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A HORA DA ESTRELA
Ator revê o sucesso de "Irma Vap", explica por que não fala da vida pessoal e critica o governo federal
"Gil não gosta de teatro", diz Marco Nanini
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo a continuação da
entrevista de Nanini.
(LM e VS)
Folha - Encenada por mais de
uma década, "Irma Vap" marcou
sua vida. Como avalia essa fase?
Nanini -É um divisor de águas. O
sucesso não tinha controle, e não
queria me encantar porque seria
suicídio. Pude compreender mais
o Ney [Latorraca], fazer amizade
com ele, ficar com ódio dele. Era
uma intimidade total, uma situação limite. "Irma Vap" também
me deu o que sempre quis: ter um
produtor como sócio. Encontrei o
Fernando [Libonati] quando ele
era jovem, estudava odontologia.
Cuidava das minhas coisas em casa e percebi que tinha jeito para
organização. Acabou administrando "Irma Vap". Com a convivência profissional também surgiu uma produção atuante que
me permite, por exemplo, estar
com Gerald [Thomas] hoje.
Folha - Qual é a sua opinião sobre
as denúncias de corrupção no país?
Nanini - Estou pasmo, com a
sensação de perplexidade de meu
personagem na peça do Gerald.
Quando um partido como o PT,
que era a esperança derradeira,
envolve-se nessa confusão, é triste. Em meio a tudo isso, os rios da
Amazônia secaram. O mundo
realmente está acabando.
Folha - Que avaliação tem da política do governo para a cultura?
Nanini - É muito nublada. A
meia-entrada acaba com qualquer condição de ter lucro. É lei,
mas ninguém paga os 50%. Fica
para o produtor, que tem de pagar
direitos autorais, luz. Ou se faz
"standard" popular ou não há lucro. Tivemos conversas com o
Ministério da Cultura, mas é tudo
confuso. É o ministério da informação e contra-informação. Não
se sabe quem é ministro, se é o
Gilberto Gil ou o interino. É muito
fogo de artifício e nada concreto.
Folha - Assina embaixo a cutucada que a peça de Thomas dá no Gil?
Nanini -Sim. Depois que assumiu, demorou meses para falar a
palavra teatro. Nunca foi a teatro,
não gosta. Não tenho nada contra
ele como artista, mas é confusa a
história de artista-ministro. Canta, é ministro, não é, viaja, volta,
entra interino, uma confusão.
Achei que seria consistente. O
MinC precisa ser prestigiado pela
Presidência, que deve dar mais
verba. Hoje é ridícula. Nenhum
governo deu força à cultura.
Folha - Você votou no Lula?
Nanini - Votei e estou decepcionado. Meu voto foi do Ciro no primeiro e do Lula no segundo. Estou descrente, perplexo e penso
em voto nulo. O voto obrigatório,
que às vezes temos de fazer um
voto útil, está ficando muito chato. Uma democracia em que você
é obrigado a votar é insuportável.
Folha - Como avalia a trajetória
do cinema pós-"Carlota Joaquina"?
Nanini - Brinco dizendo que vejo
cinema na ordem cronológica e
que, até 2007, quero acabar de ver
"Sunset Boulevard" [1950]. Sou
ignorante em relação a cinema,
falando à boca pequena [risos].
Não vou ao cinema, e isso é uma
falha imperdoável. Encho minha
agenda e não sobra tempo.
Folha - E o projeto de filmar "O
Bem Amado" e o longa de Thomas?
Nanini -"O Bem Amado" é ainda
projeto. O Guel [Arraes] me convidou para ser o Odorico Paraguaçu, mas ainda não assinamos.
No caso do Gerald, a idéia é um
circuito não-comercial. Ele está
escrevendo o roteiro, animadíssimo, e mostrará o primeiro tratamento até dezembro.Tem filmagens em Nova York, na Turquia e
no Brasil, e não posso dizer mais,
porque ele é imprevisível [risos].
Folha - Por que o público sabe tão
pouco sobre a sua vida pessoal?
Nanini - Não gosto de falar do cachorro, gato, avô, mãe. Eu me sinto protegido dentro do pedacinho
da vida particular que posso segurar. Adoro ficar à vontade em casa, quieto, não gosto de tirar foto
para revista. Mas não critico
quem faz. É por temperamento e
até inabilidade. Não tenho traquejo social, esqueço nomes. Se
vou a festas, o Nando fica no meu
ouvido: "É fulano de tal". E estou
ficando meio surdo, ele agora grita, o mico é maior [risos].
Folha - Já precisou dizer não a um
convite para a ilha de "Caras"?
Nanini -Já me convidaram, mas
explico isso. Imagine eu na ilha de
"Caras"! Ia ser o Peter Sellers, o
convidado trapalhão [risos].
Folha - O que ficou faltando nesses 40 anos de carreira?
Nanini - Olha, não está faltando
nada. Estou bem contente com o
quinhão que me toca, tanto de sofrimento quanto de alegria.
Leia a íntegra da entrevista com Marco
Nanini na Folha Online (www.folha.
com.br/053281)
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