|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Projeto busca preservar o folclore local
DO ENVIADO ESPECIAL
Na dança do araruna, Cornélio Campina, 95, mostra-se garboso em seu paletó branco,
gravata-borboleta, cartola.
No boi calemba, Manoel Marinheiro, 72, surge paramentado em uma capa vermelha, de
fitas coloridas, espelhinhos. Na
cabeça, a coroa e a convicção
de que não será a cadeira de rodas, com ele há três meses, um
estorvo para que não brinque
como o bisavô, o avô, o pai.
Campina é diretor-artístico
da Sociedade Araruna de Danças Antigas e Semidesaparecidas, criada por Câmara Cascudo em 1956. A araruna traz pares vestidos à moda aristocrática para dançar xote, valsa e polca, "besouro", "bode" etc.
Ele e Manoel Marinheiro, que
coordena o boi de reis Calemba
desde o início dos anos 60, fazem parte daquela gente semi
ou analfabeta dos sertões ou cidades do Nordeste. Gente que
legou a tradição artística de
seus ancestrais e a mantêm ou a
reinventa ao longo dos anos.
É gente que trata prefeito por
"doutor", que reclama da exploração de políticos sobre
seus talentos sempre mal-remunerados, que sonha com
uma participação na TV como
forma de levar sua cultura ao
longe. "Espero que as novas gerações tenham a mesma chance que a gente está tendo de estudar o folclore ao vivo", diz o
folclorista Deífilo Gurgel, 77,
ex-aluno de Câmara Cascudo e
autor de publicações na área.
Quem idealizou o projeto é a
professora aposentada Isaura
Amélia de Sousa Rosado Maia,
55. Nascida em Mossoró, lecionou durante 25 anos, estudou
na Espanha e na Escócia, países
em que "tropeçava no folclore"
o tempo todo, e há cerca de seis
anos transita por cargos administrativos tentando abrir espaço para a cultura popular.
"É só ela que vai afirmar a
identidade potiguar e expor o
nosso diferencial. Orquestra
sinfônica tem em todas as cidades, mas os papangus e os caboclinhos são da gente", afirma
Maia, que tenta convencer os
governantes a unir o útil ao
agradável quando se pensa em
potencializar o turismo e, com
ele, a economia local. Orçado
em R$ 557 mil, o projeto tem
recursos do Ministério da Educação e do governo do RN.
1ª MOSTRA DE CULTURA POPULAR
NA EDUCAÇÃO. Onde: ginásio de
esportes Humberto Nesi (BR-101, s/
nº, Lagoa Nova, Natal, tel. 0/xx/84/
232-1303). Quando: amanhã, sáb. e
dom., às 20h. Quanto: entrada franca.
Texto Anterior: Reino dos Brincantes Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|