|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Festival de Rio Preto se dissemina dentro e fora da América
SERGIO SALVIA COELHO
ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
"Nós somos como a mão direita e a esquerda". Assim
falava a canção que na América
ouvi, dita por Fransérgio Araújo,
do Oficina, para os Satyros, que
por sua vez reunia seus núcleos de
São Paulo e Curitiba. Como a Cia.
As Graças, de teatro de rua, os
grupos apresentavam seus repertórios nesse Festival Internacional
de Teatro de Rio Preto, que se encerrou no domingo. No meio termo entre a vitrine de novidades e
o fomentador de inovações, a
marca deste FIT é justamente esta: a da reunião de amigos.
Alguns problemas se tornaram
mais claros neste ano, no entanto.
Com um duplo comando da prefeitura e do Sesc, ocorreu a sobreposição de dois festivais: o tradicional, que busca estimular o teatro amador, o infantil e o de rua,
selecionando propostas e convidando criadores, com uma ponta
de paternalismo em seus debates/
julgamentos; e o que existe desde
2001, ganhando pelo Sesc o privilégio de ser o único festival internacional do Estado de São Paulo,
e com o cuidado de promover
após os espetáculos um espaço alternativo para performances e
mesas redondas.
Esse gigantismo confunde. Um
digno representante do amador,
como "Tio Patinhas e o Teatro do
Comprimido", da Cia. das Tripas
ao Coração, empalidece muito ao
lado da excelência do Teatro Petra, da Colômbia, que, com "A
Mosca", deixou um gostinho do
que poderia ter sido um grande
encontro entre as Américas.
Para os grupos locais, fica a tentação das fórmulas prontas, como
em "O Amor que Ousa Dizer seu
Nome", do arrogante Ricardo
Matioli, que contrasta com a bela
simplicidade dos que dançaram o
cotidiano da cidade Araçatuba
em "Migrantes", da Stella Maris
Cia de Dança, e os "Postais de Rio
Preto" da Cia. Virtual.
Um pouco além, ousando se expor, nos moldes do intenso "Coisas Invisíveis" da Cia. Clara de
Minas, a Cia. Ar-Cênico mostrou
com seus "Sertões" que é para se
guardar do lado esquerdo do peito: preciso e ousado, irreverente e
sincero.
Com tanta coisa a organizar,
apesar do empenho, as inadequações de tempo e espaço inviabilizaram muitas performances,
além do ensaio dolorosamente
aberto de "A Luta" do Teatro Oficina Uzyna Uzona (que honrou
de todo modo sua presença com o
monumento interativo que é os
"Sertões").
Assim, a antológica Pat Oleszko,
explosiva síntese americana de
Carla Candiotto e Hugo Possolo,
apenas deu amostras do que pode
fazer, projetando vídeos de intervenções que fez em Roma e Nova
York, quando poderia ter dialogado com a cidade, como já foi o caso de convidados estrangeiros em
edições passadas.
No Bararena, venceu a delicadeza de "Páscoa", do Studio Stanislavski do Rio, e o "Há", dos jovens
herdeiros de Renato Cohen, de
São Paulo, provando que o despojamento é a conquista mais difícil.
Por isso, a inesquecível "A Procissão", de Gero Camilo, tendo humildemente passado por seleção,
foi estrela polar deste 4º FIT de
Rio Preto.
Incoerente e múltiplo como a
própria América, o festival atraiu
em 11 dias cerca de 125 mil pessoas para 116 apresentações, de 62
peças, em palcos, espaços não-convencionais e praças da cidade.
"Todos os ingressos disponibilizados foram vendidos", disse Renata Salvador, da coordenação
geral.
Colaborou Valmir Santos, enviado especial a São José do Rio Preto
O jornalista Valmir Santos, o crítico
Sergio Salvia Coelho e a fotógrafa Lenise Pinheiro viajaram a convite do festival
Texto Anterior: Dramaturgo se apóia em religião e tolerância Próximo Texto: Terror contra a arte: Artista dos EUA enfrenta acusação de bioterrorismo Índice
|