São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Curadoria seleciona obras da brasileira Valéria Américo e de mexicana que falsifica carteiras de estudante

Bienal no Ceará quer "terrorismo" artístico

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se os 60 artistas a serem selecionados para a Bienal Ceará América, que acontecerá em Fortaleza, realizarem trabalhos semelhantes aos da mexicana Minerva Cuevas, umas das já indicadas, o evento deve causar controvérsia na capital cearense.
Uma das obras de Cuevas, fundadora do grupo Mejor Vida Corp., é trocar os códigos de barra em produtos de supermercados por valores bem abaixo do usual. Ou então a mexicana, por meio de seu site na internet (www.e-flux.com/projects/mvc/), produz carteiras de estudantes, mesmo a quem não o seja, garantindo acesso mais barato a museus e outras instituições. Ela ainda falsifica bilhetes de metrô, que de fato funcionam e são distribuídos gratuitamente.
"Esse é o tipo de obra que considero adequado para a Bienal, pois tem um espírito de terrorismo artístico", afirma à Folha o belga Philippe van Cauteren, curador-assistente do evento.
Cauteren está em São Paulo desde quinta-feira para selecionar artistas para a Bienal, que será inaugurada no dia 13 de dezembro e trata da arte contemporânea no continente americano. Ele é assistente do também belga Jan Hoet, com quem trabalha desde 1995. No próximo ano, foram convidados para serem curadores da Bienal de Lyon.
Por enquanto, há apenas dois brasileiros definidos, ambos do Ceará: Valéria Américo e o grupo Alpendre. O grupo mais representativo, até o momento, é do mexicanos: Erick Beltran, Gustavo Artigas, Santiago Sierra, a incendiária Cuevas e o belga Francis Alys, que vive na capital mexicana. De Cuba, foram escolhidos Henry Erick e Carlos Garaicoa (que participa da Documenta de Kassel). Finalmente, Cauteren cita ainda Anita di Bianco, videoartista italiana, que vive em Nova York.
"Hesitamos em aceitar o convite, pois há tantas bienais no mundo que parecia descabido criar mais uma, mas, após visitar a cidade, que não pertence ao eixo Rio-São Paulo, vimos que há uma demanda local por eventos desse gênero", diz o curador-assistente.
Foi a partir da configuração da própria cidade que os curadores definiram o tema da Bienal. "Claramente, Fortaleza vive duas velocidades: a da praia e a da cidade. A primeira é voltada ao lazer e, de certa forma, à utopia, enquanto a segunda é mais pragmática. Pretendemos selecionar artistas que abordem essas duas velocidades", diz Cauteren.
Obras com caráter político, como as de Cuevas, também são um critério importante na seleção. "Mas a política que não seja redutora, afinal toda boa obra de arte deve ser política", afirma.
Após São Paulo, Cauteren continua a busca por artistas no Ceará, Rio de Janeiro e Salvador, além de visitar vários outros países, da Argentina aos Estados Unidos. Esta será a primeira edição da Bienal Ceará América, idealizada por José Guedes, diretor do Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar. Com orçamento de R$ 3 milhões, segundo Antônio de Pádua Araújo, presidente do Dragão do Mar, a Bienal irá inaugurar novos espaços culturais na cidade.
"Além do próprio Dragão, dois galpões da rede ferroviária, no centro da cidade, serão reformados. Eles serão denominados Estação Bienal e utilizados como centro cultural", diz Araújo, por telefone. Casarões em torno do Dragão do Mar também devem ser utilizados.



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