São Paulo, domingo, 27 de novembro de 2005

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A HORA DA ESTRELA

Ator revê o sucesso de "Irma Vap", explica por que não fala da vida pessoal e critica o governo federal

"Gil não gosta de teatro", diz Marco Nanini

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia abaixo a continuação da entrevista de Nanini. (LM e VS)
 

Folha - Encenada por mais de uma década, "Irma Vap" marcou sua vida. Como avalia essa fase?
Nanini -
É um divisor de águas. O sucesso não tinha controle, e não queria me encantar porque seria suicídio. Pude compreender mais o Ney [Latorraca], fazer amizade com ele, ficar com ódio dele. Era uma intimidade total, uma situação limite. "Irma Vap" também me deu o que sempre quis: ter um produtor como sócio. Encontrei o Fernando [Libonati] quando ele era jovem, estudava odontologia. Cuidava das minhas coisas em casa e percebi que tinha jeito para organização. Acabou administrando "Irma Vap". Com a convivência profissional também surgiu uma produção atuante que me permite, por exemplo, estar com Gerald [Thomas] hoje.

Folha - Qual é a sua opinião sobre as denúncias de corrupção no país?
Nanini -
Estou pasmo, com a sensação de perplexidade de meu personagem na peça do Gerald. Quando um partido como o PT, que era a esperança derradeira, envolve-se nessa confusão, é triste. Em meio a tudo isso, os rios da Amazônia secaram. O mundo realmente está acabando.

Folha - Que avaliação tem da política do governo para a cultura?
Nanini -
É muito nublada. A meia-entrada acaba com qualquer condição de ter lucro. É lei, mas ninguém paga os 50%. Fica para o produtor, que tem de pagar direitos autorais, luz. Ou se faz "standard" popular ou não há lucro. Tivemos conversas com o Ministério da Cultura, mas é tudo confuso. É o ministério da informação e contra-informação. Não se sabe quem é ministro, se é o Gilberto Gil ou o interino. É muito fogo de artifício e nada concreto.

Folha - Assina embaixo a cutucada que a peça de Thomas dá no Gil?
Nanini -
Sim. Depois que assumiu, demorou meses para falar a palavra teatro. Nunca foi a teatro, não gosta. Não tenho nada contra ele como artista, mas é confusa a história de artista-ministro. Canta, é ministro, não é, viaja, volta, entra interino, uma confusão. Achei que seria consistente. O MinC precisa ser prestigiado pela Presidência, que deve dar mais verba. Hoje é ridícula. Nenhum governo deu força à cultura.

Folha - Você votou no Lula?
Nanini -
Votei e estou decepcionado. Meu voto foi do Ciro no primeiro e do Lula no segundo. Estou descrente, perplexo e penso em voto nulo. O voto obrigatório, que às vezes temos de fazer um voto útil, está ficando muito chato. Uma democracia em que você é obrigado a votar é insuportável.

Folha - Como avalia a trajetória do cinema pós-"Carlota Joaquina"?
Nanini -
Brinco dizendo que vejo cinema na ordem cronológica e que, até 2007, quero acabar de ver "Sunset Boulevard" [1950]. Sou ignorante em relação a cinema, falando à boca pequena [risos]. Não vou ao cinema, e isso é uma falha imperdoável. Encho minha agenda e não sobra tempo.

Folha - E o projeto de filmar "O Bem Amado" e o longa de Thomas?
Nanini -
"O Bem Amado" é ainda projeto. O Guel [Arraes] me convidou para ser o Odorico Paraguaçu, mas ainda não assinamos. No caso do Gerald, a idéia é um circuito não-comercial. Ele está escrevendo o roteiro, animadíssimo, e mostrará o primeiro tratamento até dezembro.Tem filmagens em Nova York, na Turquia e no Brasil, e não posso dizer mais, porque ele é imprevisível [risos].

Folha - Por que o público sabe tão pouco sobre a sua vida pessoal?
Nanini -
Não gosto de falar do cachorro, gato, avô, mãe. Eu me sinto protegido dentro do pedacinho da vida particular que posso segurar. Adoro ficar à vontade em casa, quieto, não gosto de tirar foto para revista. Mas não critico quem faz. É por temperamento e até inabilidade. Não tenho traquejo social, esqueço nomes. Se vou a festas, o Nando fica no meu ouvido: "É fulano de tal". E estou ficando meio surdo, ele agora grita, o mico é maior [risos].

Folha - Já precisou dizer não a um convite para a ilha de "Caras"?
Nanini -
Já me convidaram, mas explico isso. Imagine eu na ilha de "Caras"! Ia ser o Peter Sellers, o convidado trapalhão [risos].

Folha - O que ficou faltando nesses 40 anos de carreira?
Nanini -
Olha, não está faltando nada. Estou bem contente com o quinhão que me toca, tanto de sofrimento quanto de alegria.


Leia a íntegra da entrevista com Marco Nanini na Folha Online (www.folha. com.br/053281)


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