São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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"Kahlo é mais teatral do que cinematográfica"

FREE-LANCE PARA A FOLHA, NA CIDADE DO MÉXICO

"Frida" estava na sétima semana de filmagens quando a reportagem da Folha visitou o set hollywoodiano instalado em plena capital mexicana.
Antes de entrar no estúdio, era possível ouvir os gritos da diretora Julie Taymor: "Excelente, perfeito!".
Imaginava-se, naturalmente, que uma das principais cenas do filme estivesse em andamento. Não exatamente. A euforia era porque o diretor de fotografia havia encontrado a iluminação exata para a cena em que Salma Hayek sela, com a língua, um envelope de cartas.
Uma cena que não vai ter mais que cinco segundos e geralmente é feita com um ou dois takes. "Já nem sei mais quantos takes fizemos", disse um dos assistentes. "Julie tem pouquíssima experiência em longas [esse é seu segundo] e pede coisas impossíveis ao diretor de fotografia. O resultado? Coisas impossíveis são realizadas diariamente nesse set."
Talvez, por causa desse preciosismo, Taymor estivesse sendo seguida pela diretora-assistente, que, cronômetro em riste, dizia exatamente quantos minutos ainda poderiam ser gastos em cada cena. Terminado o prazo, a diretora era retirada quase à força da sala.
"Com esse orçamento ridículo [US$ 12 milhões], o mínimo que tenho de conseguir é extensão do prazo", afirmou.
É bom deixar claro que estamos falando da profissional que adaptou "O Rei Leão" para a Broadway, a primeira mulher a receber um Prêmio Tony pela direção de um musical. "Aceitei comandar "Frida" porque gosto de desafios", disse.
"No teatro, uma cena pode ser alterada noite após noite. No cinema, tudo é definitivo, a pressão é enorme e decisões têm de ser tomadas em segundos. Na verdade, acho que a vida de Kahlo, por causa de sua obra, é mais teatral do que cinematográfica. Estamos falando de abstração, de surrealismo, de fantasia e, ao mesmo tempo, cabe a mim construir uma ponte que ligue isso ao realismo que a história exige. Tento usar o que aprendi no teatro: que menos é mais."
A idéia de fugir dos padrões sempre agradou a diretora. "Não é uma história de amor entre pessoas esteticamente perfeitas -esse tipo de relacionamento hollywoodiano me deixa entediada. Frida era uma mulher com bigodes e sobrancelhas enormes; Diego [Rivera], um homem de 200 quilos; esse aspecto me fascina."

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