|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Marcado pela Sarjeta"; "Harper"; "A Piscina Mortal"
Em dose tripla, Paul Newman exibe sua leveza auto-irônica
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Dos astros de sua geração formados pelo célebre "método" do Actors Studio, como Montgomery
Clift, Marlon Brando e James
Dean, Paul Newman, 81, é o
único que tem uma certa leveza, um certo humor auto-irônico. Os outros parecem carregar
no rosto atormentado os pecados do mundo. A caixa de três
DVDs lançada pela Warner
permite constatar a versatilidade de Newman, capaz de transitar à vontade do registro do
ódio ao da derrisão.
"Marcado pela Sarjeta"
(1956), de Robert Wise, segundo longa estrelado pelo ator,
lançou-o de imediato ao estrelato. Relato romanceado da vida turbulenta do boxeador
Rocky Graziano, o filme não
tem a ousadia formal de outro
clássico que Wise dedicou ao
pugilismo, "Punhos de Campeão" (1949), mas é uma narrativa pungente do submundo
dos imigrantes italianos na Nova York da primeira metade do
século 20.
Serviu também para firmar a
imagem de rebeldia indomável
que seria uma das marcas do jovem Newman. Curiosamente,
como ficamos sabendo graças
aos extras do DVD, o ator só encarnou Graziano porque James
Dean, que estava escalado para
o papel, morreu antes do início
das filmagens.
Num límpido preto-e-branco, com uma vívida reconstituição da Nova York dos imigrantes pobres, "Marcado" retrata
as recaídas de Graziano na
marginalidade como uma via-crúcis em direção à luz. A única
coisa que envelheceu foi o seu
final carola, que condiz com o
título original, "Somebody up
There Likes Me" (alguém lá em
cima gosta de mim).
Policial
Os outros filmes -"Harper, o
Caçador de Aventuras" (1966),
de Jack Smight, e "A Piscina
Mortal" (1975), de Stuart Rosenberg- são policiais ligeiramente paródicos em que Newman encarna o detetive particular Lew Archer, criado pelo
escritor Ross MacDonald. No
cinema, o personagem mudou
seu nome para Harper por exigência do ator, que considerava
que os filmes com "H" no título
lhe davam sorte.
São atualizações levemente
irônicas e deslocadas do mito e
dos códigos do policial "noir",
em que um detetive durão se
envolve em tramas intrincadas
de corrupção e morte, geralmente conduzido por uma mulher sedutora, ambígua e fatal.
No primeiro, Harper busca o
marido desaparecido de uma
misteriosa milionária de San
Francisco (Lauren Bacall). No
segundo, vai a Nova Orleans
elucidar um caso que envolve
cartas chantageando uma antiga amante (Joanne Woodward)
em meio a uma disputa por terras ricas em petróleo.
Mais uma vez, nosso ator entrou na última hora, substituindo Frank Sinatra, que desistiu do papel. Ou seja, além da beleza e do talento, Newman sempre teve uma tremenda sorte.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Filmes da caixa Índice
|