São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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CRÍTICA DRAMA

Manoel de Oliveira cria obra solene para revelar um Portugal preso ao passado

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

"O Estranho Caso de Angélica" talvez seja um caso único no cinema: um roteiro retomado quase 60 anos depois pelo mesmo diretor. O artista em questão é, sem dúvida, uma figura única: Manoel de Oliveira, 101, o cineasta mais velho em atividade na história. Planejado entre 1949 e 1952, o filme foi interditado pela censura da ditadura de Salazar (1933-1974) por referências ao nazismo. Agora é atualizado pelo português (e coproduzido pela Mostra) à sua maneira: passa-se no presente, mas está impregnado do passado -como é Portugal e, a rigor, a vida.
Na trama, o fotógrafo judeu Isaac (Ricardo Trêpa) é convocado por uma família rica para registrar a última imagem de Angélica, que acaba de morrer. Ao focá-la, ela aparece viva e sorridente no visor da câmera.
É o bastante para que fique obcecado por ela, desligue-se da realidade e tenha alucinações -como a de sobrevoar a cidade com a moça, como figuras fantásticas que parecem saídas de um filme de George Méliès (1861-1938).
Mas a verdadeira magia de Oliveira se mostra de forma mais discreta: uma obra solene para melhor ironizar a solenidade portuguesa, teatral para criticar o teatro social, passadista para revelar um país preso ao passado.

O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA

DIREÇÃO Manoel de Oliveira
QUANDO hoje, às 21h, no Cinemark Shopping Eldorado; sábado (30/10), às 21h40, no Cinesesc; domingo (31/10), às 19h30, no CCBB
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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