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ERUDITO - CRÍTICA
"Carmina" tem boas escolhas em SP
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
A cantata profana "Carmina
Burana", curioso ponto de confluência entre o erudito e o popular, põe ponto final melancólico à
esgarçada temporada 99 dos Patronos do Theatro Municipal de
São Paulo, apesar das melodias
jocosas, das sonoridades retumbantes e das mais de 200 vozes
que se encarregam de sua interpretação.
Além de apresentar a peça de
Carl Orff (pela última vez hoje à
noite), a sociedade paulistana de
mecenato produziu este ano apenas uma ópera (o "Rigoletto", de
Verdi) e três recitais com sopranos internacionais.
"Carmina Burana" confirma, de
um lado, o bom gosto e adequação das escolhas de estrelas e vozes solistas na programação dos
Patronos. De outro, atualiza uma
espécie de maldição que, há pelo
menos dez anos, paira sobre o
Municipal: a quase completa ausência de identidade sonora de
sua orquestra.
Mesmo numa partitura sem
grandes dificuldades técnicas e
com o apelo popular de "Carmina
Burana", falta à OSM entrega, espírito de conjunto, e até mais
atenção à dinâmica e aos ataques
solicitados por seus regentes.
Embora mais interessados no
que fazem, os músicos dos corais
Lírico e Paulistano soaram abafados no início grandioso da peça
"Fortuna Imperatrix Mundi".
O motivo parece ser a superpopulação no palco, que, além do
mais, transmite a incômoda sensação de "peru no pires", a ponto
de uma das garotas do afinadíssimo coral infantil Eco ter se desequilibrado numa das pontas do
tablado na noite de estréia.
Substituindo à última hora o tenor peruano Juan Diego Flórez, o
contratenor Paulo Mestre vestiu
com semblante e entonação histriônicos eficientes sua aparição
como cisne assado. Após as primeiras entradas, o barítono Paulo
Szot encontrou o tom.
Com timbre igualmente fresco,
a soprano Simone Foltran expandiu com generosidade suas melodiosas linhas finais.
Anunciada como "mágica", a
projeção de telas de mestres da
pintura apenas desfila analogias
óbvias, fazendo o papel de muzak
visual.
A iluminação sublinha de maneira pouco sutil os "tuttis" e incide sobre as imagens de fundo,
prejudicando-as. Embora proveitosa, a legendagem em português
do texto latino torna ainda mais
evidente a distância dessa produção com as intenções cênicas do
compositor alemão admirador de
Stravinski.
Avaliação:
Concerto: Carmina Burana
Com: Orquestra Sinfônica Municipal
(regida por Luiz Fernando Malheiro)
Coral Lírico Municipal (regido por Mario
Záccaro), Coral Paulistano (regido por
Samuel Kerr), Coral Infantil Eco (regido
por Teruo Yoshida) e solistas convidados
Onde: Teatro Municipal de SP (pça.
Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/
222-8698)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 10 a R$ 70
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