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POLÍTICA INTERNACIONAL/"O IMPÉRIO CONTRA-ATACA"
Ferreira expõe Bush e suas guerras
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O novo livro do jornalista Argemiro Ferreira, que já nos
deu um relato detalhado do macartismo, é obra de referência, tal
o volume de informações reunidas e organizadas pelo autor. "O
Império Contra-Ataca" (Paz e
Terra) tem boa parte ocupada por
pés de página identificando citações que funcionam como traços
de união entre as muitas incursões feitas pelo especialista em
questões internacionais.
O tema central é Bush e suas
guerras, para ele e elas convergem
o que foi pesquisado. Unilateralismo e "votos roubados" acabam ficando num mesmo contexto. O
mesmo acontece com formação
política, num "habitat" dinástico,
e crimes corporativos. Como um
presidente eleito com votos suspeitos e o favorecimento judicial,
de uma Corte Suprema com
maioria conservadora, como ele,
seu Texas e seu Partido Republicano, teve fôlego para lançar-se
numa política de decisões unilaterais? Com disposição de esmagar
adversários externos e internos?
Um Bush beneficiário da onda
de patriotadas pós-atentados de
11/9 explica o grosso de porções
de arrogância, mas não a sua totalidade. A facção que se tornou dominante no governo Bush ocupou Washington com projeto definido que teoricamente independia das ações de Bin Laden.
Por meio da maioria republicana no Congresso, Bush conseguiu
aprovar cortes de impostos em favor dos mais ricos antes do 11/9. O
projeto andava. O terrorismo funcionou como força de empuxe.
Nesse quadro de radicalização,
Argemiro traça a via-crúcis do general Colin Powell, retrato de escassa moderação que acabou
traindo a si próprio com o depoimento no Conselho de Segurança
da ONU, "comprovando" a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Nem um Powell
existe no segundo mandato. A
promiscuidade com as corporações da Casa Branca pós-2000 teria como marco inicial a reação de
Bush pai, chefe da dinastia, a rumores sobre corrupção e os filhos.
"Os meninos precisam ganhar a
vida", justificou o pai.
O livro é aberto por uma cronologia que parte de janeiro de 91,
do fim do ultimato dado por Bush
pai para que Saddan Hussein retirasse suas tropas do Kuait, e se encerra com as convenções dos partidos Democrata e Republicano
em 2004. Pouco depois da primeira guerra do Golfo, "obra inacabada" do pai, Bush deu informações à Securities Exchange Commission sobre vendas não comunicadas em prazos legais de ações
da Harken Energy, da qual fora alto executivo. Numa simples cronologia, vê-se a proximidade entre guerra numa região cheia de
petróleo e negócios suspeitos.
O terrorismo, com a incorporação de componentes religiosos,
favoreceu os "neoconservadores"
com seu projeto anterior de criação de uma ordem capitalista
mundial a partir do Iraque invadido e "democratizado"...
Pesquisando no "New York Times", Argemiro constatou que 11
dias depois do 11 de Setembro
Bush começou a manifestar a
crença de que se tornara intérprete de Deus. "É o próprio Aiatolá
da América", escreveu Richard
Cohen, do "Washington Post". Os
EUA integristas se encaminhavam para a guerra em nome de
Deus, com Bush quase canonizado. Assim ele se reelegeu de padrões morais e patriotismo.
Argemiro nos mostra como
uma falta de percepção da realidade, sob o peso de fatores místicos, transformou um governo
medíocre e danoso num sucesso
eleitoral. Pouco importam os ataques às liberdades civis e uma nova estratégia de segurança nacional que vê com maus olhos as leis
de guerra da Convenção de Genebra, como a de proibição a tortura
de presos. Ou desemprego agravado, rombo orçamentário etc.
Fala mais alto a missão divina.
Senti falta de alguma referência
ao chamado Projeto Califórnia, os
ovos da serpente que começaram
a ser incubados quando Reagan
se elegeu governador da Califórnia nos anos 60.
Newton Carlos é jornalista e analista de
questões internacionais
O Império Contra-Ataca
Autor: Argemiro Ferreira
Editora: Paz e Terra
Quanto: R$ 44 (333 págs.)
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