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LITERATURA
Principal evento da área editorial na América Latina começa hoje em Guadalajara e homenageia cultura catalã
Feira no México reúne 400 escritores
FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA CIDADE DO MÉXICO
Tendo como "convidada de
honra" a cultura catalã, começa
hoje a 18ª Feira Internacional do
Livro de Guadalajara. Com isso, o
principal evento literário da América Latina e maior mercado
mundial de publicações em espanhol se volta para um grupo peculiar, que, dentro da Espanha, se
constitui quase -e se quer de fato- como uma pátria à parte.
A começar por um idioma próprio, cujo número de falantes se
estima em 11 milhões de pessoas
na Europa. Estaria a FIL reconhecendo a "independência", cultural que seja, da Catalunha?
"A cultura catalã é convidada da
FIL pela riqueza da sua cultura e
pela força de sua indústria editorial", resume Myriam Vidriales,
membro da organização, a cargo
da Universidade de Guadalajara.
"O fato de que não seja um país
não é novo na história da feira",
continua, lembrando os Estados
norte-americanos do Novo México (1994) e Porto Rico (1998) e o
canadense Québec: "A importância do convidado não está em sua
independência cultural, mas em
sua força cultural".
De fato, são fortíssimos os aportes da Catalunha ao mundo dos livros, como arte e como negócio.
A região tem constantemente
provido as prateleiras de autores
cujos nomes volta e meia ecoam
mundo afora.
Nomes como Mercé Rodoreda
(1908-1983), que, apesar de traduzida do catalão original para o espanhol (e de ter o reconhecimento da crítica), não é acolhida como
deveria entre os atuais 400 milhões de falantes desse idioma. Ou
como Carlos Ruiz Zafón, um dos
presentes à FIL, cujo romance "La
Sombra del Viento" (A Sombra
do Vento) é um enorme sucesso
de público em espanhol. E, diga-se de passagem, em inglês, em alemão e outros tantos idiomas (que
ao longo deste ano rondavam a
dezena) aos quais se verteu (inclusive o catalão), tendo ultrapassado o milhão de exemplares.
Números crescentes
Também nas contas da própria
feira os números são ascendentes.
Para a presente edição, se esperam 450 mil visitantes, que se
"perderão" entre os estandes de
algo como 1.500 editoras (cerca de
cem a mais do que em 2003) e se
debaterão para ver de perto escritores famosos.
Serão 400 autores, entre os do
idioma local -como o mexicano
Carlos Fuentes e o espanhol (de
mãe catalã) Juan Goytisolo, ganhador do prestigioso Juan Rulfo,
um dos oito prêmios concedidos
pela FIL, a ser entregue hoje- e
de outras línguas -caso, por
exemplo, do português José Saramago e do norte-americano James Ellroy.
Presença nacional
"A relação da feira -de Guadalajara, de modo geral- com o
Brasil sempre foi próxima", diz
Myriam Vidriales, aludindo aos
eternos ecos da Copa de 70, quando a cidade hospedou a seleção
que conquistaria o tricampeonato
mundial de futebol. "Claro que,
desde que foi convidado de honra
[em 2000], se abriram canais de
comunicação, e sua presença se
fortaleceu", afirma. "De resto, ter
Rubem Fonseca como ganhador
do Prêmio Juan Rulfo no ano passado fez com que o Brasil fosse
muito notado na feira."
Vidriales vê como "fruto do esforço que se faz a cada ano" o fato
de que, nesta edição do evento, o
estande organizado pela Câmara
Brasileira do Livro terá 30 editoras, "o que representa um aumento de quase 28% em relação a
2003", contabiliza.
Novos e não tão novos
Ao lado dos encontros (de escritores com o público, de discussão
do mercado e da academia), homenagens (aos poetas centenários Pablo Neruda, chileno, e Salvador Novo, mexicano, e ao ficcionista catalão Manuel Vázquez
Montalbán, morto no ano passado), a programação da FIL, que se
estende até o dia 5, abrange também música, cinema, teatro e artes plásticas.
E lançamentos, claro: mais de
200. Curiosamente, porém, um
dos títulos que devem atrair mais
atenção não é nenhuma "novidade" editorial, mas aquele com que
Cervantes inaugurou o romance
como gênero. "Dom Quixote", ou
"El Quijote", como se diz em espanhol, ganha da Alfaguara uma
edição revista, com prefácio do
peruano Mario Vargas Llosa, comemorando desde já os seus 400
anos, que se completam no ano
que vem.
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