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"Amélie Poulain" retorna como golpista
Francesa Audrey Tautou troca a candura de personagem que a consagrou por arrivismo na comédia "Amar...Não Tem Preço'
Atriz mais bem paga da França diz estar aberta a Hollywood e se prepara para incorporar a estilista Coco Chanel em cinebiografia
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Amélie Poulain se cansou de
desfilar sua candura pelas ruelas do bairro parisiense de
Montmartre. Deixou o cabelo
crescer, tirou do armário caras,
bocas e poses de mulher fatal e
mandou-se para a ensolarada
Côte d'Azur (sudeste francês)
atrás de algum ricaço disposto a
lhe cobrir de mimos de seis ou
sete dígitos.
Quem teve de se haver com a
mudança de ares foi a atriz Audrey Tautou, 31. Projetada internacionalmente em 2001 no
papel da altruísta Amélie, ela
encarna, na comédia romântica
"Amar...Não Tem Preço", Irène, uma, digamos, "maria-suíte
presidencial" -que dá plantão
em lobbies e piano-bares de hotéis cinco estrelas à espera de
milionários desavisados. Lançado na França em 2006, o filme estréia por aqui hoje.
Na história, Irène acredita
que o barman Jean (Gad Elmaleh) é um endinheirado e dá o
bote. Apaixonado, o rapaz adere à mise-en-scène. Mas o radar
da companheira logo acusa que
se trata de um pé-rapado.
Em entrevista por telefone à
Folha, de Paris, Tautou relativizou a vilania de Irène:
"Compreendo a personagem.
É claro que os métodos que utiliza para dar conta da fascinação por luxo não são dos mais
honestos e fazem dela uma
mentirosa e manipuladora profissional. Mas, ao mesmo tempo, seu desejo de viver nesse
universo é puro, sincero. Ela
não é má, não vai matar ninguém para herdar a fortuna.
Tampouco é uma prostituta. O
que deseja é evoluir nesse mundo de dinheiro, no qual tem a
impressão de ser única e de que
poderá realizar seu sonho de
princesa, ainda que o príncipe
não seja tão charmoso quanto o
dos contos de fada".
Atriz mais bem paga do cinema francês, segundo o jornal
"Le Figaro" (cachê de 1 milhão por filme, cerca de R$ 2,5
milhões), Tautou preferiu não
surfar na onda do sucesso de
"Amélie". De 2004 para cá, em
média, tem atuado num só título por ano.
"Não sou uma workaholic.
Precisava recuperar as forças,
me reencontrar com minha vida, minha família, meus amigos. Há muita coisa fora dessa
profissão que me interessa. Seria muito infeliz se tivesse de
enfileirar trabalhos. Para mim,
é muito importante me dar o
tempo que não tenho durante
uma filmagem", diz Tautou.
Coco Chanel
No fim do verão europeu, a
atriz deve regressar aos sets para protagonizar uma cinebiografia da estilista Coco Chanel
(1883-1971). Na pele de outra figura proeminente da cultura
francesa do século 20, a cantora
Édith Piaf (1915-1963), sua
compatriota Marion Cotillard
recebeu neste ano um Oscar
-numa cerimônia que viu outra estatueta ser destinada aos
maquiadores de "Piaf", além de
indicações para os conterrâneos "Persépolis" e "O Escafandro e a Borboleta". O que Tautou acha desse namoro de
Hollywood com a francofonia?
"De fato, houve uma conjunção de circunstâncias favoráveis, pois trata-se de uma indústria em que é difícil existir,
achar um lugar para si. Mas não
sei se é o início de um longo e
fiel amor ou uma paixão de ocasião, como houve, por exemplo,
com "Amélie'", afirma, cheia de
reticências, quem dividiu a tela
com Tom Hanks na adaptação
de "O Código Da Vinci" (2006),
de Ron Howard. "Ficaria muito
feliz de fazer um outro filme
com um diretor americano,
mas depende do realizador e do
roteiro. [Hollywood] Não é o
lugar em que se situa a produção que mais me interessa
quando faço escolhas."
Escolhas que, cada vez mais,
tem questionado. "Sinto que
preciso me expressar de outra
forma que não como atriz. Não
sei exatamente como será. Não
acho que teria a técnica para escrever um roteiro ou dirigir.
Quero descobrir outros horizontes", divaga. Ao contrário da
personagem que a fez conhecida, Tautou parece ainda ter um
fabuloso destino a cumprir.
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