MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Um homem que, após conseguir a festa de sua vida, decidiu morrer. Esse é o retrato pintado pela série "Grandes Escritores" baseado na vida do escritor americano Truman Capote (1924-84), autor de "A Sangue Frio", obra ímpar do jornalismo-literatura.
A festa foi em 1966, logo após o lançamento do livro que lhe concedeu o ápice de uma carreira que ascendia desde os 21 anos, quando publicou seu primeiro conto. Muito jovem, Capote já era o queridinho das colunas sociais, e seu jeito mordaz e cativante fazia sucesso no jet set de Nova York.
Mas sua infância tinha sido o contrário. Filho de um casamento atribulado, com um pai omisso e uma mãe dada a amantes, Capote experimentou a solidão em várias etapas, até que se mudou para Nova York com a mãe. Arrumou emprego em um jornal e aí, seu talento passou a cintilar.
Seus primeiros trabalhos foram, de certa forma, o exorcismo de seus demônios. Mas, enquanto Truman acertava contas consigo, se esbaldava em festas e viagens. Era um dândi talentoso.
Em 1959, porém, mergulhou fundo na matéria-prima de "A Sangue Frio": o assassinato de um fazendeiro e de três de seus familiares. Fez dela um "romance não-romanceado", dedicando-lhe seis anos. Envolveu-se com os personagens, em especial com os dois assassinos, de tal forma que a sentença de morte dada a eles acabou por fazer sua vida girar 180 graus.
O desfecho da história deu a Capote sua obra-prima. O reconhecimento dado a ela foi pretexto para uma festa considerada a maior noite do século 20 em NY, a vaidosa vingança de um caipira que ansiava por admiração.
Também foi o início de um processo de autodestruição, abuso de drogas e álcool, que culminaram em sua morte, em 1984.
"Grandes Escritores" faz pensar que a vida de Capote daria uma ótima história. Sua obra permite dizer que, na verdade, deu várias.