São Paulo, segunda-feira, 27 de julho de 2009

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Lente de Seliger narra história do pop

Fotógrafo, que já fez mais de cem capas para a "Rolling Stone" americana, vem em agosto ao Brasil para dar palestras

Mais recente livro do americano traz retratos de artistas como Paul McCartney, Justin Timberlake e Gilberto Gil

CLARICE CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ano é 1992, e o Red Hot Chili Peppers acaba de lançar "Blood Sugar Sex Magik". Graças ao sucesso do álbum, a banda seria a capa da próxima "Rolling Stone" americana. Para a tarefa, foi escalado o novo editor de fotografia da revista, Mark Seliger. O resultado virou uma imagem histórica da revista e da cultura pop em geral.
"Queria pintá-los de vermelho, porque era o Red Hot, sabe? Eles não gostaram muito, mas o Flea [baixista] achou engraçado e topou", relembra Seliger. "Depois de gastar um monte de tinta sem conseguir o que queria, entrei na deles, que provavam várias roupas. No fim, eles estavam pelados, e eu tinha uma imagem ótima!" A foto em questão está em "The Music Book", livro que Seliger, 50, acaba de lançar, em inglês, e que traz outras 90 fotos de grandes artistas da música. É quase uma evolução histórica do "Homo musico", define Tom Wolfe no prefácio.
Assim, unindo uma ideia a uma construção colaborativa com o personagem, nasceram imagens ousadas do livro, como a do rapper P. Diddy sentado em um trono dourado em plena Times Square. "Para conseguir a foto, provavelmente venço pelo cansaço, refazendo-a de novo e de novo", brinca. "Às vezes, os artistas não querem seguir com minhas ideias ou é preciso negociar. Mas não é uma questão de convencer ninguém a fazer nada, mas sim de desenvolver um bom conceito que renda uma bela foto."
É um trabalho que começa com uma longa e cuidadosa pré-produção -a Tom Wolfe a diretora de fotografia da "Rolling Stone", Jodi Peckman, disse que, certa vez, antes de uma sessão, Seliger se internou por três dias na Biblioteca Pública de Nova York em busca de referências. Uma vez que o personagem chega ao estúdio, o clique perfeito pode acontecer em meia hora ou depois de um dia todo de trabalho.
Mesmo com todo o cuidado, ele não é contra retoques -tanto que John Frusciante foi apagado da tal foto dos Chili Peppers porque saiu do grupo antes de a revista chegar às bancas. "Só tomamos cuidado para não retocar demais e a foto ficar parecendo uma ilustração", diz o premiado fotógrafo norte-americano.
A atenção a detalhes se mostra nas mais de cem capas que fez quando trabalhou na revista (de 1992 a 2002), após assumir o posto que foi de Annie Leibovitz -cujos passos diz que não seguiu, mas que "abriram muitos caminhos".
"O livro é uma boa biblioteca do meu trabalho. Mergulhei nos arquivos de anos de música que retratei e selecionei aquelas fotos que tinham um tom histórico e icônico, tendo como referência todas as sessões que fiz", afirma. "O processo me trouxe grandes memórias e serviu como uma redescoberta da fotografia para mim."
Conhecido pelas fotos de celebridades, ele dará palestras sobre o tema no Brasil em agosto, só para profissionais, durante o Fórum PhotoImageBrazil "09. Mas avisa: "Minha prioridade não é o artista, mas fazer uma foto interessante que se conecte com a música".


PHOTOIMAGEBRAZIL "09
Quando: de 11/8 a 13/8
Onde: Centro de Exposições Imigrantes (rod. dos Imigrantes, km 1,5, tel. 0/xx/11/5051-1136)
Quanto: grátis para cadastramento prévio de profissionais pelo site www.photoimagebrazil.com.br
Classificação: 16 anos



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