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Gang of Four traz rock "politizado"
Criada há quase 30 anos, banda inglesa é atração principal do festival Campari Rock Tour, que passa por SP, BH e SC
Da linha de frente do pós-punk, grupo é uma forte referência para artistas atuais como Bloc Party, The Rapture e Franz Ferdinand
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Misturar música pop com
política geralmente vira uma
chatice. Veja algumas canções
do U2, por exemplo. Ou todo o
catálogo de Peter Gabriel. São
poucos os que escapam do pedantismo e do lugar-comum.
Seria fácil citar Bob Dylan, mas
um exemplo bom e pontual são
os ingleses Gang of Four.
Formada em Leeds em 1977,
a banda vem ao Brasil no início
de setembro, como atração
principal do festival Campari
Rock Tour, que passa por São
Paulo (dia 6/9), Florianópolis
(8/9) e Belo Horizonte (9/9).
Será acompanhada do sueco
Cardigans -o bom
grupo cearense
Montage se apresenta apenas em
São Paulo.
Ao falar de Gang
of Four hoje, dá-se
atenção a duas características principais: o conteúdo
político e social de
suas letras e o fato
de, 30 anos depois,
finalmente estarem na moda.
"Quando aparecemos, a imprensa
britânica dizia que
éramos marxistas", relembra o
guitarrista Andy
Gill à Folha. "Nenhuma banda falava de problemas
sociais tão claramente. Talvez
o MC5... Mas não estávamos
interessados em fazer propaganda de nenhum partido. Como banda, não queríamos levantar nenhuma bandeira específica ou promover o socialismo por meio da música, por
exemplo. Escrevíamos sobre o
que estava ao nosso redor, sobre a vida de outras pessoas, de
algumas forças econômicas invisíveis", conta o músico.
Gill formou a banda com os
colegas de faculdade Jon King
(vocalista) e o baterista Hugo
Burnham -o baixista Dave
Allen foi contratado por meio
de um anúncio. Até por falta de
outra definição, o Gang of Four
ficou conhecido como banda
"politizada". "Acho que isso
ocorre porque não são temas
vistos em canções pop. As bandas normalmente cantam sobre relacionamentos, sobre
amor, sexo etc., não dão muita
importância às letras."
Esse engajamento
é bem encontrado no
primeiro disco, "Entertainment!", de
1979, e no segundo,
"Solid Gold" (81).
Margaret Thatcher, o
capitalismo, as péssimas condições de trabalho no Reino Unido, Sartre, Walter
Benjamin, Godard,
tudo aparecia aqui e
ali nas letras de canções como "Natural's
Not in It", "Not Great
Men", "Anthrax",
"Cheeseburger",
"Hole in the Wallet"...
Todas devem estar
nos shows brasileiros, "além de algumas
dos discos posteriores, como "I Parade
Myself'", diz Gill.
Se tanto na primeira fase da
banda -entre 1977 e 1984, o
auge do pós-punk- como nos
discos que vieram com as formações seguintes o Gang of Four nunca
recebeu do público em geral a
mesma reverência dada pelos
críticos, há dois ou três anos a
banda está em todos os lugares.
Não é exagero. É nítida a influência do Gang of Four em
gente como Franz Ferdinand,
Bloc Party, The Rapture, Futureheads, The Rakes, Interpol,
Radio 4... Todos eles, de uma
forma ou de outra, emprestam
algo dos timbres da guitarra de
Gill, da crueza dos vocais de
Jon King ou das batidas funkeadas do baixo de Dave Allen.
"Esse tipo de coisa acontece
há algum tempo. O Red Hot
Chili Peppers sempre disse que
Gang of Four foi uma grande
influência para eles. É que com
essas novas bandas isso parece
estar mais forte. Você ouve e
pensa: "Nossa, isso soa exatamente como Gang of Four!". O
Bloc Party é engraçado. Eles diziam: "Nunca ouvimos Gang of
Four antes", o que, claro, é bizarro, não é verdade. Mas gosto
de várias faixas dele, do Franz
Ferdinand, Futureheads..."
Andy Gill chegou a produzir
um disco dos Chili Peppers -o
primeiro da banda, homônimo,
de 1984. "Foi divertido às vezes, outras nem tanto", lembra.
"Flea [baixista] e Anthony
[Kiedis, vocalista] tomavam várias drogas. Eram jovens, não
tinham experiência em estúdios. Eles me respeitavam e
provavelmente achavam que
eu iria curtir com eles, tomar
várias drogas... Produzir um
disco não é assim, é um trabalho duro. Não é glamouroso."
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