São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIA ABRAMO

"Vidas Opostas" encara a besta nos olhos


A trama deu um passo de ousadia necessário, mais do que tem tentado a concorrência

A VIOLÊNCIA costuma aparecer nas novelas de braço dado com a hipocrisia: seja porque se tornou commodity fácil para atrair audiência, seja porque é quase sempre atribuída a um "outro" sem nome.
No primeiro caso, tenta-se um realismo de conveniência, travestindo de "flagrante" da vida social o que tem simplesmente a intenção de provocar o gozo do espectador. No segundo, as mazelas sociais entram como elementos perturbadores do sacrossanto bem-estar dos ricos e remediados da ficção.
Disfarçada, distanciada, é rara a obra de ficção de TV que tente olhar mais diretamente para a besta. "Vidas Opostas", a novela das 21h30 da Record, tem se constituído como exceção.
A narrativa se funda diretamente nas relações violentas entre bandidos e polícia, entre ricos e pobres, entre homens e mulheres.
Ainda que a convenção melodramática se imponha na história de amor central -há uma mocinha pobre e batalhadora que se apaixona pelo mocinho rico e generoso, paixão perturbada pelos tropeços de origem da mocinha-, o cunho mais contemporâneo, menos enfeitado, acaba por se impor.
"Polícia e bandido são farinha do mesmo saco", diz a mãe de Joana, a heroína assediada pelo ex-namorado traficante. O mote é simples, mas o roteiro consegue desdobrá-lo com inventividade e (alguns) diálogos surpreendentemente bem-feitos.
"Vidas Opostas" deu um passo de ousadia necessário. Faltam muitos outros -mais apuro na produção, menos clichês de direção, elenco mais homogêneo-, mas já é mais do que a concorrência tem tentado.
 
É curioso, muito curioso, o funcionamento do "demi-monde" das celebridades. Em entrevista exibida na última quarta-feira, Luciana Gimenez e Ronaldo Esper falaram com muito desprezo sobre a "imprensa", acusando jornais e sites noticiosos de "inverdades" sobre o caso da prisão do estilista.
Diante das supostas "inverdades", tudo o que a dupla produziu foi uma série de declarações, seja pelo empenho de Esper em fazer crer uma versão, digamos, pessoal do episódio, seja pela pouca disposição jornalística do programa de Gimenez (alguém lá ouviu falar em ouvir o "outro lado"?) em cruzar informações. Claro, isso já seria fazer jornalismo, o que realmente não interessa ao mundo do entretenimento. Afinal, procurar a verdade factual colocaria o espetáculo em risco. E esse pecado o "demi-monde" não comete.


Texto Anterior: Betty, a Feia, embarca no "sonho americano"
Próximo Texto: Crítica: Jackson refilma um mito em "King Kong"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.