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Betty, a Feia, embarca no "sonho americano"
Série cômica baseada em novela colombiana faz sucesso ao mostrar a primeira geração de latinos nascidos nos Estados Unidos
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Esqueça as morenas calipígias de sotaque carregado que,
estrelas em seus países de origem, aportavam em Hollywood
fadadas a colecionar papéis secundários e erguer o estandarte
da "diversidade étnica" da qual
a indústria do entretenimento
norte-americana se ufana. O
novo símbolo da latinidade é
uma jovem desprovida de
maiores atributos físicos, com o
sorriso delineado por um aparelho fixo, o olhar escondido
atrás de óculos fundo de garrafa
e um guarda-roupa, digamos,
infeliz. Ok, deixemos de lado os
eufemismos: ela é Betty, a Feia.
Adaptação da novela colombiana "Yo Soy Betty, la Fea"
(exibida no Brasil pela Rede
TV!), "Ugly Betty", a série cômica estrelada pela personagem nos EUA, é vista semanalmente por cerca de 13 milhões
de pessoas desde setembro de
2006. Produzido pela atriz mexicana Salma Hayek, o programa recebeu, há duas semanas, dois Globos de Ouro: melhor
seriado cômico ou musical e
melhor atriz, dado à filha de
hondurenhos nascida na Califórnia America Ferrera, 22.
Em outubro passado, em
uma rodada de entrevistas da
qual a Folha participou, em
Los Angeles, Ferrera limitou-se a reproduzir o blablablá dos
estúdios ao ser indagada sobre
um possível novo arquétipo latino em Hollywood -menos
histriônico e caricatural. "Os
latinos se infiltraram no
"mainstream" e isso é bom para
a diversidade étnica."
Mais realista foi a fala do
criador e produtor-executivo
da versão ianque, o filho de cubanos criado na Flórida Silvio
Horta. "Sempre vivi na fronteira da latinidade. A primeira
missão do programa é entreter,
mas há, sim, o objetivo de capturar a essência do que é ser a
primeira geração de latinos
nascidos nos EUA."
Uma turma que fala inglês
sem sotaque, busca vagas no
setor formal do mercado de
trabalho e se sente tão americana quanto qualquer caubói
texano, sem, para isso, renegar
a ascendência. "Há [na série]
detalhes que remetem ao mundo latino, como a participação
da [estrela das novelas hispânicas] Lupita Ferrer no programa a que a família de Betty assiste no primeiro episódio",
contou Hayek, que disse ter levado sete anos para emplacar
uma atração latina na TV norte-americana.
Aura kitsch
Na história, o humor surge
dos perrengues que Betty enfrenta no dia-a-dia como assistente do editor de uma revista de moda nova-iorquina e da aura kitsch de sua casa. É nesse
núcleo doméstico que está
também a porção "séria" da trama: o patriarca Ignacio (Tony
Plana) é um imigrante ilegal
que, a certa altura, tem que levantar US$ 20 mil para evitar a
deportação.
O ator cubano celebra a
chance de abordar o tema, mas
diz que ainda há um longo caminho a percorrer. "Somos
30% da população [dos EUA],
mas só estamos representados
em 3% ou 4% dos personagens
televisivos. Betty é uma garota
morena em um "mundo branco". Se pudermos, será ótimo
mostrar sua ascensão na estrutura corporativa, de assistente
a chefe."
Ainda não há previsão de exibição da série no Brasil.
O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da
Sony Pictures Television International
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