São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2006

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Crítica

"Crash" ou a arte de reiterar idéias

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Neste mundo do cinema, a decepção muitas vezes acompanha a expectativa criada. A de "Crash - No Limite" (Telecine Pipoca, 22h) girava em torno de ser o filme de Paul Haggis, roteirista de "Menina de Ouro", de Clint Eastwood.
Bem, Haggis não tem nada a ver com Clint, o que não é necessariamente um defeito. O problema de seu "Crash" (a não confundir com o de Cronenberg, deslumbrante) é de assemelhar-se excessivamente a um tipo de estrutura que muita gente imagina criada por Robert Altman (a propósito: não é). Ou seja: a do filme que intercala diversas histórias paralelas, cujo sentido e proximidade não adivinhamos de imediato.
Por alguma dessas razões ligadas à indústria do entretenimento, esse formato passou a vigorar como o "filme de arte" aceito nos EUA. A indústria precisa de fórmulas, e foi nisso que Paul Haggis pegou-se.
Seria possível dizer que é um imitador de Altman, então. Não. Melhor dizer: "um falso Altman". Pois em Haggis existe um sentido evidente que antecede o filme: a multidão étnica que habita os EUA e os conflitos existentes, por questões raciais, desembocando não raro em violência desbragada.
A questão é o aspecto meramente demonstrativo do filme. As idéias que circulam por ele existiriam sem ele...
Não é tão diferente, afinal, de nosso "Zuzu Angel". São filmes que não fazem senão reiterar idéias que já existiam antes de sua produção.


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