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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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DANÇA/CRÍTICA

Espetáculo marca o início da parceria entre o cultuado coreógrafo americano e o grupo carioca DeAnima

Forsythe alinha coreografia e projeto social

INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

São duas ações que dialogam. Na primeira estão os meninos do projeto social da companhia DeAnima. Na outra, o grupo de dança, trabalhando uma linguagem "moderna nas pontas". O espetáculo "Forsythe@DeAnima", que estreou semana passada no Rio, marca o início da parceria entre o coreógrafo William Forsythe, reconhecido mundialmente, e a companhia carioca, que busca seu lugar no panorama. A qualidade do trabalho de Forsythe garante um reconhecimento das habilidades do grupo e representa um importante passo adiante em sua trajetória.
A noite começa com a coreografia "9.AllStars!", com os 18 jovens do projeto social em cena, após uma semana trabalhando com Forsythe. A urgência de ações como essa não se discute; mas não há solução fácil para quem quer trabalhar questões sociais através da arte. A presença dos meninos busca abertamente romper barreiras; mas o quanto isso é atingido, ou o quanto favorece o crescimento desses jovens é algo que teria de ser avaliado com cuidado.

Ajustes
Após esta introdução, dois grandes duos de Forsythe: "Slingerland" e "Herman Schmerman". Na noite da estréia, o primeiro duo ainda carecia de ajuste: pequenos deslizes e tropeços quebravam a harmonia de uma peça que joga com as dinâmicas, os fluxos e os contrapesos do próprio movimento da dança. É um trabalho difícil, que deve se afinar com o tempo.
Já "Herman Schmerman" foi espetacularmente dançado por Paula Maracajá e Roberto de Oliveira (coreógrafo e diretor da companhia, ao lado de Richard Cragun). Os movimentos sincopados encontram seu correspondente na música de Gavin Bryars. Os gestos expressam multiplicidade de pensamentos, com intensidade e concentração; sugerem que a batida da música vem de braços e pernas, que redesenham a geometria dos corpos. Quadril, joelho e ombro são centros a partir de onde o corpo se ondula em sinuosidades.

Narrativa
Para terminar, "Uma Semana com Bill(y)", de Oliveira, coreografia narrativa inspirada no universo de Forsythe. Muitos dos gestos característicos da linguagem do coreógrafo estão lá, assim como a multiplicação de planos e estruturas. Mas a tônica aqui é a da narrativa: a relação de um coreógrafo com sua companhia, tentando materializar como se dá a transferência de conhecimento. Se a experiência é materializável ou não, continua em suspenso: o que se vê é uma supersobreposição de informações.
Se há uma coisa que não está em dúvida é que a influência de um coreógrafo como Forsythe seja profícua para todos. Sob essa luz, o trabalho da DeAnima evidentemente revela crescimento. Dizer que a essência de seu trabalho talvez ainda esteja para ser revelada pelos próprios integrantes do grupo só faz jus ao empenho e talento da companhia.


Forsythe@DeAnima  
Onde: Teatro Villa-Lobos (r. Princesa Isabel, 440, RJ, tel. 0/xx/ 21/ 2275-6695)
Quando: de qui. a sáb., às 21h e dom., às 20h
Quanto: R$ 30



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