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Rio Preto acerta em espetáculos nacionais
Festival de teatro, porém, tropeça em más escolhas de peças estrangeiras
Seção internacional fez opções questionáveis, como o espanhol "Sienta la Cabeza" e o francês "Arcane'; latino-americanos foram destaque
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO (SP)
A representação nacional foi
o destaque da edição do Festival Internacional de Teatro de
São José do Rio Preto encerrada anteontem. Seu calcanhar-de-aquiles, certas escolhas da
ala de espetáculos estrangeiros.
A seleção de peças brasileiras
adultas abarcou desde a inventividade de diretores como Cibele Forjaz ("Rainha[(s)] -Duas
Atrizes em Busca de um Coração") e Enrique Diaz ("In On
It") até o aceno de um nome
consagrado no formalismo à
estética fora de esquadros da
videoarte -Antunes Filho, em
"A Falecida Vapt-Vupt".
Nessa seção, vale destacar
duas produções cariocas que
chegam a São Paulo em agosto.
"A Margem" (no Sesc Av. Paulista, a partir de 7/8), da Companhia de Gesto, apanha dois
moradores de rua que ignoram
a própria indigência e forjam, a
partir de objetos achados no lixo, fantasias mil. Um velho
controle remoto vira um avião;
a combinação de um galão com
um caixote e uma colcha de retalhos cria um boi-bumbá.
Sem diálogos, apoiada exclusivamente na pantomima (costurada, aqui e ali, ao teatro de
sombras e à projeção de vídeos), a montagem alcança um
resultado surpreendente.
Já a força de "Inveja dos Anjos" (no Sesc Consolação, a partir de 7/8), da Armazém Cia.,
repousa justamente na fala
poética dos personagens sobre
as dívidas que a memória vem
cobrar periodicamente.
Do trem a correr os trilhos
que atravessam o cenário de
ponta a ponta, a toda hora desembarca o passado, na forma
de filhos não sabidos ou amantes não esquecidos. O belo espetáculo levou o Prêmio Shell
nas categorias de autor e atriz.
Desequilíbrio
Neste ano, a delegação internacional não teve consistência
comparável à brasileira. O espetáculo de abertura, "Arcane"
(França), por exemplo, consiste na evolução de um par de
acrobatas/trapezistas sobre
duas grandes rodas metálicas
acopladas. Trabalho físico virtuoso, e só. Na mesma linha,
Deborah Colker já fez melhor
em "Rota".
Altamente questionável é a
decisão da curadoria de incluir
a performance "descolada"
"Sienta la Cabeza" (Espanha)
na programação. No palco, embaladas pelo set de um DJ, duas
cabeleireiras montam penteados tresloucados em incautos
selecionados na plateia. É isso.
Do mesmo país, veio "Crónica de José Agarrotado", que se
serve de uma sucessão frenética de desencontros entre dois
atores e fragmentos de discurso para tratar da incomunicabilidade. Dizer aqui que o espetáculo atinge em cheio sua meta
não é exatamente um elogio.
Mais feliz foi a escolha de títulos latino-americanos. "Neva" (Chile) extrai de três ótimos
atores uma vigorosa discussão
sobre o teatro. "Tercer Cuerpo"
(Argentina) parte do riso sincopado das sitcoms para tirar um
retrato da solidão em um escritório. Mais um exemplar do naturalismo delicado do qual os
argentinos (no palco e na tela)
cada vez mais se revelam ases.
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