano um Oscar -numa cerimônia que viu outra estatueta ser destinada aos maquiadores de "Piaf", além de indicações para os conterrâneos "Persépolis" e "O Escafandro e a Borboleta". O que Tautou acha desse namoro de Hollywood com a francofonia?
"De fato, houve uma conjunção de circunstâncias favoráveis, pois trata-se de uma indústria em que é difícil existir, achar um lugar para si. Mas não sei se é o início de um longo e fiel amor ou uma paixão de ocasião, como houve, por exemplo, com "Amélie'", afirma, cheia de reticências, quem dividiu a tela com Tom Hanks na adaptação de "O Código Da Vinci" (2006), de Ron Howard. "Ficaria muito feliz de fazer um outro filme com um diretor americano, mas depende do realizador e do roteiro. [Hollywood] Não é o lugar em que se situa a produção que mais me interessa quando faço escolhas."
Escolhas que, cada vez mais, tem questionado. "Sinto que preciso me expressar de outra forma que não como atriz. Não sei exatamente como será. Não acho que teria a técnica para escrever um roteiro ou dirigir. Quero descobrir outros horizontes", divaga. Ao contrário da personagem que a fez conhecida, Tautou parece ainda ter um fabuloso destino a cumprir.


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