DA SUCURSAL DO RIO

Não há novidade em apontar Luiz Melodia como um grande intérprete. Basta lembrar de "Codinome Beija-flor". Mas sua marca principal está na maneira peculiar com que cria um todo música-letra-voz. Já neste "Estação Melodia", sua inventividade está concentrada no canto e nas sugestões que deu aos arranjadores Humberto Araújo, Silvério Pontes e Alessandro Cardozo. O resultado mostra como se pode ser respeitoso e renovador abordando um impecável repertório do passado.
Um exemplo está na faixa de abertura, "Tive Sim" (Cartola), em que Melodia apresenta uma divisão cheia de quebras, sem ferir a beleza do samba. Em "Eu Agora Sou Feliz" (Jamelão/ Mestre Gato), ele se permite vibrar com a voz no agudo no verso-título, algo raro numa canção carnavalesca.
Melodia também enche de bossas e humores a versão de "O Neguinho e a Senhorita" (Noel Rosa de Oliveira/Abelardo da Silva), história de amor entre um rapaz do morro e "a filha da madame" que é um dos grandes sambas de quadra (não de enredo) do Salgueiro.
A homenagem explícita ao Estácio se dá na gravação de "Contrastes", criação do grande nome do samba do bairro, Ismael Silva. A abertura lembra a simplicidade de outrora. O samba-crônica "Cabritada Mal Sucedida" (Geraldo Pereira) ganha surpreendente levada de maxixe na segunda parte.
Fato natural em sendo o produtor Humberto Araújo saxofonista e flautista, os sopros se destacam no CD, especialmente nos sambas de gafieira "Dama Ideal" (Alcebíades Nogueira/Arnaldo Passos) e "Chegou a Bonitona" (Geraldo Pereira). O som perde o peso de forma precisa em "Papelão" (Geraldo das Neves) -que Melodia diz ser um hit em seu banheiro- e "Nós Dois", parceria com Renato Piau em que o cantor mostra sua delicadeza como letrista.
A filosófica "Não me Quebro à Toa" e o samba de terreiro "Linda Tereza" indicam o bom compositor que Oswaldo Melodia foi, embora desconhecido. A homenagem ao pai se encaixa muito bem no projeto do intérprete Luiz Melodia. (LFV)