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CINEMA
Programação do Foco África do Sul, no Festival do Rio, reúne filmes de ficção e documentários recentes do país
Jovens africanos levam maturidade à tela
DENISE MOTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Crianças e adolescentes são freqüentemente sábios no cinema
africano, talvez porque, quando
comecem a largar as fraldas, passem a entender e experimentar
privações e provações suficientes
para carimbá-los para a vida adulta. É o que mostram algumas das
produções recentes do continente
que o Festival do Rio traz em seu
Foco África do Sul.
Premiado no festival de Berlim
deste ano com o Urso de Cristal,
na seção do evento alemão dedicada a filmes juvenis, "A Câmera
de Madeira" descreve, na voz de
uma criança, a gênese do destino
de dois garotos que descobrem
um revólver e uma câmera de vídeo entre os pertences de um
morto. O que escolhe o equipamento transforma eventos, pessoas e histórias de sua vizinhança
em alvo de interesse. O outro fará
o mesmo, mas com a arma.
Pobreza, violência, marginalidade, desocupação, altas aspirações em contraste com modestas
oportunidades compõem o cenário dos episódios da série "Yizo
Yizo", um mosaico do dia-a-dia
de jovens em busca de trabalho,
formação profissional e/ou mudança de vida na periferia de Johannesburgo. O tom sombrio das
narrativas faz par desconjuntado,
e por isso chamativo, com a luz e
as vibrantes cores das produções.
Documentários
No ano em que a África do Sul
celebra uma década de democracia, dois documentários apresentam ao Brasil versões atualizadas
do tenso convívio entre brancos e
negros no país, a transformação
de costumes, os resquícios de segregação e os conflitos culturais e
emocionais que chegam a habitar
a raiz da vida cotidiana, como nas
relações familiares inter-raciais de
"A Celebração" e na discriminação destinada às crianças de
"Quero Ser Pavarotti".
"A Celebração" consegue conjugar com naturalidade e contundência religião, homossexualidade, a intimidade de um casamento misto numa sociedade pós-apartheid e até piadas ao mundo
do cinema, ao contar a volta do
ex-ativista e prisioneiro político
Sipho Singiswa (diretor do documentário, ao lado da mulher, Gillian Schütte) à casa dos pais, para
completar uma cerimônia de circuncisão que adiou por 23 anos.
É o retorno às tradições de um
homem que lutou para construir
o projeto de país igualitário e moderno do qual hoje participa. É
também a exposição à família de
seu modo de viver e a introdução
da novidade num ambiente ainda
autodefensivo. Será o momento
em que o garoto, filho de um africano e uma descendente de holandeses, conhecerá os rituais de
seu país -e a ocasião em que tabus da família, da pequena comunidade da qual fazem parte e da
África do Sul virão à tona.
E o preconceito emerge com
força em "Quero Ser Pavarotti",
documentário em torno de Elton,
garoto que deseja ser cantor lírico.
O menino se apresenta para os turistas, para receber uns trocados.
Mas, negro, é enxotado das ruas,
com outros jovens como ele.
Elton vem de uma família pobre
e desequilibrada, mas é talentoso
e acabará ganhando atenção, aulas de canto, promessas, incentivos ocasionais. Porém, sábio que
é, se conforma em não sonhar e
planeja ser policial, porque, na vida, "é assim que as coisas são".
A CÂMERA DE MADEIRA. Ntshavheni
Wa Luruli. Dias 4/10 (16h e 23h30) e 05/
10 (18h), no Espaço Unibanco 3. 90 min.
YIZO YIZO. Teboho Mahlatsi, Angus
Gibson e Andrew Donsunmu. Hoje
(12h30) e amanhã (15h30), no
C.C.Justiça Federal. Dia 29 (21h30), no
Espaço Unibanco 3. 104 min.
A CELEBRAÇÃO. Sipho Singiswa e Gillian
Schütte. Dias 2/10 (20h), no Espaço
Unibanco 3, e 5/10 (12h30 e 16h20), no
C.C.Justiça Federal. 48 min.
QUERO SER
PAVAROTTI. Odette Geldenhuys. Dias
03/10 (20h), no Espaço Unibanco 3, e 5/
10 (12h30 e 16h20), no C.C.Justiça
Federal. 52 min.
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