São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Crítica/"Marcado pela Sarjeta"; "Harper"; "A Piscina Mortal"

Em dose tripla, Paul Newman exibe sua leveza auto-irônica

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Dos astros de sua geração formados pelo célebre "método" do Actors Studio, como Montgomery Clift, Marlon Brando e James Dean, Paul Newman, 81, é o único que tem uma certa leveza, um certo humor auto-irônico. Os outros parecem carregar no rosto atormentado os pecados do mundo. A caixa de três DVDs lançada pela Warner permite constatar a versatilidade de Newman, capaz de transitar à vontade do registro do ódio ao da derrisão.
"Marcado pela Sarjeta" (1956), de Robert Wise, segundo longa estrelado pelo ator, lançou-o de imediato ao estrelato. Relato romanceado da vida turbulenta do boxeador Rocky Graziano, o filme não tem a ousadia formal de outro clássico que Wise dedicou ao pugilismo, "Punhos de Campeão" (1949), mas é uma narrativa pungente do submundo dos imigrantes italianos na Nova York da primeira metade do século 20.
Serviu também para firmar a imagem de rebeldia indomável que seria uma das marcas do jovem Newman. Curiosamente, como ficamos sabendo graças aos extras do DVD, o ator só encarnou Graziano porque James Dean, que estava escalado para o papel, morreu antes do início das filmagens.
Num límpido preto-e-branco, com uma vívida reconstituição da Nova York dos imigrantes pobres, "Marcado" retrata as recaídas de Graziano na marginalidade como uma via-crúcis em direção à luz. A única coisa que envelheceu foi o seu final carola, que condiz com o título original, "Somebody up There Likes Me" (alguém lá em cima gosta de mim).

Policial
Os outros filmes -"Harper, o Caçador de Aventuras" (1966), de Jack Smight, e "A Piscina Mortal" (1975), de Stuart Rosenberg- são policiais ligeiramente paródicos em que Newman encarna o detetive particular Lew Archer, criado pelo escritor Ross MacDonald. No cinema, o personagem mudou seu nome para Harper por exigência do ator, que considerava que os filmes com "H" no título lhe davam sorte.
São atualizações levemente irônicas e deslocadas do mito e dos códigos do policial "noir", em que um detetive durão se envolve em tramas intrincadas de corrupção e morte, geralmente conduzido por uma mulher sedutora, ambígua e fatal.
No primeiro, Harper busca o marido desaparecido de uma misteriosa milionária de San Francisco (Lauren Bacall). No segundo, vai a Nova Orleans elucidar um caso que envolve cartas chantageando uma antiga amante (Joanne Woodward) em meio a uma disputa por terras ricas em petróleo.
Mais uma vez, nosso ator entrou na última hora, substituindo Frank Sinatra, que desistiu do papel. Ou seja, além da beleza e do talento, Newman sempre teve uma tremenda sorte.


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