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Masp recebe Rodin e bastidores de seu ateliê
Esculturas e fotografias do estúdio do artista mostram processo por trás da obra
Exposição começa hoje e reúne 22 esculturas e 193 fotos feitas no ateliê de Rodin, um dos mais importantes escultores modernos
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando mostrou sua escultura "A Idade do Bronze", um
homem nu em tamanho real,
Auguste Rodin (1840-1917) foi
acusado de moldar suas formas
direto no corpo do modelo.
Tentou se defender mandando
aos jurados do Salão de Paris,
em 1877, fotografias da obra e
do homem que posou lado a lado, no mesmo fundo e escala.
Depois disso, Rodin, que nasceu junto com a fotografia, em
1840, passou a contratar e receber fotógrafos em seu ateliê.
Registraram o processo de criação por trás de suas obras, as
mudanças nos moldes, estudos
em tamanho maior e menor.
Quase 200 dessas imagens e
22 esculturas do artista estão
agora no Masp. Lado a lado, são
os bastidores da obra e sua presença concreta. Revelam o pensamento do escultor que escandalizou o século 19 com suas
formas derretidas, poses contorcidas e membros decepados.
Logo na entrada da mostra,
uma escultura consegue resumir esse receituário. "As Três
Sombras" são três vezes o mesmo homem, dispostos em torno de um ponto central, onde
quase encostam as mãos. A cabeça inclinada estica o pescoço,
veias saltadas, no ritmo do braço, que pesa rumo ao chão.
Era a cena dominante de sua
"Porta do Inferno", escultura
encomendada pelo governo
francês três anos depois da polêmica em torno de "A Idade do
Bronze". Nesta versão, que costuma ficar no jardim do Museu
Rodin, em Paris, foi ampliada e
destacada do conjunto original.
Da mesma forma, seu "Pensador", obra mais conhecida de
Rodin, foi talhada para o topo
da "Porta do Inferno" e depois
ganhou vida nova e múltipla,
em várias versões e escalas.
Nas fotografias no Masp, esse
homem em pose contemplativa
aparece em moldes de madeira,
gesso e argila. Rodin chegou a
completar com giz alguns traços direto nas impressões, tentando aproximar o pensador
anônimo à figura de Dante Alighieri, autor dos versos que
norteavam toda a composição.
Também fez rabiscos nas
imagens para mudar o enquadramento da "Porta do Inferno" e dar outra forma aos cabelos de sua escultura de Balzac.
Rodin tratava o registro fotográfico como extensão de seus
estudos. Sem pretensão, suas
esculturas aparecem no cenário tosco do ateliê, em frente ao
aquecedor, debaixo de trapos
empoeirados, junto de restos e
sobras de gesso e argila.
Um dos primeiros fotógrafos
a retratar seu estúdio, Eugène
Druet, era o dono do café na
praça de l'Alma, onde Rodin
costumava almoçar. São as
imagens mais cruas das obras,
fragmentos amontoados que,
quando vistos lado a lado, compõem um panorama especular
de todo o trabalho do escultor.
Quando o poeta alemão Rainer Maria Rilke escreve sobre
as mãos esculpidas por Rodin,
"mãos que andam, mãos adormecidas, mãos que despertam,
mãos criminosas, adoentadas",
está descrevendo o conjunto de
retratos dessas mãos feitos aos
montes por Druet no estúdio.
Esses cortes descuidados, ou
mesmo a essência do corte fotográfico, também moldaram a
atitude de Rodin diante da forma humana. Enxergava beleza
só num braço, numa cabeça ou
perna. Construía e desconstruía esculturas arrancando
pedaços, juntando partes, como fotomontagens em bronze.
Também transbordam para
o plano escultórico os acasos da
fotografia. Oscilações de luz e
problemas de exposição equivalem às rachaduras e marcas
dos moldes que Rodin tentou
escancarar em vez de esconder,
como o joelho truncado de "A
Meditação", agora no Masp.
"As Três Sombras", em sua
repetição tripla, também segue
a lógica de múltipla exposição e
produção serial que acompanha a fotografia. A sucessão calculada e programada de uma
mesma imagem atinge até um
caráter cinematográfico, um
homem e uma posição
para cada frame desse
momento.
Tanto que a obra de
Rodin fez mais sentido fotografada do que
vista ao vivo. Edward
Steichen retratou à noite, sob luz difusa, a escultura de Balzac, a mesma
que foi chamada de saco de
batatas e até pinguim pela crítica da época.
Rodin chegou a esconder sua
escultura por dez anos até ver a
imagem de Steichen e admitir
que só então o mundo seria capaz de entender aquela sua homenagem a Honoré de Balzac.
RODIN: DO ATELIÊ AO MUSEU
Quando: abertura hoje, às 19h; ter. a
dom., 11h às 18h; qui., 11h às 20h;
até 13/12
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel.
0/xx/11/3251-5644)
Quanto: R$ 15
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