São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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Gang of Four traz rock "politizado"

Criada há quase 30 anos, banda inglesa é atração principal do festival Campari Rock Tour, que passa por SP, BH e SC

Da linha de frente do pós-punk, grupo é uma forte referência para artistas atuais como Bloc Party, The Rapture e Franz Ferdinand


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Misturar música pop com política geralmente vira uma chatice. Veja algumas canções do U2, por exemplo. Ou todo o catálogo de Peter Gabriel. São poucos os que escapam do pedantismo e do lugar-comum. Seria fácil citar Bob Dylan, mas um exemplo bom e pontual são os ingleses Gang of Four.
Formada em Leeds em 1977, a banda vem ao Brasil no início de setembro, como atração principal do festival Campari Rock Tour, que passa por São Paulo (dia 6/9), Florianópolis (8/9) e Belo Horizonte (9/9). Será acompanhada do sueco Cardigans -o bom grupo cearense Montage se apresenta apenas em São Paulo.
Ao falar de Gang of Four hoje, dá-se atenção a duas características principais: o conteúdo político e social de suas letras e o fato de, 30 anos depois, finalmente estarem na moda.
"Quando aparecemos, a imprensa britânica dizia que éramos marxistas", relembra o guitarrista Andy Gill à Folha. "Nenhuma banda falava de problemas sociais tão claramente. Talvez o MC5... Mas não estávamos interessados em fazer propaganda de nenhum partido. Como banda, não queríamos levantar nenhuma bandeira específica ou promover o socialismo por meio da música, por exemplo. Escrevíamos sobre o que estava ao nosso redor, sobre a vida de outras pessoas, de algumas forças econômicas invisíveis", conta o músico.
Gill formou a banda com os colegas de faculdade Jon King (vocalista) e o baterista Hugo Burnham -o baixista Dave Allen foi contratado por meio de um anúncio. Até por falta de outra definição, o Gang of Four ficou conhecido como banda "politizada". "Acho que isso ocorre porque não são temas vistos em canções pop. As bandas normalmente cantam sobre relacionamentos, sobre amor, sexo etc., não dão muita importância às letras."
Esse engajamento é bem encontrado no primeiro disco, "Entertainment!", de 1979, e no segundo, "Solid Gold" (81). Margaret Thatcher, o capitalismo, as péssimas condições de trabalho no Reino Unido, Sartre, Walter Benjamin, Godard, tudo aparecia aqui e ali nas letras de canções como "Natural's Not in It", "Not Great Men", "Anthrax", "Cheeseburger", "Hole in the Wallet"... Todas devem estar nos shows brasileiros, "além de algumas dos discos posteriores, como "I Parade Myself'", diz Gill.
Se tanto na primeira fase da banda -entre 1977 e 1984, o auge do pós-punk- como nos discos que vieram com as formações seguintes o Gang of Four nunca recebeu do público em geral a mesma reverência dada pelos críticos, há dois ou três anos a banda está em todos os lugares.
Não é exagero. É nítida a influência do Gang of Four em gente como Franz Ferdinand, Bloc Party, The Rapture, Futureheads, The Rakes, Interpol, Radio 4... Todos eles, de uma forma ou de outra, emprestam algo dos timbres da guitarra de Gill, da crueza dos vocais de Jon King ou das batidas funkeadas do baixo de Dave Allen.
"Esse tipo de coisa acontece há algum tempo. O Red Hot Chili Peppers sempre disse que Gang of Four foi uma grande influência para eles. É que com essas novas bandas isso parece estar mais forte. Você ouve e pensa: "Nossa, isso soa exatamente como Gang of Four!". O Bloc Party é engraçado. Eles diziam: "Nunca ouvimos Gang of Four antes", o que, claro, é bizarro, não é verdade. Mas gosto de várias faixas dele, do Franz Ferdinand, Futureheads..."
Andy Gill chegou a produzir um disco dos Chili Peppers -o primeiro da banda, homônimo, de 1984. "Foi divertido às vezes, outras nem tanto", lembra. "Flea [baixista] e Anthony [Kiedis, vocalista] tomavam várias drogas. Eram jovens, não tinham experiência em estúdios. Eles me respeitavam e provavelmente achavam que eu iria curtir com eles, tomar várias drogas... Produzir um disco não é assim, é um trabalho duro. Não é glamouroso."


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