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ERUDITO
Orquestra extinta pela Fundação Padre Anchieta teve sua última apresentação ontem, no Sesc Belenzinho, em SP
Com casa lotada, Sinfonia Cultura faz seu concerto final
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Muito obrigado e até o próximo concerto." Após quase cinco
minutos de aplausos, o maestro
Lutero Rodrigues encerrou com
tom esperançoso a apresentação
da extinta Sinfonia Cultura, ontem no Sesc Belenzinho, região
leste da cidade de São Paulo.
Os músicos realizaram um concerto de agradecimento ao público ontem pela manhã. Desde
1999, a orquestra realizava apresentações aos domingos no teatro
da unidade do Sesc.
A Fundação Padre Anchieta,
que também administra a TV
Cultura, decidiu acabar com a
Sinfonia Cultura por falta de recursos. Neste ano, segundo a fundação, o orçamento necessário seria de R$ 3,2 milhões.
Agora, há uma mobilização para encontrar um novo mantenedor para a orquestra, provavelmente uma empresa privada.
"Nós não queríamos que hoje
fosse uma manifestação política,
está na hora de pensar no futuro",
diz o maestro Lutero.
"É muito importante para a região, isso é algo que não existe na
zona leste", afirma Danilo Santos
de Miranda, diretor do Sesc-SP,
que esteve no concerto de ontem.
Ele não descartou que a entidade
continue a ceder espaço para a orquestra, desde que haja o suporte
de outros apoiadores.
Nos cinco anos em que tocou no
local, a Sinfonia Cultura arrebanhou fãs das redondezas e de outras regiões da cidade. Ontem, o
clima entre seus admiradores era
de pesar.
Ao chegar, o público era convidado a participar do abaixo-assinado pedindo a manutenção do
grupo, organizado pelos próprios
ouvintes. O teatro, com capacidade para 300 espectadores, ganhou
50 cadeiras extras e algumas pessoas assistiram em pé ao concerto
de 1h30.
"A gente não veio para se despedir, mas para dar uma força para
eles ficarem", disse, entre lágrimas, Kioko Miragliotta, 60, pouco
antes da apresentação.
Ao lado do marido, Calogero,
68, Kioko carregava um ramalhete de flores para entregar a Lutero,
que foi professor de seu filho,
também maestro.
"O maior sonho de Deus é que
as pessoas se comuniquem, e a
música é isso, é o sonho do nosso
Pai", afirmou Calogero, bastante
emocionado.
"Aqui, houve a divulgação da
música brasileira clássica, um trabalho que em nenhum outro lugar foi feito", elogiou.
Composições nacionais
Na despedida, não faltaram canções brasileiras -de Carlos Gomes (1836-96) a compositores
contemporâneos, como Villani
Côrtes. O concerto teve a participação das cantoras Luciana Bueno e Céline Imbert, que subiram
ao palco sem cobrar cachê, assim
como os demais músicos.
"Não tenho formação musical.
Tudo o que sei, foi através dos
concertos, que são muito didáticos", contou a aposentada Léa
Márcia de Abreu Silva, 53, freqüentadora assídua.
Moradora da região, Léa aprendeu a gostar de música clássica assistindo à Sinfonia Cultura.
"Antes não identificava nem o
som dos instrumentos. Agora, assino a revista "Concerto" e me
atrevi até a fazer uma assinatura
da Sala São Paulo", contou.
Para presentear o maestro, Léa
organizou uma caixa com todos
os programas que guardou nos
anos em que acompanhou a orquestra. "Quero que fique com
ele, tudo o que aprendi com os
músicos já está comigo."
"Depois que comecei a vir, as
minhas segundas-feiras mudaram. A semana tinha outro sabor.
Minha alma gosta disso, vou sentir muita falta", lamentou Léa.
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