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MÚSICA
Ex-guitarrista do Blur lança quinto álbum solo, "Happiness in Magazines", e diz que auge do britpop era "lixo"
Graham Coxon confessa felicidade em seu novo disco
THIAGO NEY
DA REDAÇÃO
Você costumava pensar sobre
mágica e em como se encaixar/
Agora você pensa loucuras e em
como permanecer magro. A história de Graham Coxon é a história de um cara que não se encaixa
-ou não se encaixava.
Coxon, 35, é ex-guitarrista do
Blur, uma das mais bem-sucedidas bandas britânicas dos anos
90, que lança "Happiness in Magazines", seu quinto álbum solo.
Os versos confessionais do início
do texto estão em "Hopeless
Friend", a oitava canção do disco.
"Aquela época foi um lixo. Eu
não ouvia ou acompanhava nada
do que era feito no Reino Unido.
Eu prestava atenção nas bandas e
nos artistas americanos. Hoje é
bem difícil distinguir as bandas
americanas das inglesas. Elas
meio que convergiram para o
mesmo tipo de som, bem anos
70", disse Coxon à Folha, por telefone. O próprio guitarrista dá luz
de como se sentia desconfortável.
"Aquela época" a que ele se refere é o meio dos anos 90, quando o
Blur realmente explodiu na Inglaterra, na Europa e se fez bem conhecido no Brasil e nos EUA.
Entre 1994 e 1997, o britpop de
Blur, Oasis e Pulp dominava as
paradas, as artes britânicas, de
Damien Hirst a Tracey Emim, viviam momento esfuziante, Tony
Blair chegava ao poder, no futebol
a Inglaterra sediava uma Eurocopa... Mas Coxon não ia nessa.
Para ele, música era o que vinha
dos EUA (Pavement, Pixies, Dinosaur Jr.), arte eram suas pinturas -quase "disfuncionais", que
chegaram a estampar capas de
discos de sua ex-banda-, não
acreditava no New Labour de
Blair, não comprava a briga Oasis
x Blur (ou Liam Gallagher x Damon Albarn)...
"Em 1994, 1995, havia um ambiente meio desesperador aqui na
Inglaterra. Era muito competitivo, nada saudável. Hoje a situação
está muito melhor."
Nada pop, nada fácil
Pelo menos para Coxon, está
melhor mesmo. "Happiness in
Magazines" ganhou elogios da
crítica européia, que considera este o melhor disco do guitarrista
-e hoje também vocalista.
"Fiquei muito contente com as
críticas, claro. Muita gente disse
que é o meu melhor álbum. Mas
as pessoas sempre esperam que
você faça um álbum "fácil" de ouvir, que não exija muito esforço
para gostar dele."
Coxon dá aqui uma espetada.
Seus quatro discos anteriores foram recebidos quase com indiferença -ninguém parecia entender muito bem aonde ele queria
chegar; eram letras e músicas
quase histriônicas e esquizofrênicas, atirando para muitos lados
-e, na verdade, não acertando
em muita coisa-; resumindo,
não era nada "pop".
"Não acho que seja um artista
"difícil". É que não sou um artista
muito fácil de ser rotulado ou comercializado. Mas também acho
que este é o melhor álbum, até em
termos comerciais."
O disco foi gravado há pouco
mais de um ano e demorou, segundo Coxon, cerca de dois meses para gravar. "Foi uma época
legal em minha vida. Estava feliz,
me sentindo bem. Acho que isso
se refletiu no disco."
"Happiness" começou a ser
produzido logo após a saída de
Coxon do Blur, em 2003. O guitarrista havia se internado numa clínica de desintoxicação londrina,
para tratar de alcoolismo. Quando saiu, foi demitido da banda.
"Não me arrependo de nada
que tenha feito. Na verdade, eu
não penso nisso, não me importo
com isso", diz. Sobre o ex-grupo:
"Não gosto de falar sobre eles, não
ouço o que eles fazem hoje, não
falo com eles...".
Coxon tem viajado pela Europa
em turnê para promover seu último álbum, mas, segundo ele, ainda não há nenhum plano de viajar
ao Brasil -país visitado por ele
em 1999, com o Blur.
Num universo bem longe daquele em que está o Blur hoje
-um grupo que flerta com a eletrônica e a world music-, Coxon
fala sobre o que o excita hoje no
rock: "Ouço música todo o tempo. No momento, tenho ouvido
velhas coletâneas de "nuggets"
[psycho-rock dos anos 60], Razorlight, Kings of Leon, soul...".
Após "Happiness in Magazines", um disco solo que finalmente atingiu sucesso de crítica e público -e depois de ter tocado numa grande banda, viajado pelo
mundo, ganhado bom dinheiro-, Coxon sente-se realizado?
"Não, ainda ambiciono um
monte de coisas. Estou para pintar meu melhor quadro, produzir
meu melhor disco. Ainda quero
muita coisa. O que consegui com
o Blur, não que eu não ache legal,
fico feliz com aquilo, mas eu era
apenas um guitarrista numa banda, fazendo o melhor possível.
Hoje faço o que realmente gosto."
Com "Happiness in Magazines", percebe-se que o que Coxon
gosta coincide com aquilo de que
seus fãs gostam.
HAPPINESS IN MAGAZINES. Artista:
Graham Coxon. Lançamento: EMI.
Quanto: R$ 35, em média.
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