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34ª MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO
CRÍTICA DRAMA
"Carlos" faz a genealogia de um mito
Produzida para a TV, minissérie usa recursos do cinema para contar uma história eletrizante
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
Não se deixe espantar pela
duração de "Carlos". Os três
episódios da série produzida
pela TV francesa valem cada
um de seus 330 minutos. A
versão integral que a Mostra
exibe hoje é a mesma que,
em maio, no Festival de Cannes, causou primeiro polêmica e depois espanto.
Trata-se da única chance
de os espectadores brasileiros seguirem, na tela grande,
a história do terrorista Illich
Ramíres Sanches, conhecido
como Carlos, o Chacal.
A série, que custou 14 milhões de euros (cerca de R$
33 milhões) e foi rodada em
dezenas de países, causou
desconforto em Cannes.
Houve quem achasse que
o Palais não deveria abrir
seus projetores para um produto nascido da TV. Corporativismo. "Carlos" é puro cinema. E de primeira.
O diretor Olivier Assayas
fez um filme eletrizante, que
desconstrói, detalhadamente, um personagem que esteve envolvido em alguns dos
principais acontecimentos
históricos do século 20.
Ele recusou-se a fazer um
hino à glória de Carlos. Assume, porém, o desejo de tratá-lo como mito geracional.
Para personificar esse mito, Assayas contou com a força do ator Edgar Ramirez, venezuelano como o personagem. Ramirez encarna à perfeição a dubiedade do homem de esquerda que vai
sendo cegado pelo narcisismo e pela violência.
O terrorista que fez seu
aprendizado lutando ao lado
dos palestinos, na Jordânia, é
construído com uma personalidade que flerta com o
glamour -seja o do heroísmo midiático, seja o dos prazeres da vida burguesa- e
que se quer um Don Juan.
Ramirez, que passa por
transformações físicas radicais, pode ser tão sedutor
quanto monstruoso.
SEQUESTRO POLÍTICO
Dentre as muitas sequências memoráveis de "Carlos"
está a do sequestro de ministros de diversos países durante a reunião da Opep, em
Viena, em 1975.
A ação, que se desdobra
em uma série de acontecimentos, traz a gênese de conflitos políticos mundiais.
"Carlos" seguirá Chacal
até a queda do Muro de Berlim, quando ele se ligar às células revolucionárias alemãs, mas começar a virar
uma caricatura de si.
Chacal, que fora condenado à prisão perpétua em
1997, na França, é também
um símbolo do fim das utopias e de uma era.
Assayas, como havia feito
em "Horas de Verão" (2008),
olha para o tempo que passou com um quê de melancolia e outro quê de crítica.
Mas a lição que ele deixa
não é nem ideológica nem
política. É cinematográfica.
Em Cannes, disse ter feito um
filme segundo seu conceito
de cinema. Não importava
quem bancaria o filme e onde
se daria sua difusão. Provou
que discutir essas fronteiras
não tem mais sentido.
CARLOS
DIREÇÃO Olivier Assayas
QUANDO hoje, às 18h20, no Cine
Sabesp; sábado (30), às 20h, no
Unibanco Arteplex; dia 2/11, às
16h30, na Cinemateca
CLASSIFICAÇÃO 18 anos
AVALIAÇÃO ótimo
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