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"Dolores Duran" obscurece relações amorosas no Rio da década de 50
da Reportagem Local
"Dolores Duran - Experiências
Boêmias em Copacabana nos
Anos 50", da doutora em história
Maria Izilda Santos de Matos, é livro que, talvez sem querer, encerra em sua capa promessa descumprida em seu conteúdo.
Quem o vir numa livraria pensará que se trata de uma biografia da
cantora e compositora Dolores
Duran (1930-1959). Não. A história
de Duran é contemplada só de raspão, ou nem o é.
O livro guarda uma análise do
papel da mulher no cenário da Copacabana dos anos 50, em que Dolores Duran não é mais que mero
personagem-exemplo (até tempera tal cenário com o contraponto
masculino, via transcrição de crônicas de Antônio Maria).
A autora quer provar que, na
época, a mulher vivia momento de
transição, passando da condição
de "Amélia" para uma posição
mais participativa na sociedade.
É verdade, no que diz respeito ao
fato de Duran, sendo mulher,
compor e se impor em tal cenário.
O livro, no entanto, farta-se de
exemplos que só vêm desmentir as
teses da autora.
Perpassam suas poucas páginas
abundantes trechos das poucas
canções que Dolores Duran deixou -muitas delas, diga-se, repetidas à exaustão (e sem razão de
ser) página após página.
Ora, o que se percebe de tantos
exemplos é que a compositora
transfere para suas letras uma persona submissa ao homem, culpada
pelo fracasso da relação, sempre
pronta à docilidade, sempre em
pânico em relação à solidão.
Isso leva a autora a generalizações banais do tipo "nos anos 50,
amar era sinônimo de sofrer"
(pág. 79). Ora, não tem sido sempre assim, na expressão artística?
O que se pretende um retrato de
época torna-se generalização obscurantista, desperdício da possibilidade de abordar uma figura de
fato ambígua dentro daquele contexto de transformações.
Tal resultado é fruto de certa falta de rigor -característica inadmissível a um trabalho de natureza
acadêmica. Percebe-se isso nos detalhes, como o fato de que o prefácio e a apresentação terminam
com parágrafos quase idênticos.
Pior, percebe-se na própria estruturação do texto, que vai andando em círculos para sempre
chegar ao mesmo tempo, num
abuso de termos-chave que sempre se repetem ("espaço-tempo
dos anos 50", "espaço público",
"papéis sexuais").
No meio disso, a idéia parece ser
única e não comprovada. As últimas frases do livro, defesa típica
do modo "Amélia" de ser, sublimam a decepção: "Todavia, apesar das diferenças e hierarquias,
homens e mulheres não engendram necessariamente interesses
antagônicos. Os antagonismos são
neutralizados pelo envolvimento
amoroso: a paixão".
Livro: Dolores Duran - Experiências
Boêmias em Copacabana nos Anos 50
Autora: Maria Izilda Santos de Matos
Lançamento: Bertrand Brasil
Quanto: R$ 18 (160 págs.)
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