São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009

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BIA ABRAMO

"Casa Bonita" expõe pele e partes


Reality show precário com garotas em disputa em Angra dos Reis não se presta nem a culto trash


ATENDE PELO nome de "Casa Bonita" (Multishow; de seg. a sáb., às 23h30; 18 anos) o programa mais trash atualmente no ar, salvo engano (a televisão é quase tão vasta quanto a estupidez humana, portanto, qualquer afirmação muito definitiva nessa intersecção corre risco de erro). É uma espécie de reality show, em que moças com muita pele à mostra disputam gincanas, enfrentam eliminações, respondem a questionários etc.
Há um apresentador, Rodrigo Nogueira, e dois, digamos, auxiliares, cujos codinomes lembram os de duplas de palhaços de circo, Purukinho e Maracujá. No programa, eles são chamados de "nerds" ou, numa versão dita politicamente correta, "intelectuais antiortodoxos". Ah, e o prêmio é uma viagem ao Caribe.
Então esse apresentador, que não tem lá muitos dotes como apresentador, a dupla de palhaços e as tais moças estão todos encerrados numa casona a beira-mar na dita paradisíaca Angra dos Reis. As moças, além de uma disposição incrível para ficar o tempo todo de quatro, mostrando as partes para a câmera, têm aquela "beleza" que facilmente as classifica como material para ensaios ditos sensuais para revistas de quinta, mas dificilmente como bonitas.
Os "jogos" são semelhantes àqueles, por exemplo, do "Big Brother", mas muito menos elaborados, do ponto de vista da produção, e muito mais generosos, no que diz respeito às oportunidades de exposição de pele e partes. Os nerds têm o privilégio de atribuir às moças tarefas ditas sensuais -ensaio de lingerie, no barco de biquíni, à beira da piscina etc.
O diabo é que, além do mar azul e da vegetação de Angra dos Reis, tudo o mais é inacreditavelmente feio ou enfeiado, seja pela precariedade da produção, seja pela incompetência das moças em ir além do clichê sexy, seja pelo aspecto propositalmente repulsivo dos nerds.
O efeito todo é meio de chupar bala com papel. Há sugestão de sexo o tempo todo, mas a camada de feiura impede qualquer tipo de desfrute erótico -a não ser, é claro, que você seja um palhaço do tipo nerd.
Há quem prefira, da indústria cultural em geral e da televisão em particular, justamente isso: o pior do pior, o lixo absoluto, como se, numa operação irônica, daí surgisse, de repente, a graça ou, na hipótese menos ambiciosa, alguma diversão. Mas o problema é que, de certa forma, "Casa Bonita" se leva a sério: o programa se julga, de fato, erótico. Ou seja, nem a esse culto trash "Casa Bonita" se presta: não há sequer uma fresta por onde entrar a ironia.

biabramo.tv@uol.com.br

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