São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2011 |
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LOUCO É QUEM ME DIZ John Malkovich encarna serial killer em opereta que chega na semana que vem ao Brasil
LUCAS NEVES ENVIADO ESPECIAL A AUSTIN (EUA) Dez minutos. É o que temos para vasculhar a mente de John Malkovich, 57, ator de "Ligações Perigosas", "Queime Depois de Ler" e "O Retorno do Talentoso Ripley", além, é claro, de "Quero Ser John Malkovich". Não será preciso tomar o elevador até o andar sete e meio nem caminhar curvado (por conta do pé-direito liliputiano) em busca do portal de acesso aos pensamentos do intérprete, como no último filme da lista acima. A prospecção se dará na (não menos inóspita) entrada dos fundos de uma sala de espetáculos em Austin, no Texas, no curso de um cigarro e meio e de dois alongamentos de perna do entrevistado. O ator entrega de saída o que vai em sua cabeça: o serial killer austríaco Jack Unterweger (1950-94) é o marionetista residente da vez, quem dita os gestos e modula a voz rouca, quase monocórdia, de Malkovich. O personagem protagoniza "The Infernal Comedy", opereta que desembarca no Brasil na semana que vem. Condenado a prisão perpétua nos anos 70, caiu nas graças da intelectualidade ao escrever, no cárcere, peças e poemas. O lobby dos simpatizantes lhe valeu um indulto. Pouco tempo depois, reincidiu no crime, matando ao menos nove prostitutas na Europa e nos EUA. "O que primeiro me atraiu foi o fato de ter havido nos EUA outro detento escritor que saiu da prisão quando, provavelmente, não deveria: Jack Henry Abbott (1944-2002)", diz o ator. "A diferença é que Abbott escreveu algo de fato bom. Não era um serial killer nem um cínico como Unterweger, que foi um grande mentiroso, não um grande autor." À moda de um Max Overseas, Unterweger irrompe na cena com pose cafajeste e sapato, calça e paletó brancos. Ao contrário do anti-herói de "A Ópera do Malandro", porém, nunca aposentou a navalha em vida. Agora, ganha salvo-conduto da morte para promover a que promete ser sua biografia definitiva. Ladeado por duas sopranos e uma orquestra barroca que percorrem partituras de Mozart, Vivaldi, Haydn e Gluck para ilustrar o inebriamento e a incredulidade das mulheres que o amaram, ele só deseja falar com franqueza, uma vez que seja, das pulsões que o consomem. "Não sinto compaixão por ele. Não se deve confundir isso com a interpretação de um personagem", diz Malkovich. "O que complica é que ele era um tipo engraçado, até carinhoso, segundo relatos. Mas isso não significa que pudesse se colocar na posição de juiz supremo da vida e da morte. Foi aí que deixou sua humanidade escapulir." O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da produção do espetáculo THE INFERNAL COMEDY QUANDO dia 2/11, às 20h30, no Municipal do Rio (0/xx/21/3235-8545); dia 3, às 21h, no Castro Alves, em Salvador (0/xx/71/3117-4889); e dias 4 (às 21h), 5 (às 20h) e 6 (às 17h), no Municipal de São Paulo (0/xx/11/3397-0327) QUANTO de R$ 100 a R$ 2.400 (Rio); de R$ 80 a R$ 120 (Salvador); de R$ 150 a R$ 390 (SP) CLASSIFICAÇÃO 14 anos Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Apesar de seus filmes, ator diz rejeitar o rótulo de "esquisito" Índice | Comunicar Erros |
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