|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Curadoria seleciona obras da brasileira Valéria Américo e de mexicana que falsifica carteiras de estudante
Bienal no Ceará quer "terrorismo" artístico
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se os 60 artistas a serem selecionados para a Bienal Ceará América, que acontecerá em Fortaleza,
realizarem trabalhos semelhantes
aos da mexicana Minerva Cuevas,
umas das já indicadas, o evento
deve causar controvérsia na capital cearense.
Uma das obras de Cuevas, fundadora do grupo Mejor Vida
Corp., é trocar os códigos de barra
em produtos de supermercados
por valores bem abaixo do usual.
Ou então a mexicana, por meio de
seu site na internet (www.e-flux.com/projects/mvc/), produz carteiras de estudantes, mesmo a quem não o seja, garantindo acesso mais barato a museus e outras instituições. Ela ainda falsifica bilhetes de metrô, que de fato funcionam e são distribuídos gratuitamente.
"Esse é o tipo de obra que considero adequado para a Bienal, pois
tem um espírito de terrorismo artístico", afirma à Folha o belga
Philippe van Cauteren, curador-assistente do evento.
Cauteren está em São Paulo desde quinta-feira para selecionar artistas para a Bienal, que será inaugurada no dia 13 de dezembro e
trata da arte contemporânea no
continente americano. Ele é assistente do também belga Jan Hoet,
com quem trabalha desde 1995.
No próximo ano, foram convidados para serem curadores da Bienal de Lyon.
Por enquanto, há apenas dois
brasileiros definidos, ambos do
Ceará: Valéria Américo e o grupo
Alpendre. O grupo mais representativo, até o momento, é do
mexicanos: Erick Beltran, Gustavo Artigas, Santiago Sierra, a incendiária Cuevas e o belga Francis
Alys, que vive na capital mexicana. De Cuba, foram escolhidos
Henry Erick e Carlos Garaicoa
(que participa da Documenta de
Kassel). Finalmente, Cauteren cita ainda Anita di Bianco, videoartista italiana, que vive em Nova
York.
"Hesitamos em aceitar o convite, pois há tantas bienais no mundo que parecia descabido criar
mais uma, mas, após visitar a cidade, que não pertence ao eixo
Rio-São Paulo, vimos que há uma
demanda local por eventos desse
gênero", diz o curador-assistente.
Foi a partir da configuração da
própria cidade que os curadores
definiram o tema da Bienal. "Claramente, Fortaleza vive duas velocidades: a da praia e a da cidade. A
primeira é voltada ao lazer e, de
certa forma, à utopia, enquanto a
segunda é mais pragmática. Pretendemos selecionar artistas que
abordem essas duas velocidades",
diz Cauteren.
Obras com caráter político, como as de Cuevas, também são um
critério importante na seleção.
"Mas a política que não seja redutora, afinal toda boa obra de arte
deve ser política", afirma.
Após São Paulo, Cauteren continua a busca por artistas no Ceará, Rio de Janeiro e Salvador, além
de visitar vários outros países, da
Argentina aos Estados Unidos.
Esta será a primeira edição da Bienal Ceará América, idealizada por
José Guedes, diretor do Museu de
Arte Contemporânea do Centro
Dragão do Mar. Com orçamento
de R$ 3 milhões, segundo Antônio de Pádua Araújo, presidente
do Dragão do Mar, a Bienal irá
inaugurar novos espaços culturais na cidade.
"Além do próprio Dragão, dois
galpões da rede ferroviária, no
centro da cidade, serão reformados. Eles serão denominados Estação Bienal e utilizados como
centro cultural", diz Araújo, por
telefone. Casarões em torno do
Dragão do Mar também devem
ser utilizados.
Texto Anterior: Parada: The Vines alcança 11º lugar na "Billboard" Próximo Texto: Erudito: "Madama Butterfly", de Puccini, estréia hoje no Municipal do Rio Índice
|