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Internet multiplica filmes feitos por fãs
Livres dos custos industriais, vídeos com personagens como Luke Skywalker e Wolverine aparecem aos milhares na rede
Produções caseiras chegam a ter qualidade superior à da TV; Leonardo de Barros, da Conspiração Filmes, diz que fã-filmes revelam talentos
RENATO ESSENFELDER
DA REPORTAGEM LOCAL
Batman anda ocupado. E não
é para menos. Nos últimos
tempos, lutou contra Coringa,
Predador, Alien (!) e Super-Homem; morreu, renasceu.
Luke Skywalker ("Guerra
nas Estrelas"), capitão Kirk
("Jornada nas Estrelas"), Indiana Jones, Wolverine ("X-Men") e centenas de outros
personagens famosos dos quadrinhos, do cinema e da TV
também têm suado em milhares de aparições em filmes de
enredo quase sempre insólito.
Lançados diariamente. Por iniciativa de seus fãs.
À margem das superproduções hollywoodianas, franquias
de peso têm ganhado frenética
vitalidade na internet. Com divulgação facilitada, aficcionados de todo o mundo embarcam na onda dos fã-filmes, produções caseiras, de baixíssimo
orçamento, que trazem personagens conhecidos encarnados
por atores anônimos.
"Fazemos pela paixão, para
fazer parte da saga. Se fosse para entrar para a área, não faria
um fã-filme. O retorno tem de
ser de coração ou financeiro.
No nosso caso, é emocional",
conta o analista de sistemas e
fã-diretor Milton Soares Júnior, 40. Ele idealizou "Shadows of the Empire", um fã-filme de "Guerra nas Estrelas"
baseado na novela homônima
do americano Steve Perry.
O mais incrível, contudo, não
é o fato de os fã-filmes progredirem geometricamente em sites como o YouTube, que exibe
mais de 8.000 vídeos do gênero, alguns na casa do meio milhão de acessos. Notável mesmo é o fato de várias dessas
obras atingirem um nível de sofisticação superior ao de produções comerciais (veja quadro).
Criando um clima
Para filmar o príncipe Xizor,
uma espécie de vilão concorrente de Darth Vader, num flerte com a princesa Léia, Milton
Jr. e sua equipe quase arrancaram os cabelos. O longa foi rodado em "stop motion", técnica
em que bonecos são filmados
quadro a quadro (como fotos).
"Era preciso criar um clima
de sedução. Pensamos em girar
manualmente o cenário, mas os
bonecos caíam a toda hora. Resolvemos girar a câmera. Subi
numa escada, me contorcendo.
Quase caí várias vezes, segurando nossa única câmera."
Inúmeras tomadas e duas horas depois, sucesso. Os dez segundos em que Xizor tenta seduzir Léia estavam garantidos.
Essa medida de tempo dá
idéia do trabalho exigido numa
produção como essa, em "stop
motion". Considerando o fato
de "Shadows..." ser um dos fã-filmes mais longos do mundo,
com uma hora e meia de duração, é compreensível o fato de
ter levado seis anos, do roteiro
à edição, para ficar pronto.
Com mais de 400 MB, o filme
já foi baixado 5.000 vezes do site oficial (www.shadowsfan
film.com.br) e apreciado pelo
próprio Perry, criador da saga
original. Registre-se que um
download como esse pode demorar mais de uma semana
numa conexão discada.
Em seu auge, a produção envolveu cerca de 40 voluntários.
Parte do grupo segue hoje na
produção de um segundo filme,
que mistura bonecos e atores.
Longa duração
A maioria dos fã-filmes na rede não tem mais de cinco minutos. Mas os brasileiros insistem
em ser exceção. "Batman - O
Retorno de Bane", do presidente do fã-clube Batbase, Renato
Araújo, 34, está previsto para
ter "de 20 a 30 minutos".
A produção deve acabar em
março. O trailer já está disponível em www.batbase.com.br.
As gravações, iniciadas há
seis meses, renderam até um filhote: a paródia "A Queda do
Morcego". "No começo das
gravações, o Batman [André
Troesch] estava sobre um pilar
e ia dar um salto. Caiu de bunda no chão, e sem querer soltei
a piada", diverte-se Renato. O
registro também está no site.
O "casting" de um fã-filme é,
aliás, algo peculiar. Parentes e
amigos são requisitados, e, no
caso de "Bane...", o candidato a
protagonista ganhou pontos
graças à qualidade da fantasia
de Batman que fizera para uma
festa. E sobrou até para o filho
de Araújo, Renato Araujo Júnior, 11, que interpreta o Robin.
O catarinense Felipe Barwinski Pereira, 17, está em seu
primeiro fã-filme e também é
ambicioso. "Devo terminar em
março, com uns 45 minutos."
Segundo ele, trata-se de uma
"história dark" com o Batman.
Mais de 20 adolescentes, de
15 anos, em média, fazem parte
do projeto. "Pretendo mostrar
que a gente tem capacidade de
fazer qualquer coisa."
Profissionalização
Renato e Milton têm em comum Marcos Perrin, 39. Dono
de uma pequena produtora, a
Nirrep, Perrin se encarregou
dos efeitos especiais de "Shadows of the Empire" e de "O
Retorno de Bane". Entre outras
coisas, faz cenários 3D, efeitos
de raios laser, explosões. É um
dos poucos envolvidos nessas
produções que têm os dois
olhos voltados ao mercado.
"Dizem que é perda de tempo, mas isso me ajuda em produções comerciais. Tento desenvolver técnicas, aprimorar.
É um desafio gostoso trabalhar
com personagens que marcaram a minha infância."
Profissionais da área dizem
que vale o investimento. "É um
grande desenvolvimento, com
impacto na criação de conteúdos audiovisuais e, também, em
marketing e promoção. Está revelando criadores talentosos e,
além disso, dando visibilidade
aos curtas", analisa Leonardo
Monteiro de Barros, sócio da
Conspiração Filmes, uma das
maiores produtoras independentes do país.
"Acompanho com interesse.
Sou até fã dos episódios da
web-série "Chad Vader'", completa. A série [veja quadro] narra o cotidiano do irmão mais
novo e menos célebre de Darth,
empregado de um mercadinho.
Menosprezado, mas com planos de dominar o mundo.
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