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"Kahlo é mais teatral do que cinematográfica"
FREE-LANCE PARA A FOLHA,
NA CIDADE DO MÉXICO
"Frida" estava na sétima semana de filmagens quando a
reportagem da Folha visitou o
set hollywoodiano instalado
em plena capital mexicana.
Antes de entrar no estúdio,
era possível ouvir os gritos da
diretora Julie Taymor: "Excelente, perfeito!".
Imaginava-se, naturalmente,
que uma das principais cenas
do filme estivesse em andamento. Não exatamente. A euforia era porque o diretor de fotografia havia encontrado a iluminação exata para a cena em
que Salma Hayek sela, com a
língua, um envelope de cartas.
Uma cena que não vai ter
mais que cinco segundos e geralmente é feita com um ou
dois takes. "Já nem sei mais
quantos takes fizemos", disse
um dos assistentes. "Julie tem
pouquíssima experiência em
longas [esse é seu segundo] e
pede coisas impossíveis ao diretor de fotografia. O resultado? Coisas impossíveis são realizadas diariamente nesse set."
Talvez, por causa desse preciosismo, Taymor estivesse
sendo seguida pela diretora-assistente, que, cronômetro em
riste, dizia exatamente quantos
minutos ainda poderiam ser
gastos em cada cena. Terminado o prazo, a diretora era retirada quase à força da sala.
"Com esse orçamento ridículo [US$ 12 milhões], o mínimo
que tenho de conseguir é extensão do prazo", afirmou.
É bom deixar claro que estamos falando da profissional
que adaptou "O Rei Leão" para
a Broadway, a primeira mulher
a receber um Prêmio Tony pela
direção de um musical. "Aceitei comandar "Frida" porque
gosto de desafios", disse.
"No teatro, uma cena pode
ser alterada noite após noite.
No cinema, tudo é definitivo, a
pressão é enorme e decisões
têm de ser tomadas em segundos. Na verdade, acho que a vida de Kahlo, por causa de sua
obra, é mais teatral do que cinematográfica. Estamos falando de abstração, de surrealismo, de fantasia e, ao mesmo
tempo, cabe a mim construir
uma ponte que ligue isso ao
realismo que a história exige.
Tento usar o que aprendi no
teatro: que menos é mais."
A idéia de fugir dos padrões
sempre agradou a diretora.
"Não é uma história de amor
entre pessoas esteticamente
perfeitas -esse tipo de relacionamento hollywoodiano me
deixa entediada. Frida era uma
mulher com bigodes e sobrancelhas enormes; Diego [Rivera], um homem de 200 quilos; esse aspecto me fascina."
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