São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2008

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"Tomar vaia é um luxo", diz cineasta

Público do Festival de Brasília se dividiu com prêmios dados a "Filmefobia", de Kiko Goifman, que lembrou Bressane

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Quando se anunciou a vitória de "Filmefobia", de Kiko Goifman, anteontem, como melhor filme do 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a platéia se dividiu entre os que vaiavam e os que aplaudiam, em reação idêntica à que ocorreu no ano passado, quando "Cleópatra", de Julio Bressane, ganhou.
"Num lugar em que Bressane foi vaiado, tomar vaia é um luxo", disse Goifman à Folha, após a premiação. No palco, ele recebeu o troféu Candango quase calado: "É inacreditável. Não vou falar nada. Obrigado. Obrigado até pelas vaias".
O que "desestabilizou" o cineasta, segundo ele, foi a emoção de um prêmio anterior, que recebeu em nome de seu amigo Jean-Claude Bernardet, eleito melhor ator, pelo papel principal de "Filmefobia" -o de um documentarista em tentativa de filmar fóbicos confrontados com os objetos de sua fobia.
O longa de Goifman, melhor filme também pela crítica, recebeu mais dois troféus Candango (leia no quadro ao lado).
A ausência que mais chamou a atenção na entrega dos prêmios, porém, foi a do cineasta Geraldo Sarno, que estava em Brasília. Pelo documentário "Tudo Isso me Parece um Sonho", a respeito do militar brasileiro Abreu e Lima, que combateu ao lado de Simon Bolívar, Sarno levou os troféus de melhor direção e melhor roteiro.
Sarno disse ao coordenador do festival, Fernando Adolfo, que quis prevenir-se de emoções, já que tem a experiência de dois infartos. A declaração do diretor dissipa versão corrente nos bastidores de que sua ausência deveu-se à discordância com o resultado da premiação, do qual teria tomado conhecimento prévio. A Folha não conseguiu ouvi-lo até o fechamento desta edição.

Seleção fraca
A reunião do júri que atribuiu os prêmios do 41º Festival de Brasília, iniciada na noite de segunda, estendeu-se até 5h de terça, de acordo com jurados ouvidos pela Folha. As dificuldades do júri envolviam a inadequação do perfil dos candidatos -quatro documentários e duas ficções- a categorias de premiação de ator e atriz e o nível da seleção de concorrentes, considerado fraco.
A avaliação de que o festival teve sua mais frágil seleção nesta década foi dominante numa edição em que a maioria das sessões oficiais foi marcada por vaias e evasão do público.
O abalo na reputação da mostra intensifica crise na administração do festival, que sofreu mudanças neste ano, determinadas pela Secretaria de Cultura do DF, das quais o coordenador Fernando Adolfo discorda. A permanência dele no cargo está indefinida.
O cineasta Carlos Reichenbach, que integrou o júri oficial, é voz dissonante entre os descontentes com o nível geral dos competidores. "Não sei como se pode considerar fraca uma seleção com dois filmes que avançam a relação entre documentário e ficção ["Filmefobia" e "Tudo Isso me Parece um Sonho"]", afirma. "Se o Festival de Brasília é o espelho do que a gente vai ver amanhã, finalmente o cinema brasileiro começou a pensar."


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