|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FESTIVAL DE BRASÍLIA
"Filme de Amor", inédito nas telas, foi escolhido melhor longa do evento, que terminou anteontem
Julio Bressane leva seu terceiro Candango
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Com "Filme de Amor", longa
inédito nos cinemas, o cineasta
Julio Bressane, 57, venceu pela
terceira vez o Festival de Brasília
do Cinema Brasileiro, cuja 36ª
edição foi encerrada anteontem.
Bressane é dono do troféu Candango de melhor filme de 1982
("Tabu") e de 1997 ("Miramar").
O júri popular e o da crítica deram ao documentário de Silvio
Tendler sobre o cineasta Glauber
Rocha (1939-1981), "Glauber o
Filme, Labirinto do Brasil", o título de melhor longa.
A cerimônia de entrega dos prêmios, realizada no Teatro Nacional Cláudio Santoro, começou
com 45 minutos de atraso e terminou com um auto-elogio -"Eu
dedico este prêmio a mim mesmo", disse o produtor do filme
vencedor, Tarcísio Vidigal.
Durante suas duas horas de duração, o encerramento do Festival
de Brasília teve um momento de
delicadeza, quando a atriz Djin
Sganzerla recebeu, em nome de
seu pai, o cineasta Rogério Sganzerla, 58, o prêmio de melhor direção, por "O Signo do Caos".
Tentando modular a voz que
denunciava o choro, Djin contou
que recentemente havia ouvido
seu pai dizer que, se algo pode salvá-lo, é uma câmera. Sganzerla
sofre de câncer e está em tratamento, por isso não compareceu.
A entrega dos prêmios foi intercalada pelo show "Forrópera",
que teria o objetivo de contar em
capítulos e em tom paródico a
história do cinema brasileiro.
Submetido a frases como "Que
mouse te fiz, mulher?/Em todo caso já vou windows", o público se
irritou progressivamente -passou do silêncio à vaia e, desta, ao
abandono do teatro.
O júri concedeu um Prêmio Especial ao argumento de "Garotas
do ABC", de Carlos Reichenbach.
Como argumento é uma idéia,
não uma realização, o vencedor
viu na premiação mais a expressão de um desapreço do que uma
lisonja. "É para o argumento? Cacete!", disse no palco. À Folha,
Reichenbach resumiu sua indignação com um "Não entendi. Não
entendi mesmo".
Antes do troféu do júri oficial,
Reichenbach havia recebido
menção honrosa do Prêmio Andi
- Cinema pela Infância, "por apresentar com sensibilidade o trabalho de jovens operários". Ao aceitá-la, o diretor afirmou: "Eu me
orgulho de ter feito um filme violento, sobre a violência urbana no
Brasil, sem um fotograma com
crianças armadas".
O ator Paulo César Pereio, protagonista de "Harmada", de Maurice Capovilla, e vencedor mais
aplaudido, disse: "Ainda bem que
eu ganhei. Senão a [produtora]
Sara Silveira [de "Garotas do
ABC'] ia dar porrada". Pereio era
o favorito do público e da maioria
dos profissionais que acompanharam a disputa.
Depois de agradecer e se declarar surpreso com o prêmio de melhor filme, Bressane retornou ao
microfone para um adendo. Disse
que os demais cineastas concorrentes "são além do bem e do
mal" e que "uma coisa é ser amado, outra, é ser "o" amado".
"Filme de Amor" ganhou também fotografia (Walter Carvalho)
e trilha sonora (Guilherme Vaz).
"Garotas do ABC" levou os prêmios de ator e atriz coadjuvantes
(Ênio Gonçalves e Vera Mancini).
A melhor montagem foi de Rogério Sganzerla e Sílvio Renoldi ("O
Signo do Caos").
A melhor atriz foi a austríaca
Ruth Rieser, em "Lost Zweig", de
Sylvio Back, que venceu também
direção de arte (Bárbara Quadros) e roteiro (Back e Nichollas
O'Neir). O melhor curta em 35
mm foi o mineiro "Rua da Amargura", de Rafael Conde.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do festival.
Texto Anterior: Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: Seleção foi a mais magnífica que se viu desde os anos 70 Próximo Texto: Brasilianas - Prêmios 1: Vencedores recebem serviços cinematográficos Índice
|