São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2011

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Obras de Sigmar Polke dissecam o pós-guerra alemão

Artista, que morreu no ano passado, tem no Masp sua primeira exposição póstuma fora da Alemanha

Ao lado de Gerhard Richter, Polke fundou em Düsseldorf o irônico estilo conhecido como realismo capitalista

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Foi um sucesso de público a exposição de "arte degenerada" que os nazistas montaram em Munique em 1937.
Lotaram as paredes de arte moderna que diziam ser antialemã, judia ou bolchevique.
Quase 60 anos depois, Sigmar Polke transformou a imagem da fila para ver as obras em serigrafia irônica, no melhor estilo pop, tentando dissecar a natureza da cultura alemã forjada no pós-guerra.
Essa preocupação perpassa a obra do artista morto no ano passado, que tem agora no Masp a primeira mostra póstuma fora da Alemanha.
Nos anos 70, Polke fundou em Düsseldorf, com Gerhard Richter e outros, o chamado realismo capitalista para fazer frente ao realismo socialista da Alemanha Oriental, propaganda política financiada pelo Estado e feita sob encomenda por artistas oficiais.
"Não se podia falar em identidade alemã na época, estava tudo destruído", diz Tereza de Arruda, curadora da mostra. "O país estava sob o domínio dos aliados."
Polke, fã dos Rolling Stones e de Jimi Hendrix, então abusou da estética pop que vivia seu auge do outro lado do Atlântico em composições ácidas sobre seu país, surrupiando imagens publicitárias e construindo alusões à violência econômica e política.
"Ele era livre, desgarrado, não queria se encaixar em nenhum movimento", lembra a filha do artista, Anna Polke, à Folha. "Suas obras tentavam sempre ir além do que estava na superfície da imagem, encontrar algo novo em camadas mais profundas."
Nessa busca, Polke desbastava e desestruturava imagens. Fazia recortes, colagens e simulava até os pontos gráficos de imagens de jornal, obcecado pelo grão mínimo de cada experiência visual.
Numa obra que levou à Bienal de São Paulo em 1975, agora no Masp, ele abusa de clichês -macacos, índios e prostitutas- para atacar a ditadura aqui vigente, com a certeza de que é a leitura rasa o que fica dos traumas e dos abusos da história.

SIGMAR POLKE
QUANDO abre hoje, às 19h30; ter. a dom., 11h às 18h; qui., 11h às 20h; até 29/1/2012
ONDE Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11 3251-5644)
QUANTO R$ 15



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