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Festa de vaidades
Com um time
de autores convidados enxuto, mais midiático e menos literário, a 7ª Flip começa na quarta-feira
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
Um cantor, um biólogo, um
historiador superstar, um jornalista da velha-guarda, um crítico de música erudita, uma artista plástica, uma crítica de arte, vários quadrinistas.
A Festa Literária Internacional de Paraty, que chega à sua
sétima edição na próxima quarta-feira, está menos literária?
O diretor de programação
Flávio Moura discorda. "Essa é
uma característica da Flip desde o início", disse. "Quem pensa
na primeira edição (2003) logo
se lembra de Eric Hobsbawm,
que era historiador. A Flip tem
o caráter de uma festa dos livros, é um evento cultural."
Optar por nomes que se notabilizaram fora do mundo literário talvez seja a forma de
compensar a falta de estrelas da
literatura. Certo, o português
António Lobo Antunes fará
uma visita histórica. Mas é o
único ficcionista que pode-se
dizer com carreira de peso. E é
mais famoso no resto do mundo lusófono do que no Brasil.
Anne Enright, Edna O'Brien
e James Salter são nomes premiados e reconhecidos. Mas estão longe do status de estrelas
de primeira grandeza que já caminharam pelas ruas da cidade
histórica, como Ian McEwan,
J.M.Coetzee, Orhan Pamuk,
Salman Rushdie, Toni Morrison, Nadine Gordimer, Paul
Auster e Martin Amis.
Fogueira das vaidades
Se não representa propriamente o primeiro time dos romancistas contemporâneos, a
seleção 2009 inclui nomes
acostumados à fama que prometem mobilizar muitos fãs.
Estarão na festa nomes acostumados a viajar para falar a
grandes públicos, que têm experiência em fazer debates-show e são recebidos com muita festa e atenção midiática.
Chicólatras não vão perder a
segunda participação do cantor
Chico Buarque na Flip (a outra
foi em 2004).
Para quem é chegado em
ciência, o neodarwinista Richard Dawkins desembarca
embalado pelas comemorações
do bicentenário de nascimento
de Charles Darwin. Explicará
seu ceticismo com a religião.
Simon Schama, historiador
pop e divulgador científico de
sucesso na BBC, fala sobre os
EUA da era Obama. Gay Talese,
um dos papas do "new jornalism", discorre sobre literatura
e sobre o futuro do jornalismo.
Uma mesa que promete é a
do casal encrenca: a artista
plástica Sophie Calle e o jornalista Grégoire Bouillier, ex-namorados, usam suas vidas privadas como fonte para prosas
experimentais.
A crítica de arte Catherine
Millet também deve fazer barulho -foi ela quem escandalizou a França com os relatos
pornoconfessionais de "A Vida
Sexual de Catherine M.", que
vendeu mais de 1,2 milhão de
exemplares.
Os fãs de HQ poderão ouvir
os quadrinistas Fábio Moon,
Gabriel Bá, Rafael Grampá e
Rafael Coutinho. Críticos do
regime comunista e radicados
no exterior, Ma Jian e Xinran
discutem o futuro da China.
Para quem gosta de música
erudita, o crítico da "New Yorker", Alex Ross, fecha o time.
E, para lembrar que a festa
também é literária, vale comentar o nome forte que deve
defender a honra dos ficcionistas: António Lobo Antunes,
que há mais de 25 anos não
vem ao país. Polêmico, considera José Saramago um rival.
Menos autores
Sobre a diminuição do número de convidados (de 42 para
33), Moura diz que isso aconteceu apenas para abrigar melhor
nomes consagrados, como Richard Dawkins -que fazem
aparição-solo em suas mesas.
A Flip conseguiu projeção internacional pelas estrelas que
frequentaram suas primeiras
edições. Mas já entrou na agenda dos festivais literários internacionais? Influencia escritores, editores e agentes?
O agente literário Andrew
Wylie, famoso por cuidar de autores como Philip Roth, diz que
os escritores "adoram a Flip".
Anne-Solange Noble, diretora de direitos estrangeiros da
editora Gallimard, diz que ouve
falar do festival há bastante
tempo, principalmente "pelos
amigos ingleses", por causa da
importância da fundadora Liz
Calder. "Mas a Flip é conhecida
sobretudo no mundo anglo-saxão. Se o festival deseja se desenvolver de uma forma realmente internacional, deve ficar
aberto ao mundo "não" anglo-saxão." Pura vaidade gaulesa.
Para a fundadora Liz Calder,
que atualmente tem um papel
de colaboradora e uma espécie
de "cartão de visitas" da Flip, a
festa "é respeitada porque
aqueles que já participaram falam dela de forma calorosa".
Segundo ela, Tom Stoppard, a
estrela de 2008, "disse que recomendaria a Flip a todos os
seus amigos". Ela lembra que
algumas pessoas "diziam que o
Brasil é muito distante e perigoso. Isso foi um problema no
início, mas diminuiu".
Orçamento
Apesar do momento econômico difícil e da diminuição dos
convidados, não se fala em crise. O diretor-geral da Flip,
Mauro Munhoz, diz que o custo
do evento será parecido com o
de anos anteriores -cerca de
R$ 3 milhões. Moura diz que
"nenhuma questão orçamentária bateu na programação".
A Casa Azul, ONG que organiza a Flip, planeja reformar a
praça da Matriz. A ideia é construir bancos e rampas de acesso, enquanto parte do piso será
cimentado. Para o projeto, já foi
aprovada a captação de R$ 900
mil pela Lei Rouanet.
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