São Paulo, terça-feira, 27 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VISUAIS

Instituto Tomie Ohtake inaugura hoje retrospectiva de Anna Bella Geiger e instalação inédita de Ana Maria Tavares

Artistas mostram mundo visto do convés

JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As metáforas oceânicas não se esgotam nas exposições "Obras em Arquipélago" e "Enigmas de uma Noite com Midnight Daydreams (da série Dream Stations)", que são inauguradas hoje no Instituto Tomie Ohtake.
A primeira, uma retrospectiva de Anna Bella Geiger, explora a condição insular da artista no cenário da arte brasileira. Da produção conceitual dos anos 60 até trabalhos novos, a exposição evidencia a contemporaneidade desta produção que caminhou sempre à revelia da voga. As pinturas, por exemplo, que equacionam o telúrico a arquétipos e faturas diversas são "um esperanto pictórico assustador", afirma Adolfo Montejo Navas.
O curador espanhol pôs as gravuras viscerais dos anos 60 em frente às famosas obras em que a artista desconstrói geografias, como na série de objetos "Fronteiriços", para mostrar que a obsessão plástica com as cartografias é talvez o conceito central de sua trajetória, apesar de Anna Bella trabalhar com uma rica gama de elementos. "As ilhas estão unidas pelo que as separa."
O mar figura na instalação de Ana Maria Tavares de modo vertiginoso. Em um espaço de imersão que remete ao lounge de aeroporto, ao interior do ônibus e também a um deque de navio, confortáveis poltronas de ônibus leito convidam o espectador a vivenciar uma mescla da experiência de espaço público e privado. Deitado ou em pé, está mergulhado em um filme com imagens captadas nos anos 30 por um capitão da marinha mercante alemã. As imagens são projetadas em uma parede e refletidas por outra, coberta de espelhos.
Parte de uma produção conhecida por promover uma suspensão espaço-temporal que dilata o presente ("Relax'o'Visions", "Visiones Sedantes" etc.), "Enigmas de uma Noite" coloca em uma perspectiva completamente nova a obra de Ana Tavares. Não apenas por inserir a variável passado no léxico da artista, mas porque ressignifica a temática acerca da condição transitória que define o ser humano. Ao som de uma trilha randômica feita a partir de gravações do pregão da Bolsa de Mercadorias e Futuros, vemos que a passagem pelo mundo é, ao fim e ao cabo, muito solitária.


ANNA BELLA GEIGER E ANA MARIA TAVARES. Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, SP, tel. 0/xx/11/ 6844-1900). Quando: vernissage hoje, às 20h; de ter. a dom., das 11h às 20h; até 2/9. Quanto: entrada franca.


Texto Anterior: Terror contra a arte: Artista dos EUA enfrenta acusação de bioterrorismo
Próximo Texto: Fernando Bonassi: Paris? Texas?!
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.