|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA DRAMA
Manoel de Oliveira cria obra solene para revelar um Portugal preso ao passado
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
"O Estranho Caso de Angélica" talvez seja um caso único no cinema: um roteiro retomado quase 60 anos depois pelo mesmo diretor. O
artista em questão é, sem dúvida, uma figura única: Manoel de Oliveira, 101, o cineasta mais velho em atividade na história.
Planejado entre 1949 e
1952, o filme foi interditado
pela censura da ditadura de
Salazar (1933-1974) por referências ao nazismo. Agora é
atualizado pelo português (e
coproduzido pela Mostra) à
sua maneira: passa-se no
presente, mas está impregnado do passado -como é
Portugal e, a rigor, a vida.
Na trama, o fotógrafo judeu Isaac (Ricardo Trêpa) é
convocado por uma família
rica para registrar a última
imagem de Angélica, que
acaba de morrer. Ao focá-la,
ela aparece viva e sorridente
no visor da câmera.
É o bastante para que fique
obcecado por ela, desligue-se da realidade e tenha alucinações -como a de sobrevoar a cidade com a moça,
como figuras fantásticas que
parecem saídas de um filme
de George Méliès (1861-1938).
Mas a verdadeira magia de
Oliveira se mostra de forma
mais discreta: uma obra solene para melhor ironizar a solenidade portuguesa, teatral
para criticar o teatro social,
passadista para revelar um
país preso ao passado.
O ESTRANHO CASO DE
ANGÉLICA
DIREÇÃO Manoel de Oliveira
QUANDO hoje, às 21h, no
Cinemark Shopping Eldorado;
sábado (30/10), às 21h40, no
Cinesesc; domingo (31/10), às
19h30, no CCBB
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo
Texto Anterior: 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo - Crítica/Drama: "Carlos" faz a genealogia de um mito Próximo Texto: Foco: Cineasta Bent Hamer defende filmes esperançosos Índice | Comunicar Erros
|