São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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POPLOAD

Guitarra, baixo, bateria e celular

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA, EM LONDRES

Hoje em dia, nos megafestivais de músicas na Inglaterra, no Brasil, onde for, você tem as bandas, o público e o celular.
Atual melhor amigo da música pop, o telefone móvel não está "apenas" bastante empenhado em entrar no arenoso mundo do download e em marcar território ocupando o nome dos eventos (V Festival Virgin Mobile; Tim Festival; Nokia Trends - Sónar...).
Pelo visto no último final de semana, no inglês V Festival, o ajuntamento de dezenas de bandas e 130 mil pessoas para "celebrar" o celular da Virgin em uma fazenda de Chelmsford, o aparelho se confundia em importância com guitarra, baixo, bateria e pick-ups.
Em um evento criado na era da juventude viciada em celular, todo mundo a toda hora parecia estar com o aparelho em mãos. Seja para encontrar o amigo perdido na multidão, para avisar quando um certo show começou lá na tenda distante ou ainda para dividir o momento com quem não estava no festival e não podia presenciar "aquela" música "daquela" banda. Na hora dos Pixies, dos Strokes ou do Snow Patrol, eram muuuuitos os aparelhos erguidos ao céu na hora dos hits.
Mas o celular conseguiu ir além, no festival da Virgin. Ele foi usado como instrumento de entretenimento. Os imensos telões ao lado do palco principal, nos intervalos dos shows, serviram como um quadro de recados gigante. Pessoas mandavam uma mensagem para uma central, dentro do festival, e essa central reproduzia o escrito para milhares nos telões.
E, se tinha algum recado "sério", o que virou atração obrigatória no festival foram exatamente as mensagens-palhaçada. E aí ninguém desgrudava o olho dos recados no telão. Era gozação de futebol, paquera, piadinhas ("Sabe por que o Michael Jackson..."), zoeira entre amigos, aluguel com os fãs dos grupos que iam tocar.
"Strokes é banda de menina"; "Michael, venha já para casa que eu estou esperando com seu chá"; "Dá um grito aquele(a) que transou com duas pessoas diferentes hoje, no camping". E aí vinha a gritaria...
Mas a mensagem mais bizarra, pelo menos para mim, veio pouco antes de os Pixies subirem ao palco, no sábado. Dizia: "Não perca tempo aqui. Vão para suas casas ouvir Tribalists". Em inglês. E sem o "a" final. Tribalists. Ao meu redor, ninguém se manifestou como nas outras mensagens. Nem riu, nem gargalhou, nem nada. Só eu fiquei com cara de espanto.

Strokes
O show do grupo nova-iorquino no V Festival foi bacana, mais ou menos. Teve um componente que fez o show ficar maravilhoso em algumas músicas e chato em outras. Julian Casablancas, o vocalista, estava com-ple-ta-men-te bêbado no palco. Talvez por ser o último show dos Strokes dessa fase "segundo disco", Casablancas se encontrava visivelmente em estado alterado. No palco, a voz dele estava muito enrolada. Quando a "viagem" de Julian tomava um tom agressivo e rebelde, o show funcionava. Quando a bola baixava, a apresentação se tornava morna.

Pixies
"Os Pixies não abriram para os Strokes. Por algum motivo que não sei qual, botaram a gente para tocar depois deles. Nunca associe o termo "banda de abertura" aos Pixies. Jamais", disse o guitarrista Albert Hammond Jr. ao jornal "Independent", sobre a produção do V escalar os Pixies para tocar imediatamente antes dos Strokes .

lucio@uol.com.br


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