São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2004

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MÚSICA

Ex-guitarrista do Blur lança quinto álbum solo, "Happiness in Magazines", e diz que auge do britpop era "lixo"

Graham Coxon confessa felicidade em seu novo disco

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Você costumava pensar sobre mágica e em como se encaixar/ Agora você pensa loucuras e em como permanecer magro. A história de Graham Coxon é a história de um cara que não se encaixa -ou não se encaixava.
Coxon, 35, é ex-guitarrista do Blur, uma das mais bem-sucedidas bandas britânicas dos anos 90, que lança "Happiness in Magazines", seu quinto álbum solo. Os versos confessionais do início do texto estão em "Hopeless Friend", a oitava canção do disco.
"Aquela época foi um lixo. Eu não ouvia ou acompanhava nada do que era feito no Reino Unido. Eu prestava atenção nas bandas e nos artistas americanos. Hoje é bem difícil distinguir as bandas americanas das inglesas. Elas meio que convergiram para o mesmo tipo de som, bem anos 70", disse Coxon à Folha, por telefone. O próprio guitarrista dá luz de como se sentia desconfortável.
"Aquela época" a que ele se refere é o meio dos anos 90, quando o Blur realmente explodiu na Inglaterra, na Europa e se fez bem conhecido no Brasil e nos EUA.
Entre 1994 e 1997, o britpop de Blur, Oasis e Pulp dominava as paradas, as artes britânicas, de Damien Hirst a Tracey Emim, viviam momento esfuziante, Tony Blair chegava ao poder, no futebol a Inglaterra sediava uma Eurocopa... Mas Coxon não ia nessa.
Para ele, música era o que vinha dos EUA (Pavement, Pixies, Dinosaur Jr.), arte eram suas pinturas -quase "disfuncionais", que chegaram a estampar capas de discos de sua ex-banda-, não acreditava no New Labour de Blair, não comprava a briga Oasis x Blur (ou Liam Gallagher x Damon Albarn)...
"Em 1994, 1995, havia um ambiente meio desesperador aqui na Inglaterra. Era muito competitivo, nada saudável. Hoje a situação está muito melhor."

Nada pop, nada fácil
Pelo menos para Coxon, está melhor mesmo. "Happiness in Magazines" ganhou elogios da crítica européia, que considera este o melhor disco do guitarrista -e hoje também vocalista.
"Fiquei muito contente com as críticas, claro. Muita gente disse que é o meu melhor álbum. Mas as pessoas sempre esperam que você faça um álbum "fácil" de ouvir, que não exija muito esforço para gostar dele."
Coxon dá aqui uma espetada. Seus quatro discos anteriores foram recebidos quase com indiferença -ninguém parecia entender muito bem aonde ele queria chegar; eram letras e músicas quase histriônicas e esquizofrênicas, atirando para muitos lados -e, na verdade, não acertando em muita coisa-; resumindo, não era nada "pop".
"Não acho que seja um artista "difícil". É que não sou um artista muito fácil de ser rotulado ou comercializado. Mas também acho que este é o melhor álbum, até em termos comerciais."
O disco foi gravado há pouco mais de um ano e demorou, segundo Coxon, cerca de dois meses para gravar. "Foi uma época legal em minha vida. Estava feliz, me sentindo bem. Acho que isso se refletiu no disco."
"Happiness" começou a ser produzido logo após a saída de Coxon do Blur, em 2003. O guitarrista havia se internado numa clínica de desintoxicação londrina, para tratar de alcoolismo. Quando saiu, foi demitido da banda.
"Não me arrependo de nada que tenha feito. Na verdade, eu não penso nisso, não me importo com isso", diz. Sobre o ex-grupo: "Não gosto de falar sobre eles, não ouço o que eles fazem hoje, não falo com eles...".
Coxon tem viajado pela Europa em turnê para promover seu último álbum, mas, segundo ele, ainda não há nenhum plano de viajar ao Brasil -país visitado por ele em 1999, com o Blur.
Num universo bem longe daquele em que está o Blur hoje -um grupo que flerta com a eletrônica e a world music-, Coxon fala sobre o que o excita hoje no rock: "Ouço música todo o tempo. No momento, tenho ouvido velhas coletâneas de "nuggets" [psycho-rock dos anos 60], Razorlight, Kings of Leon, soul...".
Após "Happiness in Magazines", um disco solo que finalmente atingiu sucesso de crítica e público -e depois de ter tocado numa grande banda, viajado pelo mundo, ganhado bom dinheiro-, Coxon sente-se realizado?
"Não, ainda ambiciono um monte de coisas. Estou para pintar meu melhor quadro, produzir meu melhor disco. Ainda quero muita coisa. O que consegui com o Blur, não que eu não ache legal, fico feliz com aquilo, mas eu era apenas um guitarrista numa banda, fazendo o melhor possível. Hoje faço o que realmente gosto."
Com "Happiness in Magazines", percebe-se que o que Coxon gosta coincide com aquilo de que seus fãs gostam.


HAPPINESS IN MAGAZINES. Artista: Graham Coxon. Lançamento: EMI. Quanto: R$ 35, em média.


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