São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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Baiano simula seqüestro de ACM

ADRIANA FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Protesto na rua, reportagens no principal jornal de Salvador e um burburinho que atravessou as fronteiras baianas e chega hoje ao 16º Festival Internacional de Curtas-Metragens. O responsável pelo rebuliço, o filme "O Fim do Homem Cordial", tem pouco mais de dois minutos.
A conturbada trajetória de seu jovem diretor, o estudante de cinema Daniel Lisboa, 25, começou em junho. Apesar de ter sido escolhido o melhor vídeo pelo júri do Festival Nacional de Vídeo -°Imagem em 5 Minutos, o filme foi retirado da Mostra de Vídeo -°Jovens Realizadores Baianos.
A exclusão, ou "censura", como prefere dizer Lisboa, veio da Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (Dimas), órgão ligado ao governo estadual da Bahia.
Em conseqüência, um grupo de cineastas locais realizou um protesto no prédio da Fundação Cultural do Estado, em Salvador, e criou o Núcleo contra a Censura na Bahia.
"O Jamison [Pedra, ex-diretor da Dimas] me disse que tinha feito uma relação de filmes da qual não constava o curta de Daniel [Lisboa], porque ele já havia sido premiado", diz o atual diretor da instituição, Francisco Liberato. "O filme foi bastante exibido, recebeu prêmio e estará com outros selecionados no Festival dos 5 Minutos deste ano", promete.
O motivo, segundo Lisboa, é que o curta envolve a principal figura política do Estado, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). Inspirado nos vídeos de seqüestros terroristas, que viraram "moda" após a invasão do Iraque, Lisboa criou uma ficção em que a redação de um telejornal recebe (e exibe em horário nobre) um vídeo tosco no qual bandidos espancam um político local.
Durante a ação, os seqüestradores gritam frases como "acabou essa onda de coronelismo na Bahia", "a Bahia está órfã", "a cabeça branca vai rolar!". "É o ACM, mas poderia ser qualquer outro político", diz Lisboa. "Eu não tenho partido nenhum, ataco a liderança", afirma.
Lisboa não ousou só no tema: as imagens do programa jornalístico utilizadas no curta foram roubadas do telejornal "Bahia Meio-Dia", exibido pela TV Bahia, propriedade de ACM. "O vídeo digital permite apreender a imagem televisiva, que é um tipo de coisa sagrada", fala Lisboa. "Hoje é possível registrar e alterar essas imagens. É uma antropofagia."
A idéia do curta veio da percepção de Lisboa de que aqui também poderia ocorrer esse tipo de ação. "O que o [historiador] Sérgio Buarque de Hollanda dizia, de que o homem é cordial, vem se perdendo", acredita o cineasta.
Além do festival de curtas, o filme está na programação do festival Videobrasil, que começa dia 6/9, no Sesc Pompéia.


O Fim do Homem Cordial
Quando:
hoje, às 19h, no MIS; amanhã, às 20h, no CCSP (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/xx/11/3277-3611); dia 29/8, às 16h, no Cinesesc
Quanto: entrada franca


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