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O galã candidato
Após testar a comédia em "Belíssima", Gianecchini estréia como protagonista
da peça "Sua Excelência, o Candidato"
Ator fala de política, do preconceito da classe artística com teatro popular e revela ter sofrido pressão até de colegas da televisão
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Seis anos após a traumática
estréia como mocinho da novela das oito da Globo, Reynaldo
Gianecchini decide ser político.
Com o sucesso de Pascoal, o
mecânico cômico da novela
"Belíssima", sente-se mais seguro para adentrar a politicagem brasileira a partir desta
sexta, como o protagonista da
nova montagem de "Sua Excelência, o Candidato", sucesso
teatral dos anos 80. O candidato Gianecchini, 33, quer conquistar as massas, não liga para
"adversários" da classe artística
que têm preconceito com o que
é popular e não é "cabeça".
À Folha, além de política, ele
fala da pressão imposta pelos
próprios colegas, entre eles Carolina Dieckmann (sua mulher
em "Laços de Família"), que
não foi das mais solidárias com
o despreparo de Gianecchini
para protagonizar a novela.
FOLHA - O convite para a comédia
veio graças à novela "Belíssima"?
REYNALDO GIANECCHINI - É, acho
que ninguém pensava que pudesse fazer comédia, até porque sempre fiz o mocinho, sofredor, príncipe, romântico. Isso devo ao Sílvio [de Abreu, autor de "Belíssima"]. Sempre
busco uma quebra, não quero
fazer só o galã. Não tenho preconceito com a comédia, como
muitos de meus colegas, que
sempre acham que devem fazer
algo mais cabeça. Minhas experiências anteriores foram com
diretores de vanguarda, Zé Celso [Martinez Corrêa], Gerald
Thomas. Adorava, mas não
achava que tinha comunicação
total com a platéia. Queria algo
popular, que se comunicasse
muito com o público.
FOLHA - É melhor desempenhar o
papel cômico do que o de mocinho?
GIANECCHINI - É mais divertido.
Você pode trazer elementos para compor o cômico. Já o mocinho é flat [chato] nesse sentido.
Qualquer coisa a mais fica over.
FOLHA - Entraram mensaleiros,
sanguessugas e cuecas na peça?
GIANECCHINI - Incrível, mas não
houve adaptação, a não ser de
valores. A peça é atual. Fez sucesso há 20 anos, época de esperança louca para o Brasil, todo mundo querendo mudar tudo. Hoje vivemos o oposto, todos sem esperança. Não tenho
muito a que me apegar. O partido em que todo mundo depositou as últimas fichas, o PT, foi
uma catástrofe. Neste ano, não
tenho meu candidato ainda.
FOLHA - Como é o político da peça?
GIANECCHINI - O objetivo principal do texto é o entretenimento
mesmo, não é fazer grandes
questionamentos. Ninguém
quer mudar a vida de ninguém
nem sair de lá pensando coisas
incríveis. Esse candidato é um
espelho do Brasil. Não tem a
menor vocação para ser político, mas quer usufruir de tudo o
que a política pode lhe dar, do
dinheiro às facilidades, tendo
sempre essa mentalidade do
brasileiro, essa coisa nossa de
colonizado, em que impera a
corrupção, os pequenos delitos.
FOLHA - Inspirou-se no mensalão?
GIANECCHINI - É um pouco de alguns que foram pegos com a
boca no botija. Não gosto de dizer quais. Até fisicamente tem
uns em que procurei buscar
uma postura. Ele é elegante.
FOLHA - É o Collor?
GIANECCHINI - É você que disse
[risos]. É, o Collor é um cara
elegante e tem carisma. Nesse
lado dá para pensar muito nele.
FOLHA - Tem trajetória política?
GIANECCHINI - Não, fiz direito na
PUC, mas confesso que não sou
politizado. Procuro acompanhar o que acontece para exercer meu direito de cidadão. Não
sou a favor do voto nulo, quero
votar e para isso pesquiso. Na
última eleição, votei no Lula.
FOLHA - Nem nas questões de política cultural você se envolve?
GIANECCHINI - Nunca me envolvi. Acompanho, leio, até porque
me interessa. Mas também
nunca fui chamado. Acho que
sou meio moleque, isso é mais
para gente grande [risos].
FOLHA - Seis anos após sua estréia
como Edu, de "Laços de Família", como avalia sua trajetória na Globo?
GIANECCHINI - A TV é ingrata,
um veículo dificílimo para
quem não tem experiência. É
tudo contra você, não há tempo
para ensaiar, decorar, tem que
se virar. Foi muito penoso, estava bem despreparado.
FOLHA - Por que te pôr de cara como protagonista de novela das oito?
GIANECCHINI - Porque tem que
trazer gente nova. Fiz um jovem parecido comigo, com a
minha idade, uma relação com
mulher mais velha. Eles pensam "é quase ele", e na verdade
não é bem assim. Essa profissão
é muito difícil. E TV é a arte do
que dá para fazer naquele momento, com 30 cenas por dia.
Penei muito na primeira novela. Fora as críticas, eu mesmo
sabia que era insuficiente. Fui
correr atrás, estudar. Levo a sério a profissão e o mínimo que
espero é respeito, porque não
sou um babaquinha. Procuro
oferecer o meu melhor. No começo, meu melhor era muito
pouco, mas fui aprendendo.
Mas ainda tenho o maior medão de fazer teatro.
FOLHA - Você sofreu resistência até
de colegas da Globo. Isso mudou?
GIANECCHINI - Podem não me
achar bom ator, mas quero respeito por ir lá ralar, buscar algo.
Acho que me respeitam mais,
mas ainda sinto que tenho que
matar um leão por dia.
FOLHA - Houve a história com a Carolina Dieckmann [mulher de Gianecchini em "Laços de Família"]...
GIANECCHINI - Falo até para ela.
Esse tipo de coisa não sinto
mais na Globo. Pelo menos em
"Belíssima" parecia que todos
estavam no mesmo barco, não
me senti posto à prova pelo
elenco. Mas isso existe. Essa
peça muita gente verá com preconceito porque é popular.
Tem muito preconceito na
classe artística. Mas o preconceito está aí para ser quebrado.
FOLHA - Quem é mais cruel: o público, a imprensa ou os colegas?
GIANECCHINI - [risos] Difícil, está pau a pau. O público é o menos cruel. Quando gosta gosta.
O ator ou o crítico às vezes até
gosta, vai à peça, ri, mas aí começa a pensar, fazer mil conjecturas e aí decide que não é
boa. Mas no fundo ele gostou.
NA INTERNET - Leia a íntegra em
www.folha.com.br/062361
SUA EXCELÊNCIA, O CANDIDATO
Texto: Marcos Caruso, Jandira Martini
Quando: estréia 31/8, para convidados, e 1º/9, às 21h30, para público
Onde: Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, tel. 0/xx/11/3188-4141)
Quanto: R$ 60 (inteira)
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