São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Morre nos EUA o escritor John Updike, 76

Autor da série "Coelho" e de "As Bruxas de Eastwick", que visitou o Brasil nos anos 90, tinha câncer de pulmão

Admirador de Machado de Assis e Rubem Fonseca, o romancista era conhecido por retratar a classe média norte-americana

DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor norte-americano John Updike morreu ontem, aos 76 anos, de câncer de pulmão, em Massachusetts, nos EUA. Um dos principais autores de língua inglesa, Updike ficou célebre pela série de livros "Coelho" e pelo romance "As Bruxas de Eastwick", levado ao cinema em 1987, com Jack Nicholson como protagonista.
Vencedor de dois prêmios Pulitzer e de dois National Book Awards -os principais dos EUA-, também era recorrente candidato ao Nobel. No ano passado, foi convidado para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, mas não respondeu à proposta.
A notícia da morte foi dada por Nicholas Latimer, seu editor na Alfred A. Knopf: "Ele era um de nossos grandes escritores e fará muita falta".
Autor produtivo, Updike deixa uma longa lista de mais de 50 títulos, ao longo de uma carreira iniciada na década de 50.
Segundo a crítica literária do jornal "The New York Times", Michiko Kakutani, os romances de Updike eram "variados e ambiciosos" e definiam "de modo lírico as alegrias e arrependimentos da classe média norte-americana".
Entre seus principais temas estavam o sexo e angústias espirituais e morais. Updike dizia que seu assunto, essencialmente, "era a classe média protestante norte-americana", bem retratada na série composta pelos livros "Coelho Cai", "Coelho Corre", "Coelho Cresce" e "Coelho em Crise".
O professor de teoria literária da Unicamp Eric Sabinson concorda: "Foi um grande observador do comportamento do norte-americano médio. Além disso, era um estilista, com bastante senso de humor, e um bom crítico de arte".

No Brasil
O escritor esteve no Brasil em março de 1992, para lançar quatro títulos da série "Coelho". Na ocasião, realizou o seu desejo de ver a constelação do Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro, e encontrou-se com autores brasileiros.
Entre eles, estava o gaúcho Moacyr Scliar: "Na literatura como na vida real, era um tipo afetivo, de uma empatia notável que lhe permitiu ser intérprete da sociedade americana e atingir um grande público".
Um de seus compromissos em São Paulo foi uma palestra no auditório da Folha, em que analisou a literatura brasileira, elogiando Machado de Assis e Euclydes da Cunha.
Sobre o primeiro, Updike disse que "foi certamente um mestre", "tinha um tom leve e delicado", e que havia lido "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "Dom Casmurro".
Citou, ainda, entre suas preferências, Clarice Lispector e Rubem Fonseca. Além de divulgar seus livros, Updike visitou cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto. Um dos resultados da viagem foi o romance "Brazil", de 1994.
O editor de sua obra no Brasil, Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, disse que Updike "era um homem alegre e doce, e como escritor tinha uma técnica incrível".

Bruxasm
A editora vai publicar, em 2010, uma edição de bolso de "As Bruxas de Eastwick" e, em 2011, lançará o inédito "As Viúvas de Eastwick", de 2008.
Updike nasceu em 18 de março de 1932, em Reading, na Pensilvânia, e estudou inglês em Harvard e arte em Oxford, no Reino Unido. Ele se casou duas vezes e teve quatro filhos. Nos anos 50, o escritor entrou para o time de colaboradores da revista "New Yorker", na qual publicou poemas, contos e ensaios. Em 1958, foi publicado seu primeiro livro, "The Carpentered Hen and Other Tame Creatures", de poesias.


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