São Paulo, Quarta-feira, 27 de Outubro de 1999
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ERUDITO - CRÍTICA
"Carmina" tem boas escolhas em SP

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

A cantata profana "Carmina Burana", curioso ponto de confluência entre o erudito e o popular, põe ponto final melancólico à esgarçada temporada 99 dos Patronos do Theatro Municipal de São Paulo, apesar das melodias jocosas, das sonoridades retumbantes e das mais de 200 vozes que se encarregam de sua interpretação.
Além de apresentar a peça de Carl Orff (pela última vez hoje à noite), a sociedade paulistana de mecenato produziu este ano apenas uma ópera (o "Rigoletto", de Verdi) e três recitais com sopranos internacionais.
"Carmina Burana" confirma, de um lado, o bom gosto e adequação das escolhas de estrelas e vozes solistas na programação dos Patronos. De outro, atualiza uma espécie de maldição que, há pelo menos dez anos, paira sobre o Municipal: a quase completa ausência de identidade sonora de sua orquestra.
Mesmo numa partitura sem grandes dificuldades técnicas e com o apelo popular de "Carmina Burana", falta à OSM entrega, espírito de conjunto, e até mais atenção à dinâmica e aos ataques solicitados por seus regentes.
Embora mais interessados no que fazem, os músicos dos corais Lírico e Paulistano soaram abafados no início grandioso da peça "Fortuna Imperatrix Mundi".
O motivo parece ser a superpopulação no palco, que, além do mais, transmite a incômoda sensação de "peru no pires", a ponto de uma das garotas do afinadíssimo coral infantil Eco ter se desequilibrado numa das pontas do tablado na noite de estréia.
Substituindo à última hora o tenor peruano Juan Diego Flórez, o contratenor Paulo Mestre vestiu com semblante e entonação histriônicos eficientes sua aparição como cisne assado. Após as primeiras entradas, o barítono Paulo Szot encontrou o tom.
Com timbre igualmente fresco, a soprano Simone Foltran expandiu com generosidade suas melodiosas linhas finais.
Anunciada como "mágica", a projeção de telas de mestres da pintura apenas desfila analogias óbvias, fazendo o papel de muzak visual.
A iluminação sublinha de maneira pouco sutil os "tuttis" e incide sobre as imagens de fundo, prejudicando-as. Embora proveitosa, a legendagem em português do texto latino torna ainda mais evidente a distância dessa produção com as intenções cênicas do compositor alemão admirador de Stravinski.


Avaliação:  

Concerto: Carmina Burana Com: Orquestra Sinfônica Municipal (regida por Luiz Fernando Malheiro) Coral Lírico Municipal (regido por Mario Záccaro), Coral Paulistano (regido por Samuel Kerr), Coral Infantil Eco (regido por Teruo Yoshida) e solistas convidados Onde: Teatro Municipal de SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 0/xx/11/ 222-8698) Quando: hoje, às 21h Quanto: de R$ 10 a R$ 70

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