|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica
Sem inovar, comédia romântica faz leitura às avessas da luta de classes
CRÍTICO DA FOLHA
Depois de décadas servindo de cenário, a
França resolveu se
apropriar do gênero "comédia
romântica passada na Riviera",
do qual os americanos já são
mestres há muito mais tempo.
Como em "Quatro Estrelas",
recentemente exibido aqui,
"Amar... Não Tem Preço" usa e
abusa da fauna "rica e charmosa" na busca de mimetizar seu
poder de encantamento.
Dirigido por Pierre Salvadori, segundo a crítica francesa
um diretor especializado em
comédias inspiradas naquelas
que o genial alemão Ernst Lubitsch realizou nos EUA,
"Amar..." narra as aventuras de
uma golpista que se envolve
com um pobretão.
O esquema básico segue o
das "comédias de recasamento", nas quais um casal se conhece, se junta, briga feito cão e
gato para, ao fim, se reencontrar nos braços da felicidade.
A eficiência desse esquema
depende em grande medida do
sabor dos diálogos e da graça
extraída das situações, além de
um par de atores que pareça ter
nascido para os papéis.
Como biscate de luxo, Audrey Tautou prova que conseguiu sobreviver à imagem de
bonequinha de porcelana de
"Amélie Poulain" e encarna
uma personagem sedutora e
perversa, uma versão de Audrey Hepburn com decotes
mais generosos. Gad Elmaleh
complementa a dupla com sua
figura burlesca e desajeitada.
À química do par se integra o
jogo amoralista das conquistas,
em que as vítimas, gente madura, rica e entediada, são escolhidas como alvos por jovens
atraentes e pragmáticos, numa
leitura às avessas da luta de
classes. Sem avançar nem um
palmo além da superfície em
que se joga o jogo da sedução, o
filme se contenta em acompanhar a dança das aparências.
Do conjunto, o filme de Salvadori alcança ares de qualidade, sem nunca, porém, se arriscar a subverter seu material como o cinema francês ousava fazer quando convertia o clássico
em moderno.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
AMAR... NÃO TEM PREÇO
Produção: França, 2006
Direção: Pierre Salvadori
Com: Audrey Tautou, Gad Elmaleh
Onde: estréia hoje, nos cines Bombril,
iG e circuito; classificação: 12 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: "Amélie Poulain" retorna como golpista Próximo Texto: Frases Índice
|