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DANÇA/CRÍTICA
Espetáculo marca o início da parceria entre o cultuado coreógrafo americano e o grupo carioca DeAnima
Forsythe alinha coreografia e projeto social
INÊS BOGÉA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
São duas ações que dialogam.
Na primeira estão os meninos
do projeto social da companhia
DeAnima. Na outra, o grupo de
dança, trabalhando uma linguagem "moderna nas pontas". O espetáculo "Forsythe@DeAnima",
que estreou semana passada no
Rio, marca o início da parceria entre o coreógrafo William Forsythe, reconhecido mundialmente,
e a companhia carioca, que busca
seu lugar no panorama. A qualidade do trabalho de Forsythe garante um reconhecimento das habilidades do grupo e representa
um importante passo adiante em
sua trajetória.
A noite começa com a coreografia "9.AllStars!", com os 18 jovens
do projeto social em cena, após
uma semana trabalhando com
Forsythe. A urgência de ações como essa não se discute; mas não
há solução fácil para quem quer
trabalhar questões sociais através
da arte. A presença dos meninos
busca abertamente romper barreiras; mas o quanto isso é atingido, ou o quanto favorece o crescimento desses jovens é algo que teria de ser avaliado com cuidado.
Ajustes
Após esta introdução, dois
grandes duos de Forsythe: "Slingerland" e "Herman Schmerman". Na noite da estréia, o primeiro duo ainda carecia de ajuste:
pequenos deslizes e tropeços quebravam a harmonia de uma peça
que joga com as dinâmicas, os fluxos e os contrapesos do próprio
movimento da dança. É um trabalho difícil, que deve se afinar
com o tempo.
Já "Herman Schmerman" foi
espetacularmente dançado por
Paula Maracajá e Roberto de Oliveira (coreógrafo e diretor da
companhia, ao lado de Richard
Cragun). Os movimentos sincopados encontram seu correspondente na música de Gavin Bryars.
Os gestos expressam multiplicidade de pensamentos, com intensidade e concentração; sugerem
que a batida da música vem de
braços e pernas, que redesenham
a geometria dos corpos. Quadril,
joelho e ombro são centros a partir de onde o corpo se ondula em
sinuosidades.
Narrativa
Para terminar, "Uma Semana
com Bill(y)", de Oliveira, coreografia narrativa inspirada no universo de Forsythe. Muitos dos
gestos característicos da linguagem do coreógrafo estão lá, assim
como a multiplicação de planos e
estruturas. Mas a tônica aqui é a
da narrativa: a relação de um coreógrafo com sua companhia,
tentando materializar como se dá
a transferência de conhecimento.
Se a experiência é materializável
ou não, continua em suspenso: o
que se vê é uma supersobreposição de informações.
Se há uma coisa que não está em
dúvida é que a influência de um
coreógrafo como Forsythe seja
profícua para todos. Sob essa luz,
o trabalho da DeAnima evidentemente revela crescimento. Dizer
que a essência de seu trabalho talvez ainda esteja para ser revelada
pelos próprios integrantes do grupo só faz jus ao empenho e talento
da companhia.
Forsythe@DeAnima
Onde: Teatro Villa-Lobos (r. Princesa
Isabel, 440, RJ, tel. 0/xx/ 21/ 2275-6695)
Quando: de qui. a sáb., às 21h e dom., às
20h
Quanto: R$ 30
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