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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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FESTIVAL DE BRASÍLIA

"Filme de Amor", inédito nas telas, foi escolhido melhor longa do evento, que terminou anteontem

Julio Bressane leva seu terceiro Candango

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Com "Filme de Amor", longa inédito nos cinemas, o cineasta Julio Bressane, 57, venceu pela terceira vez o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, cuja 36ª edição foi encerrada anteontem. Bressane é dono do troféu Candango de melhor filme de 1982 ("Tabu") e de 1997 ("Miramar").
O júri popular e o da crítica deram ao documentário de Silvio Tendler sobre o cineasta Glauber Rocha (1939-1981), "Glauber o Filme, Labirinto do Brasil", o título de melhor longa.
A cerimônia de entrega dos prêmios, realizada no Teatro Nacional Cláudio Santoro, começou com 45 minutos de atraso e terminou com um auto-elogio -"Eu dedico este prêmio a mim mesmo", disse o produtor do filme vencedor, Tarcísio Vidigal.
Durante suas duas horas de duração, o encerramento do Festival de Brasília teve um momento de delicadeza, quando a atriz Djin Sganzerla recebeu, em nome de seu pai, o cineasta Rogério Sganzerla, 58, o prêmio de melhor direção, por "O Signo do Caos".
Tentando modular a voz que denunciava o choro, Djin contou que recentemente havia ouvido seu pai dizer que, se algo pode salvá-lo, é uma câmera. Sganzerla sofre de câncer e está em tratamento, por isso não compareceu.
A entrega dos prêmios foi intercalada pelo show "Forrópera", que teria o objetivo de contar em capítulos e em tom paródico a história do cinema brasileiro. Submetido a frases como "Que mouse te fiz, mulher?/Em todo caso já vou windows", o público se irritou progressivamente -passou do silêncio à vaia e, desta, ao abandono do teatro.
O júri concedeu um Prêmio Especial ao argumento de "Garotas do ABC", de Carlos Reichenbach. Como argumento é uma idéia, não uma realização, o vencedor viu na premiação mais a expressão de um desapreço do que uma lisonja. "É para o argumento? Cacete!", disse no palco. À Folha, Reichenbach resumiu sua indignação com um "Não entendi. Não entendi mesmo".
Antes do troféu do júri oficial, Reichenbach havia recebido menção honrosa do Prêmio Andi - Cinema pela Infância, "por apresentar com sensibilidade o trabalho de jovens operários". Ao aceitá-la, o diretor afirmou: "Eu me orgulho de ter feito um filme violento, sobre a violência urbana no Brasil, sem um fotograma com crianças armadas".
O ator Paulo César Pereio, protagonista de "Harmada", de Maurice Capovilla, e vencedor mais aplaudido, disse: "Ainda bem que eu ganhei. Senão a [produtora] Sara Silveira [de "Garotas do ABC'] ia dar porrada". Pereio era o favorito do público e da maioria dos profissionais que acompanharam a disputa.
Depois de agradecer e se declarar surpreso com o prêmio de melhor filme, Bressane retornou ao microfone para um adendo. Disse que os demais cineastas concorrentes "são além do bem e do mal" e que "uma coisa é ser amado, outra, é ser "o" amado".
"Filme de Amor" ganhou também fotografia (Walter Carvalho) e trilha sonora (Guilherme Vaz). "Garotas do ABC" levou os prêmios de ator e atriz coadjuvantes (Ênio Gonçalves e Vera Mancini). A melhor montagem foi de Rogério Sganzerla e Sílvio Renoldi ("O Signo do Caos").
A melhor atriz foi a austríaca Ruth Rieser, em "Lost Zweig", de Sylvio Back, que venceu também direção de arte (Bárbara Quadros) e roteiro (Back e Nichollas O'Neir). O melhor curta em 35 mm foi o mineiro "Rua da Amargura", de Rafael Conde.


A jornalista Silvana Arantes viajou a convite da organização do festival.


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