São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Rio Preto acerta em espetáculos nacionais

Festival de teatro, porém, tropeça em más escolhas de peças estrangeiras

Seção internacional fez opções questionáveis, como o espanhol "Sienta la Cabeza" e o francês "Arcane'; latino-americanos foram destaque

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

A representação nacional foi o destaque da edição do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto encerrada anteontem. Seu calcanhar-de-aquiles, certas escolhas da ala de espetáculos estrangeiros.
A seleção de peças brasileiras adultas abarcou desde a inventividade de diretores como Cibele Forjaz ("Rainha[(s)] -Duas Atrizes em Busca de um Coração") e Enrique Diaz ("In On It") até o aceno de um nome consagrado no formalismo à estética fora de esquadros da videoarte -Antunes Filho, em "A Falecida Vapt-Vupt".
Nessa seção, vale destacar duas produções cariocas que chegam a São Paulo em agosto. "A Margem" (no Sesc Av. Paulista, a partir de 7/8), da Companhia de Gesto, apanha dois moradores de rua que ignoram a própria indigência e forjam, a partir de objetos achados no lixo, fantasias mil. Um velho controle remoto vira um avião; a combinação de um galão com um caixote e uma colcha de retalhos cria um boi-bumbá.
Sem diálogos, apoiada exclusivamente na pantomima (costurada, aqui e ali, ao teatro de sombras e à projeção de vídeos), a montagem alcança um resultado surpreendente.
Já a força de "Inveja dos Anjos" (no Sesc Consolação, a partir de 7/8), da Armazém Cia., repousa justamente na fala poética dos personagens sobre as dívidas que a memória vem cobrar periodicamente.
Do trem a correr os trilhos que atravessam o cenário de ponta a ponta, a toda hora desembarca o passado, na forma de filhos não sabidos ou amantes não esquecidos. O belo espetáculo levou o Prêmio Shell nas categorias de autor e atriz.

Desequilíbrio
Neste ano, a delegação internacional não teve consistência comparável à brasileira. O espetáculo de abertura, "Arcane" (França), por exemplo, consiste na evolução de um par de acrobatas/trapezistas sobre duas grandes rodas metálicas acopladas. Trabalho físico virtuoso, e só. Na mesma linha, Deborah Colker já fez melhor em "Rota".
Altamente questionável é a decisão da curadoria de incluir a performance "descolada" "Sienta la Cabeza" (Espanha) na programação. No palco, embaladas pelo set de um DJ, duas cabeleireiras montam penteados tresloucados em incautos selecionados na plateia. É isso.
Do mesmo país, veio "Crónica de José Agarrotado", que se serve de uma sucessão frenética de desencontros entre dois atores e fragmentos de discurso para tratar da incomunicabilidade. Dizer aqui que o espetáculo atinge em cheio sua meta não é exatamente um elogio.
Mais feliz foi a escolha de títulos latino-americanos. "Neva" (Chile) extrai de três ótimos atores uma vigorosa discussão sobre o teatro. "Tercer Cuerpo" (Argentina) parte do riso sincopado das sitcoms para tirar um retrato da solidão em um escritório. Mais um exemplar do naturalismo delicado do qual os argentinos (no palco e na tela) cada vez mais se revelam ases.


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