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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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Projeto busca preservar o folclore local

DO ENVIADO ESPECIAL

Na dança do araruna, Cornélio Campina, 95, mostra-se garboso em seu paletó branco, gravata-borboleta, cartola.
No boi calemba, Manoel Marinheiro, 72, surge paramentado em uma capa vermelha, de fitas coloridas, espelhinhos. Na cabeça, a coroa e a convicção de que não será a cadeira de rodas, com ele há três meses, um estorvo para que não brinque como o bisavô, o avô, o pai.
Campina é diretor-artístico da Sociedade Araruna de Danças Antigas e Semidesaparecidas, criada por Câmara Cascudo em 1956. A araruna traz pares vestidos à moda aristocrática para dançar xote, valsa e polca, "besouro", "bode" etc.
Ele e Manoel Marinheiro, que coordena o boi de reis Calemba desde o início dos anos 60, fazem parte daquela gente semi ou analfabeta dos sertões ou cidades do Nordeste. Gente que legou a tradição artística de seus ancestrais e a mantêm ou a reinventa ao longo dos anos.
É gente que trata prefeito por "doutor", que reclama da exploração de políticos sobre seus talentos sempre mal-remunerados, que sonha com uma participação na TV como forma de levar sua cultura ao longe. "Espero que as novas gerações tenham a mesma chance que a gente está tendo de estudar o folclore ao vivo", diz o folclorista Deífilo Gurgel, 77, ex-aluno de Câmara Cascudo e autor de publicações na área.
Quem idealizou o projeto é a professora aposentada Isaura Amélia de Sousa Rosado Maia, 55. Nascida em Mossoró, lecionou durante 25 anos, estudou na Espanha e na Escócia, países em que "tropeçava no folclore" o tempo todo, e há cerca de seis anos transita por cargos administrativos tentando abrir espaço para a cultura popular.
"É só ela que vai afirmar a identidade potiguar e expor o nosso diferencial. Orquestra sinfônica tem em todas as cidades, mas os papangus e os caboclinhos são da gente", afirma Maia, que tenta convencer os governantes a unir o útil ao agradável quando se pensa em potencializar o turismo e, com ele, a economia local. Orçado em R$ 557 mil, o projeto tem recursos do Ministério da Educação e do governo do RN.


1ª MOSTRA DE CULTURA POPULAR NA EDUCAÇÃO. Onde: ginásio de esportes Humberto Nesi (BR-101, s/ nº, Lagoa Nova, Natal, tel. 0/xx/84/ 232-1303). Quando: amanhã, sáb. e dom., às 20h. Quanto: entrada franca.


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