Artista plástica registra em 10 dias 400 moradias em favela na zona oeste de São Paulo -e expõe, no Museu da Casa Brasileira, fotos usadas em ação contra construtora para evitar despejo dos moradores

Elisa Bracher/Reprodução

Habitação na favela da Linha, local vizinho ao ateliê-ONG fundado há 13 anos por Bracher

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Elisa Bracher teve dez dias para fotografar os 400 barracos da favela da Linha, na zona oeste de São Paulo. Para evitar um despejo em massa, bastava o registro -não importavam luz, foco, ângulo. Quando uma construtora ameaçou expulsar os ocupantes dos barracos, a artista, de uma família da elite de São Paulo e que mantém ali seu ateliê, entrou com uma ação em nome dos moradores e precisou entregar à Justiça toda a documentação fotográfica.
As fotos, que ela diz ter feito no "calor da luta", estão expostas a partir de hoje no Museu da Casa Brasileira, espaço paulistano que -ironia ou não- costuma exibir móveis e interiores de designers. Agora, recebe uma injeção bem mais crua -e não menos bela- de realidade.
"Eu fiz as fotos por necessidade, mas depois vi que era meu olho de artista ali", diz Bracher em seu ateliê-ONG, perto da favela da Linha. Lá, cerca de 350 famílias vivem espremidas lado a lado ao longo de uma única viela. "Foi aí que eu pensei que a favela tem uma lógica, uma engenhosidade para ficar de pé", diz Bracher. "A favela é uma pérola."
E a constatação só veio depois de dez dias de maratona fotográfica, e não dos 13 anos que passou ali. Antes, Bracher estava acostumada com outra realidade do lugar. "Eu sei o que são os ratos passando, como é uma enchente lá dentro, tentar salvar tudo às pressas."
Quando entrou com a ação para defender os moradores, em 2006, um incêndio atingiu alguns barracos. "A gente estava no calor da luta, e eu ouvi dizer que o pessoal gosta de pôr fogo", diz, referindo-se a casos criminosos do passado. Bracher obteve uma doação de extintores para proteger o local de um eventual desastre.


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