|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Tomar vaia é um luxo", diz cineasta
Público do Festival de Brasília se dividiu com prêmios dados a "Filmefobia", de Kiko Goifman, que lembrou Bressane
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Quando se anunciou a vitória
de "Filmefobia", de Kiko Goifman, anteontem, como melhor
filme do 41º Festival de Brasília
do Cinema Brasileiro, a platéia
se dividiu entre os que vaiavam
e os que aplaudiam, em reação
idêntica à que ocorreu no ano
passado, quando "Cleópatra",
de Julio Bressane, ganhou.
"Num lugar em que Bressane
foi vaiado, tomar vaia é um luxo", disse Goifman à Folha,
após a premiação. No palco, ele
recebeu o troféu Candango
quase calado: "É inacreditável.
Não vou falar nada. Obrigado.
Obrigado até pelas vaias".
O que "desestabilizou" o cineasta, segundo ele, foi a emoção de um prêmio anterior, que
recebeu em nome de seu amigo
Jean-Claude Bernardet, eleito
melhor ator, pelo papel principal de "Filmefobia" -o de um
documentarista em tentativa
de filmar fóbicos confrontados
com os objetos de sua fobia.
O longa de Goifman, melhor
filme também pela crítica, recebeu mais dois troféus Candango (leia no quadro ao lado).
A ausência que mais chamou
a atenção na entrega dos prêmios, porém, foi a do cineasta
Geraldo Sarno, que estava em
Brasília. Pelo documentário
"Tudo Isso me Parece um Sonho", a respeito do militar brasileiro Abreu e Lima, que combateu ao lado de Simon Bolívar,
Sarno levou os troféus de melhor direção e melhor roteiro.
Sarno disse ao coordenador
do festival, Fernando Adolfo,
que quis prevenir-se de emoções, já que tem a experiência
de dois infartos. A declaração
do diretor dissipa versão corrente nos bastidores de que sua
ausência deveu-se à discordância com o resultado da premiação, do qual teria tomado conhecimento prévio. A Folha
não conseguiu ouvi-lo até o fechamento desta edição.
Seleção fraca
A reunião do júri que atribuiu os prêmios do 41º Festival
de Brasília, iniciada na noite de
segunda, estendeu-se até 5h de
terça, de acordo com jurados
ouvidos pela Folha. As dificuldades do júri envolviam a inadequação do perfil dos candidatos -quatro documentários
e duas ficções- a categorias de
premiação de ator e atriz e o nível da seleção de concorrentes,
considerado fraco.
A avaliação de que o festival
teve sua mais frágil seleção
nesta década foi dominante
numa edição em que a maioria
das sessões oficiais foi marcada
por vaias e evasão do público.
O abalo na reputação da
mostra intensifica crise na administração do festival, que sofreu mudanças neste ano, determinadas pela Secretaria de
Cultura do DF, das quais o
coordenador Fernando Adolfo
discorda. A permanência dele
no cargo está indefinida.
O cineasta Carlos Reichenbach, que integrou o júri oficial,
é voz dissonante entre os descontentes com o nível geral dos
competidores. "Não sei como
se pode considerar fraca uma
seleção com dois filmes que
avançam a relação entre documentário e ficção ["Filmefobia" e "Tudo Isso me Parece
um Sonho"]", afirma. "Se o
Festival de Brasília é o espelho
do que a gente vai ver amanhã,
finalmente o cinema brasileiro
começou a pensar."
Texto Anterior: Folha faz bate-papo com diretor Próximo Texto: Clássico de Faoro completa 50 anos com nova edição Índice
|