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Baiano simula seqüestro de ACM
ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Protesto na rua, reportagens no
principal jornal de Salvador e um
burburinho que atravessou as
fronteiras baianas e chega hoje ao
16º Festival Internacional de Curtas-Metragens. O responsável pelo rebuliço, o filme "O Fim do Homem Cordial", tem pouco mais
de dois minutos.
A conturbada trajetória de seu
jovem diretor, o estudante de cinema Daniel Lisboa, 25, começou
em junho. Apesar de ter sido escolhido o melhor vídeo pelo júri
do Festival Nacional de Vídeo
-°Imagem em 5 Minutos, o filme
foi retirado da Mostra de Vídeo
-°Jovens Realizadores Baianos.
A exclusão, ou "censura", como
prefere dizer Lisboa, veio da Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (Dimas), órgão ligado ao
governo estadual da Bahia.
Em conseqüência, um grupo de
cineastas locais realizou um protesto no prédio da Fundação Cultural do Estado, em Salvador, e
criou o Núcleo contra a Censura
na Bahia.
"O Jamison [Pedra, ex-diretor
da Dimas] me disse que tinha feito uma relação de filmes da qual
não constava o curta de Daniel
[Lisboa], porque ele já havia sido
premiado", diz o atual diretor da
instituição, Francisco Liberato.
"O filme foi bastante exibido, recebeu prêmio e estará com outros
selecionados no Festival dos 5 Minutos deste ano", promete.
O motivo, segundo Lisboa, é
que o curta envolve a principal figura política do Estado, o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL).
Inspirado nos vídeos de seqüestros terroristas, que viraram "moda" após a invasão do Iraque, Lisboa criou uma ficção em que a redação de um telejornal recebe (e
exibe em horário nobre) um vídeo tosco no qual bandidos espancam um político local.
Durante a ação, os seqüestradores gritam frases como "acabou
essa onda de coronelismo na Bahia", "a Bahia está órfã", "a cabeça
branca vai rolar!". "É o ACM, mas
poderia ser qualquer outro político", diz Lisboa. "Eu não tenho
partido nenhum, ataco a liderança", afirma.
Lisboa não ousou só no tema: as
imagens do programa jornalístico
utilizadas no curta foram roubadas do telejornal "Bahia Meio-Dia", exibido pela TV Bahia, propriedade de ACM. "O vídeo digital permite apreender a imagem
televisiva, que é um tipo de coisa
sagrada", fala Lisboa. "Hoje é possível registrar e alterar essas imagens. É uma antropofagia."
A idéia do curta veio da percepção de Lisboa de que aqui também poderia ocorrer esse tipo de
ação. "O que o [historiador] Sérgio Buarque de Hollanda dizia, de
que o homem é cordial, vem se
perdendo", acredita o cineasta.
Além do festival de curtas, o filme está na programação do festival Videobrasil, que começa dia
6/9, no Sesc Pompéia.
O Fim do Homem Cordial
Quando: hoje, às 19h, no MIS; amanhã,
às 20h, no CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel.
0/xx/11/3277-3611); dia 29/8, às 16h, no
Cinesesc
Quanto: entrada franca
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