São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Betty, a Feia, embarca no "sonho americano"

Série cômica baseada em novela colombiana faz sucesso ao mostrar a primeira geração de latinos nascidos nos Estados Unidos

LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Esqueça as morenas calipígias de sotaque carregado que, estrelas em seus países de origem, aportavam em Hollywood fadadas a colecionar papéis secundários e erguer o estandarte da "diversidade étnica" da qual a indústria do entretenimento norte-americana se ufana. O novo símbolo da latinidade é uma jovem desprovida de maiores atributos físicos, com o sorriso delineado por um aparelho fixo, o olhar escondido atrás de óculos fundo de garrafa e um guarda-roupa, digamos, infeliz. Ok, deixemos de lado os eufemismos: ela é Betty, a Feia.
Adaptação da novela colombiana "Yo Soy Betty, la Fea" (exibida no Brasil pela Rede TV!), "Ugly Betty", a série cômica estrelada pela personagem nos EUA, é vista semanalmente por cerca de 13 milhões de pessoas desde setembro de 2006. Produzido pela atriz mexicana Salma Hayek, o programa recebeu, há duas semanas, dois Globos de Ouro: melhor seriado cômico ou musical e melhor atriz, dado à filha de hondurenhos nascida na Califórnia America Ferrera, 22.
Em outubro passado, em uma rodada de entrevistas da qual a Folha participou, em Los Angeles, Ferrera limitou-se a reproduzir o blablablá dos estúdios ao ser indagada sobre um possível novo arquétipo latino em Hollywood -menos histriônico e caricatural. "Os latinos se infiltraram no "mainstream" e isso é bom para a diversidade étnica."
Mais realista foi a fala do criador e produtor-executivo da versão ianque, o filho de cubanos criado na Flórida Silvio Horta. "Sempre vivi na fronteira da latinidade. A primeira missão do programa é entreter, mas há, sim, o objetivo de capturar a essência do que é ser a primeira geração de latinos nascidos nos EUA."
Uma turma que fala inglês sem sotaque, busca vagas no setor formal do mercado de trabalho e se sente tão americana quanto qualquer caubói texano, sem, para isso, renegar a ascendência. "Há [na série] detalhes que remetem ao mundo latino, como a participação da [estrela das novelas hispânicas] Lupita Ferrer no programa a que a família de Betty assiste no primeiro episódio", contou Hayek, que disse ter levado sete anos para emplacar uma atração latina na TV norte-americana.

Aura kitsch
Na história, o humor surge dos perrengues que Betty enfrenta no dia-a-dia como assistente do editor de uma revista de moda nova-iorquina e da aura kitsch de sua casa. É nesse núcleo doméstico que está também a porção "séria" da trama: o patriarca Ignacio (Tony Plana) é um imigrante ilegal que, a certa altura, tem que levantar US$ 20 mil para evitar a deportação.
O ator cubano celebra a chance de abordar o tema, mas diz que ainda há um longo caminho a percorrer. "Somos 30% da população [dos EUA], mas só estamos representados em 3% ou 4% dos personagens televisivos. Betty é uma garota morena em um "mundo branco". Se pudermos, será ótimo mostrar sua ascensão na estrutura corporativa, de assistente a chefe."
Ainda não há previsão de exibição da série no Brasil.


O repórter LUCAS NEVES viajou a convite da Sony Pictures Television International


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