São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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"ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA"

Longe das telas havia oito anos, atriz faz segundo papel de coadjuvante da carreira

Barbra Streisand deixa a "aposentadoria"

MARK BOSTRIDGE
DO "THE INDEPENDENT"

"Sou fã inveterado de Barbra Streisand e não nego", escreveu o pianista Glenn Gould (1932-1982) num artigo no qual descreveu a voz dela como "uma das maravilhas naturais do nosso tempo". Mas amar a atriz, que completa 63 anos em abril, não significa amar tudo em sua carreira nem se abster de fazer críticas a ela.
Mas, no momento, seus fãs estão felizes porque, após oito anos longe do cinema, ela retorna em "Entrando numa Fria Maior Ainda", que estréia hoje no Brasil.
Ela faz o papel de Roz Focker, mulher de Bernie (Dustin Hoffman) e mãe de Gaylord Focker (Ben Stiller), uma terapeuta sexual da terceira idade (vale ver a cena em que ela faz uma massagem sexual em Robert de Niro).
Roz é o segundo papel coadjuvante de sua carreira (o primeiro foi ao lado de Gene Hackman em "Tudo em Família", fracasso comercial de 1981) e é difícil entender o que no filme a convenceu a deixar a semi-aposentadoria.
Mas não há dúvida de que o filme vai apresentar Streisand a um público mais jovem e que seu sucesso comercial pode convencê-la a fazer outros papéis no futuro.
O grande acerto do filme pode ter sido chamar Streisand para fazer par com Dustin Hoffman. Os dois se conhecem desde os anos 60, mas nunca atuaram juntos.
Hoffman se lembra claramente da primeira vez em que viu Streisand cantar, num bar decadente em Nova York. Era o verão de 1960, e Streisand -que tinha retirado um "a" de Barbara- tinha 18 anos. Enquanto esperava a platéia fazer silêncio, tirou da boca o chiclete que estava mascando e grudou embaixo da cadeira. "Foi provocante. De repente, da boca daquela tamanduá simpática, saiu magia pura", recordou ele.
Cantar foi apenas a preliminar para ser aceita como atriz e, daí por diante, Streisand partiu para conquistar os mundos da produção, direção, composição de canções e de trilhas sonoras. Já ganhou alguns Oscar, um Tony, alguns Emmy, Grammy, Globo de Ouro e até algo chamado Prêmio Peabody. Também possui uma fundação beneficente para ajudar o ambiente e combater a Aids.
No mundo do cinema, existem aqueles que acham que Streisand nunca chegou a realizar seu potencial como atriz ou que Hollywood nunca permitiu que o fizesse (John Huston, por exemplo, dizia que ela foi mal utilizada e teria feito uma Cleópatra muito melhor do que Elizabeth Taylor).
Outros argumentam que sua fama de ser intratável foi, cada vez mais, desencorajando os diretores do primeiro time a trabalhar com ela. Tendo atuado em apenas 17 filmes desde que chegou a Hollywood, em 1967, começando com sua estréia oscarizada em "Funny Girl" e incluindo os três filmes que ela mesma dirigiu e estrelou, hoje admite que rejeitou muitos papéis ao longo dos anos.
Há algum tempo, Streisand diz estar trabalhando em sua autobiografia, embora também admita que seu desejo de "viver no presente" tenha bloqueado algumas memórias de seu passado.
Sua história é rica em elementos que fazem parte do sonho americano, e Streisand a vem enfeitando e contando a entrevistadores, há anos: a criança sem pai que vivia na pobreza no Brooklyn; a mãe pouco solidária, que se casou de novo e introduziu na casa um padrasto hostil. E, então, a ascensão meteórica à fama: um contrato com a gravadora Columbia, um espetáculo que a transformou no grande sucesso da Broadway e a chegada a Hollywood -porque, em suas palavras, "ser estrela significa ser estrela de cinema".
Mais do que tudo, porém, hoje ela gosta de relaxar. A julgar por seus comentários recentes sobre como o sexo melhora com a idade, é possível que haja mais de Roz Focker em Barbra Streisand do que poderíamos imaginar.


Tradução Clara Allain

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