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BIA ABRAMO
"Vidas Opostas" encara a besta nos olhos
A trama deu um passo de ousadia necessário, mais do que tem tentado a concorrência
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A VIOLÊNCIA costuma aparecer
nas novelas de braço dado
com a hipocrisia: seja porque
se tornou commodity fácil para
atrair audiência, seja porque é
quase sempre atribuída a um "outro" sem nome.
No primeiro caso, tenta-se um
realismo de conveniência, travestindo de "flagrante" da vida social o que
tem simplesmente a intenção de
provocar o gozo do espectador. No
segundo, as mazelas sociais entram
como elementos perturbadores do
sacrossanto bem-estar dos ricos e
remediados da ficção.
Disfarçada, distanciada, é rara a
obra de ficção de TV que tente olhar
mais diretamente para a besta. "Vidas Opostas", a novela das 21h30
da Record, tem se constituído como
exceção.
A narrativa se funda diretamente
nas relações violentas entre bandidos e polícia, entre ricos e pobres,
entre homens e mulheres.
Ainda que a convenção melodramática se imponha na história de
amor central -há uma mocinha pobre e batalhadora que se apaixona
pelo mocinho rico e generoso, paixão perturbada pelos tropeços de
origem da mocinha-, o cunho mais
contemporâneo, menos enfeitado,
acaba por se impor.
"Polícia e bandido são farinha do
mesmo saco", diz a mãe de Joana, a
heroína assediada pelo ex-namorado traficante. O mote é simples, mas
o roteiro consegue desdobrá-lo com
inventividade e (alguns) diálogos
surpreendentemente bem-feitos.
"Vidas Opostas" deu um passo de
ousadia necessário. Faltam muitos
outros -mais apuro na produção,
menos clichês de direção, elenco
mais homogêneo-, mas já é mais do
que a concorrência tem tentado.
É curioso, muito curioso, o funcionamento do "demi-monde" das celebridades. Em entrevista exibida na
última quarta-feira, Luciana Gimenez e Ronaldo Esper falaram com
muito desprezo sobre a "imprensa",
acusando jornais e sites noticiosos
de "inverdades" sobre o caso da prisão do estilista.
Diante das supostas "inverdades",
tudo o que a dupla produziu foi uma
série de declarações, seja pelo empenho de Esper em fazer crer uma versão, digamos, pessoal do episódio,
seja pela pouca disposição jornalística do programa de Gimenez (alguém
lá ouviu falar em ouvir o "outro lado"?) em cruzar informações. Claro,
isso já seria fazer jornalismo, o que
realmente não interessa ao mundo
do entretenimento. Afinal, procurar
a verdade factual colocaria o espetáculo em risco. E esse pecado o "demi-monde" não comete.
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