São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

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TEATRO

Festival de Rio Preto se dissemina dentro e fora da América

SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

"Nós somos como a mão direita e a esquerda". Assim falava a canção que na América ouvi, dita por Fransérgio Araújo, do Oficina, para os Satyros, que por sua vez reunia seus núcleos de São Paulo e Curitiba. Como a Cia. As Graças, de teatro de rua, os grupos apresentavam seus repertórios nesse Festival Internacional de Teatro de Rio Preto, que se encerrou no domingo. No meio termo entre a vitrine de novidades e o fomentador de inovações, a marca deste FIT é justamente esta: a da reunião de amigos.
Alguns problemas se tornaram mais claros neste ano, no entanto. Com um duplo comando da prefeitura e do Sesc, ocorreu a sobreposição de dois festivais: o tradicional, que busca estimular o teatro amador, o infantil e o de rua, selecionando propostas e convidando criadores, com uma ponta de paternalismo em seus debates/ julgamentos; e o que existe desde 2001, ganhando pelo Sesc o privilégio de ser o único festival internacional do Estado de São Paulo, e com o cuidado de promover após os espetáculos um espaço alternativo para performances e mesas redondas.
Esse gigantismo confunde. Um digno representante do amador, como "Tio Patinhas e o Teatro do Comprimido", da Cia. das Tripas ao Coração, empalidece muito ao lado da excelência do Teatro Petra, da Colômbia, que, com "A Mosca", deixou um gostinho do que poderia ter sido um grande encontro entre as Américas.
Para os grupos locais, fica a tentação das fórmulas prontas, como em "O Amor que Ousa Dizer seu Nome", do arrogante Ricardo Matioli, que contrasta com a bela simplicidade dos que dançaram o cotidiano da cidade Araçatuba em "Migrantes", da Stella Maris Cia de Dança, e os "Postais de Rio Preto" da Cia. Virtual.
Um pouco além, ousando se expor, nos moldes do intenso "Coisas Invisíveis" da Cia. Clara de Minas, a Cia. Ar-Cênico mostrou com seus "Sertões" que é para se guardar do lado esquerdo do peito: preciso e ousado, irreverente e sincero.
Com tanta coisa a organizar, apesar do empenho, as inadequações de tempo e espaço inviabilizaram muitas performances, além do ensaio dolorosamente aberto de "A Luta" do Teatro Oficina Uzyna Uzona (que honrou de todo modo sua presença com o monumento interativo que é os "Sertões").
Assim, a antológica Pat Oleszko, explosiva síntese americana de Carla Candiotto e Hugo Possolo, apenas deu amostras do que pode fazer, projetando vídeos de intervenções que fez em Roma e Nova York, quando poderia ter dialogado com a cidade, como já foi o caso de convidados estrangeiros em edições passadas.
No Bararena, venceu a delicadeza de "Páscoa", do Studio Stanislavski do Rio, e o "Há", dos jovens herdeiros de Renato Cohen, de São Paulo, provando que o despojamento é a conquista mais difícil. Por isso, a inesquecível "A Procissão", de Gero Camilo, tendo humildemente passado por seleção, foi estrela polar deste 4º FIT de Rio Preto.
Incoerente e múltiplo como a própria América, o festival atraiu em 11 dias cerca de 125 mil pessoas para 116 apresentações, de 62 peças, em palcos, espaços não-convencionais e praças da cidade. "Todos os ingressos disponibilizados foram vendidos", disse Renata Salvador, da coordenação geral.


Colaborou Valmir Santos, enviado especial a São José do Rio Preto

O jornalista Valmir Santos, o crítico Sergio Salvia Coelho e a fotógrafa Lenise Pinheiro viajaram a convite do festival



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