São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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LITERATURA

Principal evento da área editorial na América Latina começa hoje em Guadalajara e homenageia cultura catalã

Feira no México reúne 400 escritores

FRANCESCA ANGIOLILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA CIDADE DO MÉXICO

Tendo como "convidada de honra" a cultura catalã, começa hoje a 18ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara. Com isso, o principal evento literário da América Latina e maior mercado mundial de publicações em espanhol se volta para um grupo peculiar, que, dentro da Espanha, se constitui quase -e se quer de fato- como uma pátria à parte.
A começar por um idioma próprio, cujo número de falantes se estima em 11 milhões de pessoas na Europa. Estaria a FIL reconhecendo a "independência", cultural que seja, da Catalunha?
"A cultura catalã é convidada da FIL pela riqueza da sua cultura e pela força de sua indústria editorial", resume Myriam Vidriales, membro da organização, a cargo da Universidade de Guadalajara. "O fato de que não seja um país não é novo na história da feira", continua, lembrando os Estados norte-americanos do Novo México (1994) e Porto Rico (1998) e o canadense Québec: "A importância do convidado não está em sua independência cultural, mas em sua força cultural".
De fato, são fortíssimos os aportes da Catalunha ao mundo dos livros, como arte e como negócio. A região tem constantemente provido as prateleiras de autores cujos nomes volta e meia ecoam mundo afora.
Nomes como Mercé Rodoreda (1908-1983), que, apesar de traduzida do catalão original para o espanhol (e de ter o reconhecimento da crítica), não é acolhida como deveria entre os atuais 400 milhões de falantes desse idioma. Ou como Carlos Ruiz Zafón, um dos presentes à FIL, cujo romance "La Sombra del Viento" (A Sombra do Vento) é um enorme sucesso de público em espanhol. E, diga-se de passagem, em inglês, em alemão e outros tantos idiomas (que ao longo deste ano rondavam a dezena) aos quais se verteu (inclusive o catalão), tendo ultrapassado o milhão de exemplares.

Números crescentes
Também nas contas da própria feira os números são ascendentes. Para a presente edição, se esperam 450 mil visitantes, que se "perderão" entre os estandes de algo como 1.500 editoras (cerca de cem a mais do que em 2003) e se debaterão para ver de perto escritores famosos.
Serão 400 autores, entre os do idioma local -como o mexicano Carlos Fuentes e o espanhol (de mãe catalã) Juan Goytisolo, ganhador do prestigioso Juan Rulfo, um dos oito prêmios concedidos pela FIL, a ser entregue hoje- e de outras línguas -caso, por exemplo, do português José Saramago e do norte-americano James Ellroy.

Presença nacional
"A relação da feira -de Guadalajara, de modo geral- com o Brasil sempre foi próxima", diz Myriam Vidriales, aludindo aos eternos ecos da Copa de 70, quando a cidade hospedou a seleção que conquistaria o tricampeonato mundial de futebol. "Claro que, desde que foi convidado de honra [em 2000], se abriram canais de comunicação, e sua presença se fortaleceu", afirma. "De resto, ter Rubem Fonseca como ganhador do Prêmio Juan Rulfo no ano passado fez com que o Brasil fosse muito notado na feira."
Vidriales vê como "fruto do esforço que se faz a cada ano" o fato de que, nesta edição do evento, o estande organizado pela Câmara Brasileira do Livro terá 30 editoras, "o que representa um aumento de quase 28% em relação a 2003", contabiliza.

Novos e não tão novos
Ao lado dos encontros (de escritores com o público, de discussão do mercado e da academia), homenagens (aos poetas centenários Pablo Neruda, chileno, e Salvador Novo, mexicano, e ao ficcionista catalão Manuel Vázquez Montalbán, morto no ano passado), a programação da FIL, que se estende até o dia 5, abrange também música, cinema, teatro e artes plásticas.
E lançamentos, claro: mais de 200. Curiosamente, porém, um dos títulos que devem atrair mais atenção não é nenhuma "novidade" editorial, mas aquele com que Cervantes inaugurou o romance como gênero. "Dom Quixote", ou "El Quijote", como se diz em espanhol, ganha da Alfaguara uma edição revista, com prefácio do peruano Mario Vargas Llosa, comemorando desde já os seus 400 anos, que se completam no ano que vem.

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