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MPB: Música Psicodélica Brasileira
Editada nos EUA, coletânea
"Brazilian Guitar Fuzz
Bananas" reúne faixas raras
dos primórdios
lisérgicos do nosso rock
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
A bateria é quase sempre
acelerada. Os vocais variam
entre o etéreo e o esganiçado.
O som das guitarras é distorcido. As letras, escritas sob
puro delírio surrealista.
Primeiro lançamento do
selo americano Tropicalia in
Furs, a coletânea "Brazilian
Guitar Fuzz Bananas" recolhe, em CD simples ou vinil
duplo, 16 faixas da fase mais
psicodélica do rock nacional.
Raríssimo, o material é
uma espécie de elo perdido
da nossa história musical. Jamais foi reeditado por aqui.
E, ironicamente, volta à tona
em edição estrangeira.
As gravações foram feitas
entre 1967 e 1976 e editadas
originalmente em compactos. Já pelos nomes das bandas selecionadas -Loyce e
os Gnomos e Tony e o Som
Colorido, por exemplo- pode-se ter ideia do teor lisérgico do som que faziam.
Os títulos das músicas dão
mais pistas: "LSD - Lindo Sonho Delirante", "As Turbinas
Estão Ligadas", "Som Imaginário de Jimi Hendrix" etc.
A garimpagem de todo esse material foi feita pelo brasileiro Joel Stone, 38. Paulista, ele se mudou para Nova
York há 12 anos e hoje é dono
da loja de discos Tropicalia in
Furs, no East Village.
Joel conta que passou cerca de 4 anos para conseguir
todos esses compactos. Em
barganhas, chegou a trocar
um único disco por 300 LPs
americanos de funk e soul.
"Depois que consegui todos, fiz uma pesquisa sobre
cada um e descobri que quase ninguém conhecia o que
eu tinha, incluindo colecionadores", diz. "A partir daí, o
que eu estava fazendo começou a fazer sentido."
Como não conseguiu localizar todos os envolvidos nas
gravações, Joel fez um esquema de "caderneta de poupança", em que reserva direitos autorais dos artistas que
não foram encontrados.
LSD
"Lindo sonho delirante,
hoje eu quero viajar, yeah,
yeah/ Onde está o meu castelo?/ Meu tapete voador?"
Parceira do cantor Fábio e
do produtor musical Carlos
Imperial, a faixa "Lindo Sonho Delirante" simboliza o
que Joel quis reunir no disco.
A música rouba a ideia de
"Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, em que
as iniciais do título resultam
no termo LSD, o ácido mais
famoso daquela geração.
"O pessoal do rock gostava
dos alucinógenos", diz o cantor Tony Bizarro, 62, que está
no disco com a faixa "O Carona". "A gente, do soul, preferia um "baurets" [maconha],
só queria fumar unzinho."
"Tomava LSD quem queria se libertar", emenda o roqueiro Serguei, 76, intérprete
da malucona "Ouriço".
"Hoje em dia, as bandas de
rock não estão atendendo
nesse sentido. Os beatniks de
agora são os emos", diz. "A
revolução que a gente fez, da
qual sou um dos únicos que
restam, era outra coisa."
Músico ligado ao jazz, Célio Balona caiu na bacia dos
psicodélicos por acaso. Seu
"Tema de Batman" era uma
brincadeira para os filhos.
Disse aos meninos que era
amigo do personagem dos
quadrinhos e, para provar,
criou sua própria versão para
a música que tocava na série
de TV -que soa um tanto lisérgica aos ouvidos adultos.
"Fiz as vozes todas, os arranjos, interpretei o Batman
e os marcianos", lembra.
Intérprete de "Cinturão de
Fogo", Marisa Rossi, 60, afirma que foi a chegada de Roberto Carlos que modificou a
relação dos músicos com a
psicodelia. "Quando ele veio
com a jovem guarda, a coisa
amenizou. Era bom menino e
não queria falar de drogas."
BRAZILIAN GUITAR FUZZ
BANANAS
ARTISTA vários
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