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"ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA"
Longe das telas havia oito anos, atriz faz segundo papel de coadjuvante da carreira
Barbra Streisand deixa a "aposentadoria"
MARK BOSTRIDGE
DO "THE INDEPENDENT"
"Sou fã inveterado de Barbra
Streisand e não nego", escreveu o
pianista Glenn Gould (1932-1982)
num artigo no qual descreveu a
voz dela como "uma das maravilhas naturais do nosso tempo".
Mas amar a atriz, que completa 63
anos em abril, não significa amar
tudo em sua carreira nem se abster de fazer críticas a ela.
Mas, no momento, seus fãs estão felizes porque, após oito anos
longe do cinema, ela retorna em
"Entrando numa Fria Maior Ainda", que estréia hoje no Brasil.
Ela faz o papel de Roz Focker,
mulher de Bernie (Dustin Hoffman) e mãe de Gaylord Focker
(Ben Stiller), uma terapeuta sexual da terceira idade (vale ver a
cena em que ela faz uma massagem sexual em Robert de Niro).
Roz é o segundo papel coadjuvante de sua carreira (o primeiro
foi ao lado de Gene Hackman em
"Tudo em Família", fracasso comercial de 1981) e é difícil entender o que no filme a convenceu a
deixar a semi-aposentadoria.
Mas não há dúvida de que o filme vai apresentar Streisand a um
público mais jovem e que seu sucesso comercial pode convencê-la
a fazer outros papéis no futuro.
O grande acerto do filme pode
ter sido chamar Streisand para fazer par com Dustin Hoffman. Os
dois se conhecem desde os anos
60, mas nunca atuaram juntos.
Hoffman se lembra claramente
da primeira vez em que viu Streisand cantar, num bar decadente
em Nova York. Era o verão de
1960, e Streisand -que tinha retirado um "a" de Barbara- tinha
18 anos. Enquanto esperava a platéia fazer silêncio, tirou da boca o
chiclete que estava mascando e
grudou embaixo da cadeira. "Foi
provocante. De repente, da boca
daquela tamanduá simpática,
saiu magia pura", recordou ele.
Cantar foi apenas a preliminar
para ser aceita como atriz e, daí
por diante, Streisand partiu para
conquistar os mundos da produção, direção, composição de canções e de trilhas sonoras. Já ganhou alguns Oscar, um Tony, alguns Emmy, Grammy, Globo de
Ouro e até algo chamado Prêmio
Peabody. Também possui uma
fundação beneficente para ajudar
o ambiente e combater a Aids.
No mundo do cinema, existem
aqueles que acham que Streisand
nunca chegou a realizar seu potencial como atriz ou que Hollywood nunca permitiu que o fizesse (John Huston, por exemplo, dizia que ela foi mal utilizada e teria
feito uma Cleópatra muito melhor do que Elizabeth Taylor).
Outros argumentam que sua fama de ser intratável foi, cada vez
mais, desencorajando os diretores do primeiro time a trabalhar
com ela. Tendo atuado em apenas
17 filmes desde que chegou a
Hollywood, em 1967, começando
com sua estréia oscarizada em
"Funny Girl" e incluindo os três
filmes que ela mesma dirigiu e estrelou, hoje admite que rejeitou
muitos papéis ao longo dos anos.
Há algum tempo, Streisand diz
estar trabalhando em sua autobiografia, embora também admita que seu desejo de "viver no presente" tenha bloqueado algumas
memórias de seu passado.
Sua história é rica em elementos
que fazem parte do sonho americano, e Streisand a vem enfeitando e contando a entrevistadores,
há anos: a criança sem pai que vivia na pobreza no Brooklyn; a
mãe pouco solidária, que se casou
de novo e introduziu na casa um
padrasto hostil. E, então, a ascensão meteórica à fama: um contrato com a gravadora Columbia,
um espetáculo que a transformou
no grande sucesso da Broadway e
a chegada a Hollywood -porque, em suas palavras, "ser estrela
significa ser estrela de cinema".
Mais do que tudo, porém, hoje
ela gosta de relaxar. A julgar por
seus comentários recentes sobre
como o sexo melhora com a idade, é possível que haja mais de
Roz Focker em Barbra Streisand
do que poderíamos imaginar.
Tradução Clara Allain
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