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POPLOAD
Guitarra, baixo, bateria e celular
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM LONDRES
Hoje em dia, nos megafestivais de músicas na Inglaterra, no Brasil, onde for, você tem as
bandas, o público e o celular.
Atual melhor amigo da música
pop, o telefone móvel não está
"apenas" bastante empenhado
em entrar no arenoso mundo do
download e em marcar território
ocupando o nome dos eventos (V
Festival Virgin Mobile; Tim Festival; Nokia Trends - Sónar...).
Pelo visto no último final de semana, no inglês V Festival, o ajuntamento de dezenas de bandas e
130 mil pessoas para "celebrar" o
celular da Virgin em uma fazenda
de Chelmsford, o aparelho se confundia em importância com guitarra, baixo, bateria e pick-ups.
Em um evento criado na era da
juventude viciada em celular, todo mundo a toda hora parecia estar com o aparelho em mãos. Seja
para encontrar o amigo perdido
na multidão, para avisar quando
um certo show começou lá na tenda distante ou ainda para dividir o
momento com quem não estava
no festival e não podia presenciar
"aquela" música "daquela" banda. Na hora dos Pixies, dos Strokes ou do Snow Patrol, eram
muuuuitos os aparelhos erguidos
ao céu na hora dos hits.
Mas o celular conseguiu ir além,
no festival da Virgin. Ele foi usado
como instrumento de entretenimento. Os imensos telões ao lado
do palco principal, nos intervalos
dos shows, serviram como um
quadro de recados gigante. Pessoas mandavam uma mensagem
para uma central, dentro do festival, e essa central reproduzia o escrito para milhares nos telões.
E, se tinha algum recado "sério", o que virou atração obrigatória no festival foram exatamente
as mensagens-palhaçada. E aí
ninguém desgrudava o olho dos
recados no telão. Era gozação de
futebol, paquera, piadinhas ("Sabe por que o Michael Jackson..."),
zoeira entre amigos, aluguel com
os fãs dos grupos que iam tocar.
"Strokes é banda de menina";
"Michael, venha já para casa que
eu estou esperando com seu chá";
"Dá um grito aquele(a) que transou com duas pessoas diferentes
hoje, no camping". E aí vinha a
gritaria...
Mas a mensagem mais bizarra,
pelo menos para mim, veio pouco
antes de os Pixies subirem ao palco, no sábado. Dizia: "Não perca
tempo aqui. Vão para suas casas
ouvir Tribalists". Em inglês. E
sem o "a" final. Tribalists. Ao meu
redor, ninguém se manifestou como nas outras mensagens. Nem
riu, nem gargalhou, nem nada. Só
eu fiquei com cara de espanto.
Strokes
O show do grupo nova-iorquino no V Festival foi bacana, mais
ou menos. Teve um componente
que fez o show ficar maravilhoso
em algumas músicas e chato em
outras. Julian Casablancas, o vocalista, estava com-ple-ta-men-te
bêbado no palco. Talvez por ser o
último show dos Strokes dessa fase "segundo disco", Casablancas
se encontrava visivelmente em estado alterado. No palco, a voz dele
estava muito enrolada. Quando a
"viagem" de Julian tomava um
tom agressivo e rebelde, o show
funcionava. Quando a bola baixava, a apresentação se tornava
morna.
Pixies
"Os Pixies não abriram para os
Strokes. Por algum motivo que
não sei qual, botaram a gente para
tocar depois deles. Nunca associe
o termo "banda de abertura" aos
Pixies. Jamais", disse o guitarrista
Albert Hammond Jr. ao jornal
"Independent", sobre a produção
do V escalar os Pixies para tocar
imediatamente antes dos Strokes .
lucio@uol.com.br
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