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Crítica
"Crash" ou a arte de reiterar idéias
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Neste mundo do cinema, a
decepção muitas vezes acompanha a expectativa criada. A
de "Crash - No Limite" (Telecine Pipoca, 22h) girava em
torno de ser o filme de Paul
Haggis, roteirista de "Menina
de Ouro", de Clint Eastwood.
Bem, Haggis não tem nada a
ver com Clint, o que não é necessariamente um defeito. O
problema de seu "Crash" (a não
confundir com o de Cronenberg, deslumbrante) é de assemelhar-se excessivamente a
um tipo de estrutura que muita
gente imagina criada por Robert Altman (a propósito: não
é). Ou seja: a do filme que intercala diversas histórias paralelas, cujo sentido e proximidade
não adivinhamos de imediato.
Por alguma dessas razões ligadas à indústria do entretenimento, esse formato passou a
vigorar como o "filme de arte"
aceito nos EUA. A indústria
precisa de fórmulas, e foi nisso
que Paul Haggis pegou-se.
Seria possível dizer que é um
imitador de Altman, então.
Não. Melhor dizer: "um falso
Altman". Pois em Haggis existe
um sentido evidente que antecede o filme: a multidão étnica
que habita os EUA e os conflitos existentes, por questões raciais, desembocando não raro
em violência desbragada.
A questão é o aspecto meramente demonstrativo do filme.
As idéias que circulam por ele
existiriam sem ele...
Não é tão diferente, afinal, de
nosso "Zuzu Angel". São filmes
que não fazem senão reiterar
idéias que já existiam antes de
sua produção.
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