Em show que canal exibe hoje, cantor reinterpreta sucessos como "Jack Soul Brasileiro" e "A Ponte"

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Programa televisivo cujo formato foi transformado em clichê pela indústria fonográfica, o "Acústico MTV" vem embalando com violões e naipes de cordas, há mais de uma década, os sucessos de diversos figurões da música brasileira, de roqueiros a sambistas.
É até compreensível que, por ser repetido há tanto tempo, esse formato já tenha conquistado uma legião de desafetos.
Quem deixar essa prevenção de lado vai encontrar saborosos momentos musicais no "Acústico" de Lenine, que a MTV exibe hoje, às 19h30, pela primeira vez. O compositor e cantor pernambucano prova nesse programa que, quando tem nas mãos uma obra musical consistente, a instrumentação pode até ficar em segundo plano. Sejam acústicos ou eletrônicos, os instrumentos não passam de ferramentas que estão a serviço do músico.

Charme rítmico
É o que Lenine sugere em uma nova versão de "Jack Soul Brasileiro", um dos sucessos que o introduziram ao grande público, no final dos anos 90.
Colorida por pífanos, metais e um naipe de cordas, numa releitura mais funkeada, essa canção não perdeu nem um pouco de seu charme rítmico e poético, por não contar mais com os samples e efeitos eletrônicos da gravação original.
Se a camisa-de-força do "Acústico" já amornou o impacto sonoro de alguns roqueiros, por não disporem do mesmo volume de decibéis de suas guitarras e baixos elétricos, o mesmo não acontece com Lenine. Também um talentoso intérprete em "O Atirador" (de Lula Queiroga), ele deixa claro que sabe aproveitar bem a poderosa pegada de sua banda.
Em "Dois Olhos Negros", Lenine leva essa busca de intensidade sonora ao máximo, convocando mais um baterista: o convidado Igor Cavalera, que massacra literalmente seus tambores, bem ao estilo Sepultura. Já a funkeada releitura de "A Ponte" (parceria com Queiroga) ganha sabor especial com um naipe de sopros recrutados na Banda Mantiqueira.
Naturalmente, também há números mais calmos no roteiro, como a bela "A Medida da Paixão" (parceria com Dudu Falcão), que destaca os vocais em francês do jazzista camaronês Richard Bona e um naipe de cordas. Já na versão delicada de "Paciência", a harpa de Cristina Braga amplia a atmosfera lírica.
Artista sensível que é, Lenine mostra que mesmo um formato gasto como o do "Acústico MTV" ainda pode render um bom show. É só fazê-lo com senso musical.