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análise
Foi popular e prolífico, mas não brilhante
MARCOS STRECKER
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS
Com a morte de John Updike, sai de cena um dos
maiores nomes da literatura
americana contemporânea.
Era um dos mais prolíficos,
populares, versáteis e premiados. Mas nem por isso
era brilhante.
Updike foi o grande retratista da classe média americana -no mau sentido. Mostrava a consciência dos subúrbios brancos com alguma
ambição -estilística e formal-, mas seus livros se assemelhavam a crônicas despretensiosas.
É o caso da série Coelho
("Coelho Corre", "Coelho em
Crise", "Coelho Cresce" e
"Coelho Cai"). Essa rapsódia
rasa da sociedade americana
no pós-guerra podia, é certo,
afagar uma certa inquietação
da geração "baby boom". Reproduzia os ecos da contracultura, flertava com a inquietação dos 60. Mas, no
fundo, fazia a apologia do establishment.
Esse diálogo fácil com o
senso comum explica em
parte seu enorme sucesso de
vendas. Era best-seller recorrente e conseguia um certo prestígio, que lhe valeu as
principais distinções literárias americanas -dois Prêmios Pulitzers e dois National Book Award.
Nem por isso convencia a
crítica americana e a europeia como um todo. Norman
Mailer, um dos pais do "new
journalism", era um de seus
grandes detratores.
Alegorias frágeis
Suas alegorias eram frágeis
ou francamente sem graça. É
o caso de "Brazil", que procurou inspirar-se numa visão-clichê do país para tratar da
utopia da reconciliação social e racial. Em "Terrorista",
traçou um retrato superficial
dos EUA pós-11 de Setembro
pelo olhar de um jovem que
se vê confrontado entre dois
mentores antípodas. Foi um
dos grandes fracassos nesse
quase subgênero literário
que tentou compreender os
atentados pelo olhar perplexo americano.
Uma de suas obras mais
conhecidas, "As Bruxas de
Eastwick", é um bom exemplo do abuso na procura do
erotismo fácil pelo olhar suburbano, no sentido americano. Era um retratista do
cotidiano e das miudezas.
Mas era um resenhista
atualizado e respeitado que,
como o sul-africano J.M.
Coetzee, soube transitar entre a produção crítica e ficcional com elegância e acuidade. Escrevia com frequência, por exemplo, para a
"New Yorker", a mais prestigiosa revista literária americana. Sua série de ensaios,
contos e poemas compõem
um resumo do pensamento
intelectual americano dos
últimos 50 anos.
Autor competente, Updike
não tinha porém uma estatura autoral que se igualasse à
de mestres como Philip Roth
ou Cormac McCarthy. Esses,
ao lado do arredio Thomas
Pynchon e do irregular Don
DeLillo fazem da literatura
americana um celeiro da melhor produção romanesca
contemporânea, juntamente
com a britânica.
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