São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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Crítica

Roberto e Caetano fazem show chato

Primeiro espetáculo que reuniu os dois cantores em São Paulo foi modorrento e marcado pela turba de celebridades

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Celebridades loucas para aparecer, fotógrafos emperrando a passagem, portões que não abrem, artistas que se atrasam, excesso de convidados, inserções abusivas de agradecimentos a patrocinadores, desrespeito ao público em geral.
Duas coisas marcaram o aniversário de 50 anos da bossa nova. A que preponderou até aqui foi, certamente, esse frenesi coletivo pelo bochicho nos eventos de comemoração.
A outra ecoou na pequena série de espetáculos arrogantes e modorrentos, que começaram com as apresentações de João Gilberto, no último dia 14, e terminariam ontem, com o último dos concertos que reuniram os míticos Roberto Carlos e Caetano Veloso, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo.
Eventos elitistas, onde cantar baixinho sobre o amor, a saudade, o Corcovado e as belezas da orla carioca legitimavam o privilégio e a sofisticação de uma casta.
Na apresentação da segunda-feira, a dupla não se saiu mal. Nem poderia. Alguém duvida que esses dois gigantes da música popular brasileira podem cantar "Garota de Ipanema" ou "Chega de Saudade" muito bem? É claro que não.
O problema do espetáculo não era esse. E sim o seu conceito. Ambos os artistas aceitaram passivamente fazer um show contido, bem-comportado, de arranjos convencionais, e que não trouxe nada diferente ou intrigante para um público cuja última coisa que parecia querer era se surpreender.
O primeiro bloco, o de Caetano, foi melhor. O cantor, emocionado, abriu o coração para interpretar faixas que o haviam influenciado. "Caminho de Pedra" e "O que Tinha de Ser" foram o melhor da noite.
Acontece que Caetano, que sempre foi genial por tentar sair do padrão, ao lado de Roberto se intimidou. Fantasiou-se de sujeito mais velho e, para não destoar do rei, evitou dançar ou adotar o gestual típico que leva aos palcos e dá graça a seus próprios shows.
Já Roberto não fugiu em nada de seu formato. Não foi ele quem cantou bossa nova, foi a bossa nova que entrou no seu universo. Se depois de "Insensatez" ele emendasse uma canção qualquer de ser repertório, digamos "Jesus Cristo", e saísse distribuindo rosas ao público, ninguém estranharia. Quando Roberto está no palco, é apenas um show de Roberto o que vemos. Seja qual for o set list.
Quando cantaram juntos, foram artificiais, entre sorrisos amarelos e abraços pela metade. Algum humor em "Teresa da Praia". Nada demais em "A Felicidade". Fecha-se a cortina, acendem-se as luzes, o público aplaude... olhando para trás! Claro, era a última chance de vislumbrar suas celebridades favoritas saindo de cena.
Pobre Tom Jobim...

Avaliação: ruim


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