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MÚSICA
Raimundos ganham
peso em novo CD
MARCELO NEGROMONTE
free-lance para a Folha
Eles abandonaram a Madonna
parada no jardim, desistiram de
ser o assento de bicicleta que absorve suores, já viram o oco, esporraram na manivela. Agora,
partem para a porrada pura.
Harcore até a medula, os Raimundos lançam "Lapadas do Povo", quarto disco do quarteto
candango, uma massa de som
compacta, sem incursões nordestinas explícitas, guitarras preenchendo os espaços vazios e uma
bateria forte marcando pesado.
Produzido por Mark Dearnley,
que já trabalhou com Black Sabbath e AC/DC, "Lapadas do Povo" é, segundo a banda, "Raimundos em caldo, espremido".
"Não abandonamos o forró. Esse disco está mais raízes. O hardcore que a gente sempre fez agora está mais gritante", disse Canisso,
baixista.
"Desde o começo deixamos bem
claro que nós somos uma banda de
rock'n'roll, mas a linha de vocal
tem aquela métrica do repente.
Não dá para fugir, está no gene",
afirmou Fred, baterista.
Apenas um triângulo, em "Baile
Funky", faz lembrar o passado
forró do grupo.
Essa é a música mais longa, quatro minutos, e a mais "politizada" do disco. "A Justiça não me
olha porque é cega/Mas o meu dinheiro ela enxerga", diz um dos
trechos. "É na Igreja que o povo
esvazia os bolsos", diz outra parte
da música, que tem guitarra
wha-wha, lembrando a de "Bulls
on Parade", do Rage Against the
Machine.
Saem as letras de duplo (ou único) sentido, o que, segundo o grupo, é um sinal de evolução e amadurecimento. "Nós já fizemos isso
no primeiro disco, três anos atrás.
Chega, está na hora de buscar novos caminhos", disse Canisso.
"Pequena Raimunda" (cuja rima é óbvia), versão de "Ramona", dos Ramones, é a única em
que a fase adolescente do grupo fica mais evidente. "Essa música a
gente já tinha antes do primeiro
disco", afirmou Fred, baterista.
Espontâneo
"Lapadas do Povo" é o disco
mais espontâneo dos Raimundos.
"Nunca pensamos: 'Vamos parar
com isso (forrócore)'. Chegamos e
fizemos do jeito que saiu", disse
Rodolfo, vocalista.
O tempo entre a gravação e o lançamento, determinado pelo próprio grupo, foi o maior motivo da
"pressão" sofrida por eles para
fazer o disco.
"Isso deu espontaneidade, ficou
a cara da banda. Mas no final ficou
meio apertado", disse Canisso.
Além dos Ramones, Elvis Costello, por sugestão do produtor, está
presente no disco em uma cover de
"Oliver's Army", com mais guitarras, mas mantendo o "roquenrol" do ex-punk.
Gravado em Los Angeles ("por
falta de horário em estúdios daqui"), o disco traz músicas tão velozes quanto as do Ratos do Porão,
como "Véio, Manco e Gordo" e
"Crumis Ódamis", ambas com
menos de dois minutos.
Na primeira, "um alerta contra
a ociosidade", Rodolfo dispara
248 palavras em exato um minuto.
Por falta de tempo, a última música, "Bass Hell", ficou sem letra.
"Levaram a prova antes de terminarmos", disse Canisso.
A música, com elementos de rap,
funciona como um "chill out"
depois de tanta lapada na orelha.
Disco: Lapadas do Povo
Banda: Raimundos
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18, em média
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